Coopérnico convence mais de 6 mil clientes com tarifas de luz sem lucro

Cooperativa foi terceiro operador de eletricidade com mais adesões em 2024, graças a aposta em margens muito baixas. Já tem 6700 membros e quer investir 1 milhão de euros numa comunidade energética.
Apenas cinco anos depois de ser tornado também comercializadora graças à liberalização do mercado em 2022, a cooperativa conta hoje 6700 membros e 6300 contratos de eletricidade.
Apenas cinco anos depois de ser tornado também comercializadora graças à liberalização do mercado em 2022, a cooperativa conta hoje 6700 membros e 6300 contratos de eletricidade.DR
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Pode o negócio energético ser gerido sem fins lucrativos? A resposta é sim. Os consumidores unidos têm mais poder do que pensam, até em setores altamente competitivos e dominados por multinacionais, como é o caso do mercado energético. A Coopérnico, uma cooperativa que começou com 16 membros, em 2013, como uma simples comunidade de energia assente na produção fotovoltaica, é disso exemplo. Mais de uma década depois, e apenas quatro anos após ter entrado na comercialização, foi o terceiro operador com o maior número de adesões em 2024, a seguir à Iberdrola. “Se fiquei surpreendido? Surpreendido fico por não termos ainda mais quota de mercado, quando somos sistematicamente um dos operadores de energia com o tarifário mais baixo do mercado, segundo o comparador tarifário”, disse João Crispim, presidente da direção da Coopérnico, quando questionado pelo DN sobre o terceiro lugar no ranking nas novas adesões, assinalado no relatório do Portal Poupa Energia, da Adene, relativo a 2024.

Apenas cinco anos depois de ser tornado também comercializadora, a cooperativa conta hoje 6700 membros e 6300 contratos de eletricidade, disse aquele responsável. “Este desfasamento entre membros e contratos explica-se por nem todos os membros serem clientes e, por outro lado, termos membros com vários contratos”, justifica.

Como se explica a competitividade da Coopérnico no mercado nacional, numa luta em que não conta com as mesmas armas que a sua concorrência? “Não temos as mesmas armas, mas temos outras”, responde prontamente o engenheiro eletrotécnico. A arma mais importante é precisamente a sua missão e o modelo de ‘negócio’ sem fins lucrativos: “Vender a energia ao preço justo e sempre pelo preço mais barato possível”, resume o presidente da cooperativa.

E como é isso se consegue? “Temos uma margem muito baixa e tentamos sempre diluir o mais possível a margem”, explica. Porque “a diferença entre uma cooperativa e uma empresa é que nós olhamos para o cliente não para extrair margem, mas como um sócio. Cada membro pode ter uma participação ativa, cada um valendo um voto e todos têm interesse em obter o preço justo”.

João Crispim admite que o modelo cooperativo adaptado a este setor é “extremamente interessante, mas igualmente bastante trabalhoso”. E explica que quanto mais membros tiver, a cooperativa poderá ganhar uma escala que lhe permitirá diluir ainda mais a margem. E apela à iniciativa de novos grupos para a constituição de mais cooperativas, por acreditar nas virtualidades deste modelo.

Mas admite que “ainda há muito trabalho a fazer para divulgar que os consumidores obtêm maiores ganhos, maiores poupanças com este modelo”. Neste momento, os 6300 contratos ativos garantem ao operador um volume de negócios da ordem dos 7 milhões de euros anuais, disse o seu presidente, que, tal como os restantes quatro membros da direção, trabalham em regime de voluntariado, a somar à equipa técnica.

Embora não seja a única cooperativa portuguesa no mercado energético, “é a única com dimensão e a atuar em todo o território continental”. E surgiu no mercado com ferramentas inovadoras. João Crispim conta que foi “a primeira operadora a disponibilizar aos clientes simuladores a que podem aceder e consultar na aplicação as oscilações no tarifário dinâmico para melhor gerirem os seus consumos. Podem escolher qual a melhor hora para ligar a máquina de lavar ou pôr o veículo elétrico a carregar”.

Outra ferramenta inovadora foi a cobrança ajustada ao custo da energia em tempo real. Mas com a elevada volatilidade e o aumento da escala, este tipo de operação tornou-se de difícil gestão, explicou. “O preço baixo é importante, mas a saúde e a sustentabilidade da cooperativa também”, justificou.

Investimento já atingiu os 2,5 milhões de euros

O crescimento da Coopérnico foi gradual e beneficiou, a partir de 2014, da associação a outros projetos congéneres europeus beneficiários de fundos comunitários. Em 2015 começou a constituir pequenas centrais fotovoltáicas para vender à rede. Mas na sua génese esteve apenas um grupo de 16 jovens, alguns das áreas das engenharias, “que já tinham vivido fora de Portugal, com muita vontade de investir na transição energética e ferverosos adeptos do conceito de comunidades energéticas”.

E têm continuado sempre a investir, com um volume que já supera os 2,5 milhões de euros, distribuídos em pequenas centrais fotovoltáicas que alimentam, sobretudo, IPSS, hospitais, adegas cooperativas e setor social no geral. “Privilegiamos o setor social”.

Para muito breve, a Coopérnico antecipa o seu maior investimento de sempre no valor de 900 mil euros. A razão de ser deste salto quântico na carteira de investimentos da operadora é a candidatura a um concurso público aberto pela Câmara Municipal de Braga para a instalação de painéis fotovoltáicos em edifícios municipais e a criação de uma comunidade de energia entre eles. “Por isso mesmo, vamos abrir uma call para membros participarem como investidores neste projeto”, anunciou João Crispim. “É uma novidade absoluta, pois acabámos de decidir”, revela ao DN.

João Crispim ainda não sabe se a cooperativa terá ou não condições de vencer o concurso de Braga, mas lamenta, desde já, que o critério único seja o preço. “Está demonstrado que o impacto positivo das cooperativas na vida das comunidades é mais positivo do que o das empresas”. E continua: “podemos dizer que é o mesmo que incentivar o comércio local versus a grande distribuição, os impactos são muito diferentes”. Por outro lado, João Crispim acredita que há cada vez mais gente a querer modelos mais democráticos e participativos, porque percebem que são melhores para as pessoas e para as comunidades.

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