São oito as listas que, este ano, concorrem às eleições gerais de Angola agendadas para 24 de agosto. O presidente cessante e líder do MPLA, João Lourenço, disputa a corrida com o cabeça de lista da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, apontado como o principal opositor. Quando assumiu o cargo de Presidente da República, em agosto de 2017, João Lourenço quebrou quatro décadas de liderança do entretanto falecido José Eduardo dos Santos, prometendo lutar contra a corrupção no país e controlar as contas públicas. O apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI), no valor de 4,5 mil milhões de dólares, terminou no final de 2021 com elogios da instituição ao desempenho de Angola.
Os cinco anos de mandato do ainda Presidente da República ficaram marcados pelas consequências da queda dos preços das matérias-primas em 2015 e 2016, mas também pelas pesadas dívidas do Estado ao exterior e pelo aumento galopante da inflação. "O Banco Nacional de Angola estimou que, em dezembro de 2017, o deficit da conta corrente era de 600 milhões de dólares, havia uma redução das reservas internacionais e a moeda local encontrava-se sobrevalorizada em cerca de 70", recorda ao DN/Dinheiro Vivo o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola (CCIPA). João Luís Traça diz ainda que com o programa do FMI e outras medidas "foi possível alterar o paradigma".
De facto, o cenário de recessão económica com que Angola se deparava desde 2016 - ano em que registou uma contração do PIB de 2,6% - foi invertido no final de 2021, com um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) estimado em 0,7% pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola. Ainda assim, o valor fica abaixo dos 0,9% registados em 2015.
Numa análise do FMI à economia angolana, publicada em jeito de contexto do programa de ajustamento, a excessiva dependência do setor petrolífero é apontada como uma fragilidade do país que importa corrigir "para alcançar um crescimento sustentável e inclusivo". A "diversificação económica" é imperativa, considera o organismo, que ainda assim estimou o crescimento do PIB para 2022 de cerca de 3%. A médio prazo, o crescimento pode atingir 4%, asseguram os peritos.
A recessão da economia angolana parece ser uma página virada, porém, será necessário continuar a crescer para que o PIB regresse ao pico registado em 2018, de 96 mil milhões de dólares. De acordo com o Relatório Anual do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada (CINVESTC), apresentado em junho, em Luanda, no ano passado, o PIB fixou-se em 70,5 mil milhões de dólares.
A estabilização do preço do petróleo e o aumento das exportações não-petrolíferas são apontadas como as principais razões da recuperação económica. No relatório referente a 2021, o INE atribui mesmo a variação positiva, "fundamentalmente, às atividades de Agropecuária e Silvicultura, com 5,1%; Pescas, com 46,4%; Diamantes, com 10,4%, Indústria Transformadora, com 0,6%; Eletricidade e Água, com 1,8%; Comércio, com 13,5%; Transporte e Armazenagem, com 28,9%; Correios e Telecomunicações, com 1,4%; Administração Pública, com 2,6%; e Serviços Imobiliário e Aluguer, com 3%".
Os números do CINVESTC mostram ainda que as exportações do país cresceram, em 2021, para 28 mil milhões de dólares (abaixo dos 38 mil milhões de 2019), bem como a produção interna, que subiu 40,7 para 42,5 mil milhões. A equipa liderada pelo investigador Heitor Carvalho escreve mesmo que "a produção interna não pode ficar dependente dos rendimentos petrolíferos", porque, justifica, "quando diminuem, arrastam a produção total e destroem parte significativa dos investimentos". E avisa: "Estamos hoje a viver um período em que este perigo volta a ser iminente".
Para o economista e professor António Nogueira Leite, as reformas levadas a cabo nos últimos anos por Luanda - apesar de "nem todas terem ido tão longe quanto desejável" - e a subida dos preços das matérias-primas, arrastadas pela guerra na Ucrânia, são fatores que contribuem para que o país possa crescer a curto-médio prazo. "O mais importante é que Angola possa retirar e manter mais valor dos recursos que tem além do petróleo", aponta em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo.
Igualmente fundamental, considera o economista, é evitar "o que aconteceu durante um largo período", em que "a riqueza criada era imediatamente transferida para outras localizações, em nada contribuindo para a continuação do crescimento".
Além das previsões do FMI, que apontam para um crescimento de 3% este ano, o Banco de Fomento Angola (BFA) melhorou, em maio, a estimativa de crescimento da economia angolana para até 5,7%.
Segundo a nota dos analistas, citada pela Lusa, a instituição espera "uma subida do PIB entre os 5,2% e os 5,7%, o que configuraria o ritmo de crescimento mais elevado desde 2012, quando a economia expandiu 8,5%". Em parte, este aumento apoia-se na subida da produção petrolífera, escrevem os especialistas do BFA.
Por outro lado, a aposta já em curso da Sonangol na produção de energias renováveis, como a fotovoltaica e o hidrogénio verde, com apoio em parcerias internacionais, poderá, a prazo, ajudar a reduzir a dependência do ouro negro e impulsionar a transição energética no país.
A petrolífera, cuja privatização parcial só deverá acontecer no final de 2023, terminou 2021 com um lucro 2,1 mil milhões de dólares, representando um crescimento de 152% face a 2020.