É indiscutível a relevância do papel insubstituível que os cuidadores informais têm na sociedade. Ninguém questiona que são os prestadores de uma grande maioria dos cuidados, seja a pessoas com doença crónica ou com um qualquer tipo de incapacidade, ou que este trabalho, que não é remunerado, tem um valor económico difícil de quantificar dada a sua magnitude. E ninguém questiona também a importância desta tarefa, que se assume como um dos fatores de sustentabilidade dos sistemas sociais e de saúde. No entanto, há questões associadas ao impacto associado ao desempenho destas tarefas. que se devem colocar e que têm sido ignoradas, ou pelo menos esquecidas,
É verdade que se tem falado muito sobre os apoios devidos aos cuidadores informais. Mas o que é que estes realmente precisam? De que forma se pode tornar menos onerosa a tarefa que desempenham, e não só do ponto de vista económico? Para isso, há que conhecer a realidade e o que esta mostra, refletida nos inquéritos nacionais feitos pelo Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, é que são muitas as pessoas a assumir a tarefa de cuidadores, mais do que aquilo que se estimava. E que a grande maioria se encontra numa situação de vulnerabilidade psicológica, individual e social.
Os dados mais recentes de um estudo feito pela Merck revelam que mais de seis em cada dez cuidadores informais sentem dificuldade em estar à vontade ou descontraídos; 47,7% não são capazes de rir e/ou ver o lado positivo da vida como faziam antes; 45,7% sentem-se muitas vezes ansiosos/contraídos e 37,4% não têm vontade de cuidar de si.
A maioria (83,3%) admite ter-se sentido em estado de burnout/exaustão emocional em algum momento, com 78,5% a concordarem que o seu estado de saúde mental influencia o desempenho do seu papel de cuidador informal. Ora, se este papel é essencial para a sustentabilidade do sistema de saúde, não deveríamos ter mais atenção às necessidades destes cuidadores e facilitar a tarefa que desempenham, que se substitui, tantas vezes, à dos serviços de saúde e sociais?
O mesmo estudo mostra ainda que 37,3% dizem não sentir pertença a uma comunidade. Sentem-se sozinhos, uma solidão que nos deveria envergonhar enquanto sociedade e simultaneamente nos deveria mobilizar. Num mundo onde vivemos cada vez mais tempo, é expectável que venhamos a precisar de mais apoios, resultado desse envelhecimento. E é previsível que a dependência dos cuidadores informais se venha a agudizar ainda mais. Mas se queremos ser bem cuidados, temos de cuidar bem dos cuidadores.
Sabemos também, através do inquérito da Merck, que a maioria dos cuidadores informais reconhece a necessidade de apoio psicológico, mas que são poucos os que realmente procuram e usufruem deste apoio extra, talvez por não ser de fácil acesso. A criação de uma linha de apoio é algo que veem com bons olhos e é algo que a sociedade e o Estado deveriam ver da mesma forma, dada a urgência de melhorar a vida de quem abdica de tudo para cuidar de alguém. É preciso, ou melhor, é urgente agir!
Pedro Moura, Diretor-Geral da Merck