O futuro apresenta-se incerto, com inúmeros desafios políticos, económicos e sociais a nível mundial. É um contexto difícil para as empresas, que somam ainda a disrupção do mercado de trabalho com a introdução da Inteligência Artificial (IA) generativa. As mulheres estão particularmente preocupadas com estes tempos de crise. O Global Female Leaders Outlook, um estudo promovido pela KPMG, é claro: 40% receiam um conflito armado. Um quadro que coloca quase dois terços das 475 gestoras, de 46 países, que participaram no relatório, a afirmar que as suas empresas enfrentam uma pressão acrescida devido à atual complexidade geopolítica.Este contexto mundial vem alterar as prioridades das gestoras. De acordo com o estudo, mais de metade das mulheres considera uma prioridade investir em tecnologia e em IA, mas admite ser difícil manter os investimentos em critérios ESG - Environmental, Social, and Governance (indicadores ambientais, sociais e de governação corporativa, que permitem medir o grau de compromisso das organizações face aos objetivos do desenvolvimento sustentável), que em estudos anteriores foram considerados uma prioridade.Pela primeira vez em cinco anos, o foco da maioria das gestoras inquiridas está na aquisição e implementação de novas tecnologias, com destaque para a IA generativa. De 2023 para 2025, a percentagem de administradoras que afirma querer investir em tecnologia cresceu 30%, aponta o estudo. Para 80% das participantes, a IA generativa não irá provocar diretamente perda de postos de trabalho, mas irá exigir mais qualificações e formação dos colaboradores. Ainda assim, existem 15% de gestoras a acreditar que irá eliminar mais empregos do que aqueles que criará. Apenas 5% preveem que a IA generativa fomentará mais criação de emprego do que eliminará.Para estas mulheres, as maiores vantagens da IA nas empresas prendem-se com o aumento da eficiência e da produtividade (57%) e com a análise de dados mais rápida (15%). No entanto, este processo de atualização tecnológica não se apresenta simples. Para 40% das participantes no estudo, um dos maiores desafios é a rápida e eficiente integração das novas tecnologias e da IA nas organizações. Perto de dois terços, espera um retorno deste investimento no espaço de três anos.A implementação de critérios ESG nas empresas, cuja importância está a ser abalada pelo difícil contexto geopolítico e incerteza económica, tem muito ainda para andar. E as mulheres demonstram ceticismo em alguns pontos. Por exemplo, 94% das gestoras acreditam que só dentro de 30 anos será possível atingir a igualdade de género nos conselhos de administração, mesmo quando três quartos defendem que é muito importante essa meta para garantir uma melhor performance e um maior crescimento da empresa. O relatório da KPMG revela também que 62% já viveram situações de discriminação de género em contexto profissional nos últimos três anos e 47% admitem que ainda não há transparência na decisão do valor dos salários dos homens versus o das mulheres.E as portuguesas?As opiniões das 30 gestoras portuguesas que participam neste estudo estão em linha com a globalidade das inquiridas, embora apresentem um tom mais otimista. A maioria está confiante no crescimento da empresa, do setor onde operam e do país, mas quando o tema é a economia global só 39% está convicta que segue por bom caminho. Os conflitos bélicos na Europa e no Médio Oriente, e as instabilidades de governação em alguns países mais influentes, estarão a impactar essa visão.As mulheres portuguesas reconhecem também que a prioridade atual de investimento deve ser a IA generativa (60,7%), sublinhando que permitirá aumentar a eficiência e produtividade da organização. Para as gestoras, esta nova ferramenta tecnológica não terá terá impacto no número de empregos, mas exigirá uma requalificação dos trabalhadores em algumas áreas. Os maiores desafios à introdução da IA nas empresas são a compreensão e adoção entre colaboradores (42,9% consideram um desafio significativo), capacidades técnicas (32,1%) e custos de implementação (25%).Segundo revelaram no estudo, o trabalho árduo (54%), a determinação (39%) e pensamento estratégico (32%) foram os traços fundamentais para o seu sucesso profissional.Para este relatório, a KPMG contou com a participação de 475 mulheres (30 portuguesas), das quais 46% ocupam cargos de liderança e 33% contam mais de 20 anos de experiência em gestão. Quase metade trabalha em empresas que geram receitas iguais ou superiores a 500 milhões de dólares anuais (cerca de 428 milhões de euros). A larga maioria (74%) é mãe e teve de mudar de empresa pelo menos uma vez para subir na hierarquia (82%)..Portugal perde projetos de investimento direto estrangeiro com incerteza económica e política na Europa .Refrigerantes voltam a reclamar fim do imposto sobre bebidas açucaradas