É isto que os miúdos andam a fazer no YouTube

Quando se soube que um sueco de 24 anos fez 6,3 milhões de euros no ano passado à conta de vídeos no YouTube, muita gente expressou a sua indignação online.
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Felix Kjellberg, mais conhecido como PewDiePie, conseguiu tal encaixe porque é o Youtuber número um: tem 38,2 milhões de subscritores, mais de 2400 vídeos publicados e 9,5 mil milhões de visualizações acumuladas. O que é que ele faz? Filma-se a jogar videojogos.

Tal como ele, há mais 34 canais no YouTube acima dos 10 milhões de subscritores, o que lhes garante uma boa rentabilidade em publicidade e abre todas as oportunidades de capitalização possíveis, desde merchandising a filmes, livros, patrocínios. São as novas estrelas, as novas celebridades, e encontram-se todos os anos em eventos como a VidCon (anual) e a Playlist Live (semi-anual).

A VidCon é a maior convenção de vídeo online e, no final da semana passada, levou 21 mil pessoas a Anaheim, Califórnia. A primeira coisa que percebi quando cheguei ao evento é que a maioria dos participantes era bem mais jovem do que eu esperava. Havia seguramente milhares menores de idade, muitos acompanhados pelos pais, e muito mais raparigas que rapazes. O meu interesse na convenção era sobretudo pelo negócio - quem são, quanto fazem, como fazem dinheiro estas celebridades do pequeno ecrã. E acabei surpreendida pela qualidade destes miúdos, pela perseverança e inovação, pela capacidade de se exporem num meio que tem tanto de excitante como de cruel.

Sim, há os canais de videojogos e de maquilhagem, que à primeira vista parecem inúteis para lá do objectivo primário de entretenimento e dicas. Mas em torno destes Youtubers nascem comunidades, em que os membros se apoiam uns aos outros. Nascem também os exércitos de trolls, os valentes que muitas vezes não percebem o que separa a crítica do abuso. Entre o vídeo do verniz e a partida de mau gosto, aparece uma conversa sobre como alguém conseguiu aceitar a sua identidade racial, ou de como a orientação sexual não deve ser um obstáculo para sonhos futuros. Entre o insulto racista e a gozação, nascem movimentos que apontam e rejeitam o assédio.

Assisti a várias sessões por Youtubers de 15, 16 anos com histórias muito interessantes para contar, conscientes do impacto que têm nos seus seguidores também adolescentes e determinados a fazer algo de bom com a fama recente. Criadores jovens como Nathan Zed, Amanda Steele ou Rebecca Black, outros mais velhos como Akilah Hughes, Laci Green e Justine Ezarik, falaram de racismo, beleza, aceitação, discriminação, sucesso, falhanço, estratégias, resiliência. Um dos painéis mais marcantes foi o da orientação sexual, que reuniu Tyler Oakley (gay), Ingrid Nilsen, Ello Steph e Hanna Hart (lésbicas), Miles Jai (gay, identifica-se como homem, veste-se de forma feminina) e R.J Aguiar (bisexual). O que eles e outros YouTubers da comunidade LGBT fazem é uma lição para os média tradicionais, que sofrem de uma falta de diversidade gritante e usam filtros enviesados na abordagem de problemas como discriminação, violência e objecções religiosas. O que explica que sejam os Youtubers mais mainstream os que conseguem os melhores apoios, patrocínios e visibilidade, porque as marcas funcionam dessa forma. Mas entre os cabelos azuis, as selfies e os vlogs, esta VidCon mostrou o melhor lado das novas gerações - sem filtro.

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