É um perigo para o PS aparecer à frente nas sondagens!

António Costa num congresso do PS
António Costa num congresso do PSOrlando Almeida/Global Imagens
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Há uma enorme diferença entre a opinião pública e a opinião publicada, cada vez mais parece que vivemos em países muito diferentes entre quem vota e quem faz opinião e a publica na comunicação social.

Antigamente, as pessoas que publicavam opinião eram representantes, de alguma forma, das diferentes tendências da sociedade. Hoje são representantes de uma selecção feita pelas redes sociais, e dos seus algoritmos, e isso provoca um enviesamento para os extremos dos dois lados do espectro político. Sendo que, em minha opinião, nos dias de hoje existe uma maior representação de opinion makers de direita face à esquerda, mas também noutros tempos foi ao contrário; creio que possa ser reflexo de quem está no Governo e maior mobilização da sua oposição. Governar não é fácil e defender quem governa muito menos!

Se levássemos em conta a opinião publicada, o país estaria todo à direita neste momento, e o PSD deveria com facilidade obter uma maioria absoluta. Todavia, nada disso parece estar a acontecer, e o PS aparentemente está a subir em diferentes estudos eleitorais; e mais surpreendente, os sociais-democratas parecem não estar a conseguir a tracção necessária para serem o partido mais votado.

Sabemos que ainda falta muito até às eleições e ainda podem aparecer muitos esqueletos dos armários; e mais importante, a última semana de campanha é sempre fundamental no resultado final. Há uma grande fatia do eleitorado que só decide à frente do boletim de voto.

Se recordarmos, nas últimas eleições, os socialistas pareciam estar em perda e Rui Rio até insinuou que iria ensinar a António Costa a humildade de perder eleições. As sondagens davam um empate técnico, mas os últimos dias de campanha acabaram por mudar totalmente as intenções de voto.

A esquerda mobilizou-se e fez voto útil no PS contra uma eventual cooperação pós-eleitoral do Chega com o PSD... Já sabemos, resultou numa maioria absoluta socialista.

Mas o PS também já perdeu as últimas eleições autárquicas, em Lisboa, por falta de mobilização, tendo Carlos Moedas conseguido uma maior tracção entre os seus eleitores potenciais para irem votar.

Qual o maior perigo de que o PS sofre neste momento?

O maior perigo que os socialistas têm pela frente é o de aparecerem muito destacados nas sondagens, o potencial eleitor das esquerdas não quer uma coligação à direita, mas também não quer compensar o Partido Socialista pelas recentes confusões do último ano e meio de mandato. Estão cansados de bofetadas em ministérios! Danças de secretários de Estado. E a famosa frase de «o conhecimento vale ouro» não tem correspondência evidente para «os livros guardam dinheiro»!

Se o potencial eleitor de esquerda, e tendencialmente socialista, achar que pode ficar em casa porque «isto contra o Montenegro já está ganho!»; ou comovidamente decidir dar um voto aos cãezinhos, ou optar por ajudar Rui Tavares a ser eleito, ou manifestamente lutar contra o desaparecimento do PCP, ou aderir à simpatia de Mariana... o PS poderá ainda vir a ter um sério problema!

Depois do caos, o PS terá que criar um universo tenso de incerteza e dúvida face ao futuro. Terá que prometer, mas sem abusos nem descontrolo. Terá que parecer que quer fazer coisas mas sem parecer despesista e irresponsável. E nunca, mas mesmo nunca, cantar vitória antes do tempo.

Ui, talvez sejam coisas a mais para um jovem líder, que ainda nem fez a rodagem, não vos parece?

Nota: O autor escreve segundo o Antigo Acordo Ortográfico

("Até às eleições" é o mote para uma sequência diária de artigos de opinião de Duarte Mexia, que serão publicados, precisamente, até à realização das próximas eleições Legislativas, marcadas para 10 de março.)

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