Economia escapa aos golpes da guerra e inflação. Turismo e exportações impedem queda de 0,2%

O PIB teve um crescimento nulo no segundo trimestre face aos primeiros três meses do ano e registou uma subida de 7,1%, em termos homólogos. João Duque acredita que, em 2022, o país vai atingir a meta em torno dos 6%.
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A economia portuguesa ainda não está a sentir os impactos da guerra na Ucrânia e da consequente subida dos preços, nomeadamente da energia. O Instituto Nacional de Estatística (INE) corrigiu as estimativas rápidas, publicadas no final de julho, que davam uma queda do PIB de 0,2%, no segundo trimestre face ao trimestre anterior. Agora, o gabinete de estatísticas prevê um crescimento nulo, segundo os dados divulgados ontem. Em termos homólogos, o país continua a crescer, registando uma subida do PIB de 7,1%, ainda que abaixo dos 11,8% alcançados entre janeiro e março.

"Comparando com o primeiro trimestre de 2022, o PIB registou uma taxa nula em volume, após um crescimento em cadeia de 2,5% no trimestre anterior", lê-se no relatório do INE. Em comparação com o trimestre homólogo do ano passado, as projeções apontam para uma subida de "7,1% em termos reais, verificando-se uma revisão em alta de 0,2 pontos percentuais face ao apurado na estimativa rápida do final de julho", indica o gabinete de estatísticas. Ao Dinheiro Vivo, o economista João Duque considera que esta alteração nas previsões "aumenta a confiança de que, este ano, o país vai ter uma taxa de crescimento recorde". O professor catedrático do ISEG acredita que "a economia portuguesa vai conseguir atingir, no conjunto do ano de 2022, a meta de cerca de 6% de crescimento do PIB". O Banco de Portugal estima que, este ano, o PIB cresça 6,3%. A Comissão Europeia tem uma visão mais otimista e prevê uma subida de 6,5%.

Mas o PIB só não caiu por força do aumento das exportações e dos seus valores, influenciados pela elevada inflação, e do dinamismo do turismo, agora já sem as restrições da pandemia da covid-19. Já o consumo interno abrandou consideravelmente entre abril e junho deste ano. Segundo o INE, "verificou-se uma redução significativa do contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB, no segundo trimestre, passando de 10 pontos no primeiro trimestre para 3,7 pontos". Neste âmbito, "destaca-se a desaceleração do consumo privado, que inclui as instituições sem fim lucrativo ao serviço das famílias, para uma variação homóloga de 4,2% entre abril e junho, quando no trimestre anterior o contributo tinha sido de 12,2%. De igual modo, o consumo público cresceu timidamente: subiu apenas 1,4% em termos homólogos, menos 3,4 pontos que no trimestre anterior, e o investimento abrandou, de um crescimento de 6,4% no primeiro trimestre, para 3,3%. As despesas das famílias residentes também desaceleraram em termos homólogos e até recuaram 0,3% face ao primeiro trimestre.

Em sentido inverso, e a impulsionar o crescimento da economia, "as exportações de bens e serviços em volume aceleraram significativamente no segundo trimestre, registando uma variação homóloga de 26,8%". No trimestre anterior a subida tinha sido de 18,6%. Neste campo, "as exportações de serviços continuaram a aumentar de forma significativa, com taxas de 68,4% e 65,1% nos primeiro e segundo trimestres, respetivamente, refletindo em grande parte a forte dinâmica da componente do turismo", destaca o INE.

O país acabou por beneficiar da escalada da inflação no que diz respeito às trocas comerciais. É certo que desembolsou mais dinheiro pelas compras que fez ao exterior. Contudo, vendeu mais caro os produtos e serviços que exportou, sobretudo nas componentes de serviços (onde se inclui o turismo). "O efeito da evolução dos termos de troca conjugado com o comportamento positivo em volume resultaram numa melhoria do saldo externo de bens e serviços em termos nominais, situando-se em -2,2% do PIB", aponta o INE. No trimestre anterior, o saldo externo tinha sido negativo em 3,6% do PIB, revela o relatório do gabinete de estatísticas.

Apesar das famílias e empresas já estarem a sentir o duro impacto da inflação e da crise energética, em boa medida provocadas pelo conflito ucraniano mas também pelas medidas expansionistas do Banco Central Europeu, a economia, no seu conjunto, tem demonstrado resiliência. Contudo, o pior está para vir. João Duque acredita que "os impactos da guerra e do aumento dos preços da energia e dos alimentos só se irão fazer sentir no final do ano ou no início de 2023". "Para já, as famílias ainda vão tendo algumas poupanças, mas, com a chegada do inverno, aumentam as necessidades de aquecimento e a incerteza quanto ao fornecimento do gás russo e ao comportamento da Alemanha que pode deixar de comprar aquele hidrocarboneto à Rússia podem ditar um dezembro muito duro para a economia portuguesa", segundo a análise do economista.

Trabalho melhora e dormidas abrandam em julho

A taxa de desemprego terá sido de 5,9% em julho, 0,1 pontos percentuais abaixo de junho e inferior aos 6,6% de julho de 2021, segundo dados provisórios divulgados ontem INE. Estas estatísticas reviram ainda em baixa a taxa de desemprego de junho, passando do valor provisório de 6,1% para 6%, "valor igual ao do mês anterior".

O alojamento turístico registou 8,6 milhões de dormidas em julho, mais 90,1% do que em igual período do ano passado, com os mercados externos responsáveis por 5,7 milhões e uma subida homóloga de 205,2%, segundo o INE. No entanto, julho regista um abrandamento face a junho, mês em que hóspedes e dormidas registaram aumentos de 97,6% e 110,7%, respetivamente.

Inflação desce para 9%

Segundo o INE, a inflação baixou para 9% em agosto, contra os 9,1% de julho. O instituto estima que a variação média nos últimos 12 meses seja de 5,3%, contra 4,7% do mês passado.

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