Dizer que a China é um grande mercado é constatar um facto inconsequente. Dá vontade de responder: "É, sim, e daí? Não é para o teu bico. Nem para o meu". O deslumbramento ocidental quanto às potencialidades do mercado chinês já vem do século passado. Na década de 1990, o investimento estrangeiro direto no império vermelho cresceu mais de 1500%, de $19B (em 1990) para $300B (em 1999). Não faltou, porém, quem tivesse perdido carradas de dinheiro. Outros, até o ganharam, mas não conseguiram tirá-lo de lá. O que vai dar ao mesmo.
Ora, porquê tanta dificuldade? As razões são muitas. Além das barreiras linguísticas e culturais, deparamo-nos com níveis de regulamentação e controle que não lembram nem ao Costa - quer dizer, talvez lembrem (se continuarem a votar nele...). Conseguir uma licença ou autorização, seja para o que for, é impossível sem penetrar nos meandros da burocracia, sendo esta uma extensão do Partido Comunista. Quando Soros diz que as empresas chinesas são instrumentos do Estado, do Partido, ou de Xi Jinping, está a falar a verdade - tal como Xi fala a verdade sobre Soros. Aliás, a única coisa em que ambos são honestos é no que dizem um do outro.
A estes obstáculos acrescenta-se a concorrência local, feita de empresas que, mais que protegidas, são o próprio sistema. Trata-se da imagem perfeita do capitalismo enquanto instrumento da revolução comunista. É por isso que a China é tão menos atrativa do que aparenta. Quando a economia serve a política, o único resultado que pode obter é político, não económico.
Recentemente, uma das empresas ocidentais a sucumbir na China foi o Carrefour que, após acumular quase $300M de perdas, em três anos, foi vendida à Suning.com. Mas, nem por isso o negócio corre melhor agora, mesmo em mãos chinesas. Os supermercados estão vazios. E por mais desculpas que se deem, nenhuma cola. Foi a covid? Todo o mundo o teve. É o takeaway? Em Vila do Bispo, também se arranja. É o e-Commerce? Poupem-me. Mas, se querem realmente saber, eu digo (talvez contra o próprio James Carville, que cunhou a expressão originária): É o comunismo, estúpido!
João AB da Silva, investidor