E daqui a 100 anos, como será a construção?

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O início de um novo ano é um típico momento de reflexão, sobre tudo - convida à revisão daquilo que marcou o ano anterior e à antevisão das tendências para o novo que começa. Fala-se sobre a forma como a pandemia afetou - ou, em alguns casos, impulsionou - as empresas, reflete-se sobre os próximos passos e abordam-se as linhas estratégias que cada setor irá adotar. No caso da Construção, muito se tem falado sobre as tendências previstas para 2022, com a descentralização e a sustentabilidade, ambas muito na ordem do dia. Eu julgo, ainda assim, que podemos ir um passo mais além, fazer quase "futurologia" e responder à pergunta: e daqui a 100 anos, como será a Construção?

Não há nada que se associe mais ao futuro do que a tecnologia - e é muito por aqui que a Construção vai evoluir. Apesar da resistência típica entre estas duas dimensões, a transição digital começa a manifestar-se no setor e, quando se consolidar, ganharemos novos horizontes. Olhemos, primeiramente, para o tipo de casas que se poderão passar a construir. O que observamos hoje são já "casas inteligentes". No futuro, não tenho dúvidas de que o serão ainda mais. As funções que já têm irão sofrer uma expansão e as famílias vão conseguir ter, numa só habitação, tudo aquilo de que necessitam - e, se não for tudo, será algo muito próximo disso. Uma casa do futuro é uma casa simultaneamente ecológica e tecnológica, onde, por um lado, tudo está ligado em rede e, por outro, a gestão de consumo energético e de água, feito pela própria casa será também mais ponderado e, claro, sustentável.

No ponto de vista de processos construtivos, também haverá uma evolução. Se, hoje, já vemos a construção industrializada a começar a marcar a sua presença, no futuro, esta será uma realidade assente, pois estamos a falar de um método que nos traz claras vantagens face ao tradicional. O tempo utilizado no processo é menor, o gasto com mão-de-obra também e a gestão de materiais é mais inteligente.

Este ponto leva-me a uma outra tendência que irá, certamente, continuar a marcar a Construção e que, daqui a 100 anos, terá de existir: a sustentabilidade. Numa altura em que os recursos são cada vez mais escassos, têm de surgir soluções. Mais uma vez, a tecnologia e a inovação irão permitir que caminhemos no sentido da redução da pegada ecológica de um setor que, tão regularmente, é associado à resistência e à mudança. Vemos já os players a reunirem-se para mudar o rumo da fileira e, nesse espaço de tempo, os resultados poderão estar à vista.

No entanto, penso que os custos associados à construção vão aumentar cada vez mais. As matérias-primas naturais, como a madeira e a pedra, vão ser consideradas um luxo - aliás, já o são - e, portanto, será desafiante dar a todos as melhores soluções para o que procuram. Por outro lado, acredito que irá surgir, daqui, uma aposta massiva na reabilitação. As famílias precisam disso e o planeta também.

É difícil prever, de facto, o que irá acontecer daqui a 100 anos. Mas, se olharmos para o caminho que o setor está a adotar hoje, não tenho dúvidas de que aquilo que nos espera, e às próximas gerações, será algo ainda mais capaz de responder aos novos desafios. Aos poucos e poucos, vamos construindo o nosso futuro.

Nuno Garcia, diretor geral da GesConsult e player especializado na gestão e fiscalização de obras

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