
O ano de 2024 foi mais um ano histórico no mercado da habitação em Portugal. A Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal estima que tenham sido vendidas cerca de 150 mil casas, mais 14 mil do que em 2023, e que o volume de transações tenha aumentado em dois mil milhões de euros, para 30 mil milhões. Neste quadro, é natural que os novos contratos de crédito para habitação registassem o valor mais elevado dos últimos dez exercícios, 17,6 mil milhões de euros, como revelou o Banco de Portugal. As principais redes imobiliárias tiveram, por conseguinte, um ano de recordes. No horizonte, mantêm-se os mesmos desafios: pouca oferta para a elevada procura e preços incompatíveis com os rendimentos da maioria dos portugueses. Mas há um novo: Donald Trump.
“A vitória de Donald Trump nos EUA trará dificuldades acrescidas à Europa”, vaticina Rui Torgal, CEO da Era. Na sua opinião, “o protecionismo anunciado, sobre o qual se esperam as primeiras repercussões esta semana, e a consequente incerteza que este poderá gerar, trará uma retração global nos mercados durante o primeiro semestre”. Para Alfredo Valente, CEO da Iad, “os riscos são significativos” a nível internacional. “Os principais motores da economia europeia encontram-se em dificuldades” e “a tomada de posse de Donald Trump abriu perspetivas de novas tensões económicas mundiais”. Marco Tairum, CEO da KW, também levanta a sombra do novo presidente dos EUA. Como afirma, ainda é preciso perceber “se as políticas de Trump poderão introduzir desafios económicos na Europa que afetem o mercado imobiliário”. Uma política protecionista dos EUA poderá induzir a subida da inflação, um travão na trajetória de descida das taxas de juro pelo Banco Central Europeu e uma retração económica. Em suma, poderá significar um arrefecimento do mercado.
Há, no entanto, uma luz ao fundo do túnel para o imobiliário português, embora com custos. As políticas de Trump poderão gerar “uma pressão acrescida causada pela procura proveniente precisamente destas geografias do mundo”, lembra Rui Torgal. O descontentamento com a situação nos EUA tem “impulsionado a procura de imóveis em Portugal por parte dos norte-americanos”, nota também Marco Tairum. E se essa procura impulsiona os negócios também é um fator de pressão num mercado com uma falta de oferta já crónica. Como diz Rui Torgal, “a oferta irá crescer, e vemos já no mercado novos projetos grandes em construção ou em planeamento, mas continua a ser insuficiente para a elevada procura que se adivinha, sobretudo por parte de consumidores mais jovens, que pretendem tirar partido dos incentivos em vigor que lhes trarão maior liquidez (como o IRS jovem) e maior capacidade de compra (como a isenção de IMT e imposto de selo ou a garantia pública).
Neste ambiente, nenhuma das redes contactadas pelo DN prevê uma retração na subida dos preços das casas. Beatriz Rubio, CEO da Re/Max perspetiva “a continuação de um aumento, mas a um ritmo menor”. Carlos Santos, CEO da Zome, estima que em 2025 o aumento será “de 2% a 3% no valor médio das casas”, o que configura uma subida mais contida do que a registada nos últimos anos. “Como não se perspetiva nenhum milagre na injeção de nova construção no mercado, continuaremos com pressão compradora forte face ao stock de imóveis existente, pelo que em princípio os preços tenderão a continuar a subir”, prevê também Alfredo Valente.
Caso não surja nenhum tsunami vindo do outro lado do Atlântico, as cadeias imobiliárias admitem que 2025 poderá ser mais um ano de crescimento, depois dos recordes atingidos no último ano. Beatriz Rubio antecipa um exercício com uma performance similar à registada em 2024, que “foi o melhor de sempre da rede em Portugal”. Como revela, “ao nível do número de transações crescemos cerca de 12,8% e em volume de negócios (comissões) cerca de 18,4%”. Para a KW, o principal desafio em 2025 “é estrutural” e “prende-se com a falta de oferta nas faixas de preço que os portugueses efetivamente possam comprar”. Apesar desta carência de produto, Marco Tairum admite que o negócio terá um desenvolvimento positivo, depois de ter fechado 2024 com 72 milhões de euros de faturação (o melhor registo de sempre), um volume de transações superior a três mil milhões de euros e mais de 13 mil imóveis transacionados, 80% dos quais compra e venda.
A Zome não fugiu à tendência do mercado, com a faturação a ultrapassar os 40 milhões de euros, um aumento de 34,5% face a 2023. Como avança Carlos Santos, “concretizámos 10 108 transações em 2024, um crescimento de 34,2%. Foram realizadas 10 217 angariações, o que traduz um aumento de 20,5% e encerrámos o ano com um volume de negócios superior a 1800 milhões de euros, mais 46,5% face ao período homólogo de 2023”. O gestor prevê que no atual exercício a Zome ultrapasse os 60 milhões de euros em faturação e os 2500 milhões em volume de negócios. Para atingir estes objetivos, tem em curso um plano de expansão, que prevê a abertura de 20 novas agências e a contratação de pelo menos 500 profissionais.
Ultrapassada a primeira metade de 2024, período de quebra generalizada no mercado imobiliário, a Iad garantiu um crescimento homólogo de 32% em número de transações e de 29% em volume no segundo semestre. Na totalidade do exercício, a marca verificou um aumento de 14,4% no número de transações e de 13,4% no volume. Já para a Era 2024 “foi o melhor ano de sempre”. A rede atingiu os 102 milhões de euros de faturação em comissões imobiliárias, mais 22% do que em 2023 e mais 2% face ao valor obtido em 2022 que era o melhor de sempre até agora. Segundo Rui Torgal, as transações atingiram as 12 220, um aumento de 12%, com o valor dos negócios a rondar os dois mil milhões de euros, uma subida de 24%.
A Century 21 encerrou o exercício transato alcançando 25 927 transações imobiliárias - das quais 20 653 foram vendas e 5274 arrendamentos - e um volume de vendas superior a 4,3 mil milhões de euros, um aumento de 18% face a 2023. A faturação atingiu os 116,8 milhões , o que representa um crescimento de 31%.