Nas duas crónicas anteriores
Hoje procuraremos responder a uma última questão que nos é feita frequentemente: Como é possível quantificar o que não é observável?
De uma forma genérica diremos que nos devemos socorrer de toda a informação disponível, tendo grande atenção à veracidade das informações recolhidas e à realidade de cada país e época. São exemplos dessas informações os resultados das actividades das polícias e as suas estimativas (ex. em relação ao tráfico de droga); a comparação de dados e seus diferenciais (ex. consumo de electricidade segundo as empresas e produção e distribuição e o seu uso pelas actidades observadas); a utilização da moeda (ex. sabendo que certas operações exigem notas de elevado valor ou que certas igualdades são inevitáveis entre variáveis "reais" e "monetárias"); os resultado de inquéritos à população, etc..
Estes eram os procedimentos habituais há umas décadas, mas que chocavam com várias dificuldades: há muitos aspectos da realidade que ficam por analisar; alguns procedimentos são muito caros ou exigem muito tempo; muitas informações são confidenciais; certas actividades têm impactos difusos; os erros de estimativa e cálculo são diversos; há uma certa subordinação epistemológica aos paradigmas científicos socialmente dominantes, etc.. A estes problemas de cálculo junta-se um outro: as técnicas dos diversos países são diferentes de um para o outro e são alteráveis no tempo, o que dificulta, ou inviabiliza, a comparabilidade dos dados no tempo e no espaço.
Este último problema seria resolvido pela utilização de um único modelo, como o método monetário (ex. MV=PQ) ou de indicador global (ex. utilização da electricidade), mas aumentava, eventualmente o erro.
Nos anos 80/90 foi descoberto o método da variável latente, possuindo rigor matemático, que consiste em calcular a economia paralela (variável latente) a partir de um conjunto de dados estatísticos que são indicadores, causas ou consequências da economia paralela. A utilização das mesmas variáveis em diversas situações torna os dados comparáveis. Daí se ter generalizado a utilização dos modelos MIMIC: a variável latente é calculada a partir de uma bateria de indicadores e causas.
Muitos problemas foram solucionados com a utilização destes modelos.
Contudo, nestes modelos há dois, eventualmente três, problemas: (a) As "causas" e as "consequências" têm de ser dados sistematicamente disponíveis estatisticamente, pelo que tendem a não englobar muita da actividade ilegal; (b) subestima outras informações que existem disponíveis, a que fizemos alusão anteriormente; (c) muitas vezes na escolha das variáveis há, implicitamente, a adopção de modelo teórico da Economia de um determinado paradigma (ex. o da "racionalidade económica", ao admitir que pagar o mínimo de impostos é uma questão de "eficiência" económica).
Por outras palavras,
Consideramos que o modelo MIMIC ao utilizar dados estatísticos disponíveis conduz essencialmente ao cálculo do que é considerado a "economia sombra": economia subterrânea e economia informal. Subestima a economia ilegal.
Carlos Pimenta, sócio fundador do Observatório de Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF)