Temos provavelmente o melhor país irmão do mundo. Ostenta as mais belas paisagens, tanto de praia e mar quanto de florestas, selvas, pantanais, rios e lagos. Com uma flora e fauna insubstituíveis, é nada menos que o campeão da biodiversidade. Além disso, possui, refina e processa matérias-primas de incontestável valor, desde petróleo, carvão, ferro, cobre, alumínio, níquel e nióbio, a soja, café, açúcar, cacau, algodão e frutas.
Com efeito, o Brasil não é somente rico em natureza, mas por natureza. À parte as dádivas da providência, por todos reconhecidas, o leque cultural que constitui a sua identidade, ou identidades, afirma-se e projeta-se globalmente pela qualidade que o caracteriza. A música popular brasileira (folclore, samba, bossa-nova) não é apenas interessante - como a de qualquer outro qualquer país ou nação - mas de tal forma rica e complexa que facilmente se refina em música erudita ou jazz. Basta ouvir as bachianas de Villa-Lobos[1] ou o Jazz Samba de Stan Getz para desfazer quaisquer dúvidas a este respeito. Quanto à literatura, também não nos faria mal estarmos cientes da dimensão mundial que merecem, ou pelo menos deveriam merecer, poetas como Gonçalves Dias, Manuel Bandeira e Drummond de Andrade, ou novelistas como Machado de Assis e Graciliano Ramos. Infelizmente, nem todos fazem parte do nosso Plano Nacional de Leitura.
Não faltam, portanto, razões históricas e culturais para reforçar os laços de fraternidade entre portugueses e brasileiros. Mas hoje, mais que nunca, acrescem outros motivos para o fazer, em particular, de cariz económico e empresarial. Ainda recentemente, Roger Laughlin - fundador da Kavak, unicórnio mexicano de compra e venda de carros usados - expressava bem o que anda na mente dos investidores, nos tempos que correm, ao dizer que o Brasil é o mercado em que as "coisas estão a acontecer". Deste modo, a única forma de uma empresa ter um papel relevante na América Latina é marcando uma forte presença nele.
Claro está, porém, que falar genericamente do Brasil não basta. Trata-se do 5º maior país do mundo e o maior da América Latina, com uma área geográfica de 8.5 milhões de quilómetros quadrados. Em população, ocupa o 6º lugar, atrás do Paquistão, com 212 milhões de habitantes, distribuídos ao longo das suas 27 Unidades Federativas. Assim, entre as mencionadas unidades, pretendo destacar as que mais interesse têm despertado nos investidores, empresas e profissionais altamente qualificados, ao redor do globo, pelo seu potencial e dimensão económica, sem esquecer as respetivas cidades de referência.
Em primeiro lugar, o Estado de São Paulo. Não será preciso justificar a sua primazia. Tem uma população equivalente a Espanha, cerca de 46 milhões de habitantes, sendo a capital que o designa o 4º município mais populoso da terra (22 milhões). É também a 21ª maior economia mundial, com um PIB de 426 biliões de dólares (2018), liderando globalmente a produção de sumo de laranja, açúcar e etanol. Tem 38 empresas entre as 100 maiores do país, incluindo a JBS e a AMBEV, na área dos alimentos e bebidas, o Grupo Pão de Açúcar e a Via, no retalho, e a LATAM Airlines, nos transportes e logística. Sediada na cidade de S. Paulo, a B3 Bolsa do Brasil está entre as 20 maiores bolsas de valores internacionais, sendo a 5ª maior da América, com um volume mensal de transações que ascende aos 80 biliões de dólares e um índice (Bovespa) a crescer perto dos 20% no último ano.
Em segundo, o Estado do Rio de Janeiro. Tem 17.4 milhões de habitantes, superando a população da Holanda, e com 6.7 milhões a residir na capital. É no Rio que estão sediadas 26 empresas do top 100 brasileiro, entre as quais figuram os 3 principais gigantes do país:
- Petrobras, com uma receita de 84,6 biliões, em 2018, a qual baixou para 53,6 biliões em 2020, já que tem decrescido acentuadamente desde 2014, e com uma dívida socialista de 282% (2019);
- Vibra Energia, a maior distribuidora e comercializadora de derivados de petróleo e biocombustíveis da América Latina;
No seu conjunto, a Unidade Federativa do Rio de Janeiro somou, em 2018, um PIB de 146 biliões de dólares, cerca de um terço do PIB de São Paulo, sendo 58% proveniente apenas da Petrobras. Ainda assim, é o 2º maior do país.
Em terceiro, o Estado de Minas Gerais, com uma população de 21.4 milhões de habitantes (comparável à do Sri Lanka), bem distribuída entre os principais municípios, tendo como capital Belo Horizonte. Trata-se de uma Unidade Federativa que gira em torno da indústria metalúrgica e siderúrgica. No top 100 das empresas brasileiras, entre as 7 sediadas neste Estado, 4 dedicam-se a esta área. Enquanto companhias locais, merecem especial destaque a Cemig, a Usiminas e a CBMM. Quanto ao PIB, segundo os dados de 2018, Minas Gerais produziu 118 biliões de dólares. Isto é, menos 308 biliões que São Paulo e menos 28 biliões que o Rio de Janeiro - ou, noutro prisma, mais 58.6 biliões que este último Estado, se não contarmos com o impacto da Petrobras.
Naturalmente, há várias outras Unidades Federativas que valeria a pena mencionar, incluindo as respetivas capitais. Tais como o Paraná (Curitiba é, hoje, uma cidade-modelo no âmbito do ordenamento do território), Rio Grande do Sul (Porto Alegre) e até mesmo Santa Catarina (Florianópolis). Todavia, na disputa por um lugar cimeiro entre os principais motores da economia brasileira estão ainda a um passo do pódio. Apesar de, juntas, somarem aproximadamente 95% do PIB Português (2018).
Quanto a nós, felizmente, temos um passado notável, com uma grandeza inversamente proporcional ao território que, na Europa, ocupamos. A nossa história abre-nos portas inimagináveis, em busca de oportunidades globais, e não nos falta talento para aproveitá-las. O que nos falta é dimensão. Também por isso digo que as Descobertas nos deram o melhor país irmão do mundo, e que em muitos aspetos precisa igualmente de nós - por exemplo, na área da construção e infraestruturas; ou será que queremos entregar tudo de bandeja à espanhola Ferrovial, que entrou pela América Latina e já vai no Texas?
Pensemos, então, num livrinho para a viagem, talvez Alguma Poesia (1930), de Drummond de Andrade, para desfrutar ao som do violão. E não nos preocupemos sequer com levar uma bucha que eles lá também têm feijoada.
[1] Não deixa de ser emocionante desfrutar de uma suíte para violoncelos cantada em português
Economista e Investidor