“Há uma evolução em Portugal para produtos de valor acrescentado”

O VAMTAC, que integra a frota do Exército, é a estrela da galega Urovesa. O CEO Justo Sierra elogia o crescimento industrial e tecnológico no nosso país, onde já têm parcerias com várias empresas.
Justo Sierra, CEO da Urovesa
Justo Sierra, CEO da UrovesaFoto: Reinaldo Rodrigues
Publicado a

Como é que numa Galiza mais conhecida pelas indústrias naval e pesqueira nasceu uma das principais empresas europeias de veículos militares?

Por duas razões fundamentais. A primeira é que os fundadores da empresa tinham experiência no fabrico de camiões para uso florestal e detetaram que, em Espanha, naquela altura, início dos anos 80, havia necessidade de renovar uma frota de camiões 4x4. E a segunda razão é que existia já um ecossistema da indústria automóvel, principalmente em Vigo, e isso ajudou.

Este anúncio de rearmamento europeu é uma oportunidade de ouro para empresas como a Urovesa?

Claro que, para qualquer empresa que opere no setor militar, ter orçamentos que cresçam desta forma é uma oportunidade. Mas tem de ser uma oportunidade também para melhorar as capacidades tecnológicas, para melhorar as capacidades de produção, para que o setor da Defesa na Europa dê um salto tecnológico. Isto contribuirá para gerar mais emprego, melhor qualidade de emprego e, sobretudo, para estabelecer a base industrial da Defesa europeia.

E têm capacidade para responder a este aumento repentino da procura?

Sim, porque já há uns anos, não só pela circunstância geopolítica atual, vimos que estrategicamente tínhamos de aumentar as capacidades. Para nós, as capacidades são, basicamente, ter espaço e instalações para crescer, desenvolver a cadeia de abastecimento, onde estamos a trabalhar com muitos fornecedores que são da Galiza e alguns também de Portugal, e a terceira parte importante é a da gestão de talentos e de pessoas, que é sempre a mais difícil e a mais importante dentro das empresas. E temos tomado medidas para reforçar estas três capacidades.

Qual é o volume de negócios anual da empresa atualmente?

Cerca de 130 milhões de euros e este ano esperamos chegar aos 150.

Para quem não sabe, a Urovesa produz um dos veículos militares ao dispor do Exército português, os VAMTAC, que são veículos blindados ligeiros táticos. É o vosso produto estrela?

O VAMTAC é o veículo que representa 70% da nossa faturação. Está agora ao serviço em 20 países.

Forneceram 139 desses veículos ao Exército português, num contrato de 60 milhões de euros. Qual o feedback?

Tremendamente positivo. Encaramos o fornecimento de viaturas ao Exército português como um projeto de longo prazo e colaborativo e as Forças Armadas Portuguesas estão a fazer um uso muito intenso das nossas viaturas, o que também nos permite ter uma experiência de utilização que não temos com outros clientes.

A Urovesa também já colabora com algumas empresas portuguesas. Qual a perceção que têm do potencial industrial e tecnológico em Portugal?

Vemos que há claramente uma evolução para produtos com maior valor acrescentado. Em Espanha havia uma antiga perceção de que a indústria em Portugal não contribuía com este valor acrescentado, mas isso está a mudar. Tradicionalmente, a nossa empresa desenvolvia a sua rede de fornecedores num ambiente próximo, na Galiza, mas agora estamos a ver que muitos potenciais parceiros também estão em Portugal. E, claro, à medida que formos desenvolvendo o mercado português, iremos encontrar mais empresas e, mais tarde, essas mesmas empresas irão ajudar-nos a colaborar em mercados que não o português.

Preveem mais parcerias em Portugal num futuro próximo?

Sim, porque a proximidade física ajuda-nos, a proximidade cultural também e o aumento das capacidades industriais que Portugal tem conhecido nos últimos anos, sobretudo na última década, coloca muitas empresas portuguesas diretamente em condições de terem capacidades que nos interessam muito.

entrevista realizada à margem da Conferência Land Defence Industry Day, organizada pelo Exército português, da qual o DN foi media partner

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt