E se o seu o empregador o ensinasse a poupar e investir?

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A ideia de ter o próprio empregador a assumir um papel ativo no bem-estar financeiro dos seus colaboradores, que vá além de pagar o salário ou de oferecer outros benefícios financeiros, pode parecer assustadora ou incómoda. Mas, é necessária. A questão é pertinente: se o empregador é, à partida, a principal fonte de rendimentos e onde o trabalhador mais dedica as suas horas diárias, não deveria ter também uma responsabilidade de apoiar os seus colaboradores na construção do seu futuro? Especialmente, quando a maioria dos portugueses entra no mercado de trabalho sem noções básicas de gestão financeira. Mas como pode, então, o empregador ter um papel ativo nesta educação financeira?

Atenção, não falo de serem conselheiros de investimentos, já que os melhores investimentos dependerão sempre da capacidade e do perfil de cada um. Falo de apoiar o colaborador na compreensão do rendimento total obtido como fruto do seu trabalho e de como o gerir ao longo do ano, de forma a conseguir pagar todas as despesas mensais e anuais, poupar, garantir um fundo de reserva para emergências e ainda investir com vista ao longo prazo, de forma a assegurar uma reforma que consiga suportar um estilo de vida confortável.

Todos estes conceitos e práticas deveriam ser naturais a todos nós e deveriam ser-nos impingidos desde jovens, já que o nosso futuro depende disso. No entanto, não são e, de forma geral, só despertamos para estes temas numa fase já demasiado avançada da nossa vida. É por isso que, segundo o Banco Central Europeu, os portugueses são os que têm menos literacia financeira na União Europeia. É também por isso que é tão importante que os empregadores assumam um papel de promotores do desenvolvimento pessoal dos seus colaboradores.

Como podem então fazer isto sem serem demasiado intrusivos para os trabalhadores ou colocarem-se numa posição que os possa fragilizar? Através de benefícios, como a disponibilização de serviços de educação financeira, onde coaches devidamente preparados podem, de forma individual e confidencial, acompanhar cada trabalhador no seu caminho de desenvolvimento. A mudança para uma modalidade de salário flexível, em alternativa ao pagamento mensal, poderá ainda ajudar alguns colaboradores a fazerem uma melhor gestão dos seus rendimentos ao longo do mês, especialmente, se já estiverem a usufruir deste acompanhamento especializado.

O salário médio em Portugal reflete a dureza da realidade nacional: os portugueses têm baixos rendimentos e, consequentemente, pouco poder de compra e baixa capacidade de poupança. De forma geral, apresentam também um perfil de investidor mais conservador. Esta combinação "curto-prazista" põe em causa o seu futuro. Ao mesmo tempo, muitas empresas afirmam não conseguir subir os salários por diversos motivos, desde os custos fixos aos elevados impostos, pelo que a solução mais sustentável para os trabalhadores passa por atuarem sobre os seus rendimentos. E isso exige literacia financeira. Se os empregadores assumirem aí um papel decisivo, poderão ter um verdadeiro impacto no presente e no futuro dos seus trabalhadores, assim como ter equipas mais dedicadas, capazes e produtivas.

Nuno Pereira, CEO da Paynest

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