
O Blue Target, grupo de restauração com 12 espaços em funcionamento em Lisboa, Porto e Vila Nova de Gaia, diz que tem os seus planos de expansão “seriamente ameaçados pela escassez de profissionais” disponíveis. Com uma equipa de 120 colaboradores, o grupo liderado por Carlos Santos, precisa de contratar mais 30 pessoas, “no curto prazo”, designadamente para a abertura de dois novos espaços no Porto, mas não há forma de o conseguir. O empresário aponta o dedo à elevada carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho.
“Preocupo-me em dar boas condições de trabalho aos meus colaboradores, pois só assim se consegue reter os melhores. E mesmo pagando acima da média do setor, continuo a não conseguir contratar”, refere Carlos Santos, que não especifica quanto acima paga, mas garante que é “significativamente mais” do que o habitual. “É difícil quantificar, porque eu tenho uma disparidade muito grande de funções e de categorias profissionais. Tomemos, por exemplo, os empregados de mesa. Seguramente, não há um único a quem eu pague o salário mínimo. Nem de perto nem de longe”, frisa.
Mas nem só a retribuição pesa na escolha de um emprego, há outras condições que os profissionais da restauração valorizam e Carlos Santos garante estar atento a elas. “Não fazemos horários repartidos, embora a lei o permita. Acho que as pessoas precisam de ter um bom equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional, e, portanto, os meus funcionários fazem as oito horas seguidas”, assegura. No setor é relativamente habitual haver empregados de mesa e outros funcionários que fazem quatro horas, durante o período em que são servidos os almoços, e outras quatro ao jantar, tendo uma pausa de várias horas entre ambos os períodos.
Mesmo assim, e com recrutamento ativo aberto constantemente, continua sem conseguir contratar. Dos 120 trabalhadores que tem, mais de 70%, admite, são já estrangeiros, com especial destaque para brasileiros, colombianos ou argentinos, mas também nepaleses. Sobre a intenção do Governo de limitar a entrada de imigrantes, Carlos Santos diz que não tem seguido as notícias sobre o tema com atenção, mas que concorda que “é preciso haver regras e algum controlo”. De resto, “todos os que vêm por bem e para trabalhar, são bem-vindos”, assegura.
Criada em 2016, a Blue Target conta com 12 espaços de restauração e provas de vinhos em operação, um dos quais, o Porto Wine Experience, no Time Out Market em Lisboa. Todos os restantes são no Porto e em Vila Nova de Gaia, como são exemplo as duas unidades da Queijaria Portuguesa, o Morro Beach Club, o Delirium Café ou a Sala de Prova, inaugurada há um ano, no Time Out Market Porto, ocupando o topo da torre desenhada pelo arquiteto Souto Moura. Faturou, em 2024, cerca de 5,5 milhões de euros e espera, este ano, chegar aos sete milhões.
Também este ano, espera conseguir abrir mais dois espaços no Porto, um restaurante e um bar, um na zona dos Clérigos e outro perto de São Bento. Mas precisa de gente. “Acho que seria importante criar políticas articuladas entre o setor privado, as instituições que defendem o nosso setor, da restauração e da hotelaria, e o Governo que permitam valorizar as carreiras das pessoas que trabalham na restauração. Como ficou provado na pandemia, este é um setor que cumpre também uma importante função social”, sustenta.
Para o empresário, reduzir os impostos sobre o trabalho é vital, mas também apostar em “políticas fortes de formação e valorização” dos recursos humanos, de modo a que “os jovens comecem a encarar a restauração como uma carreira nobre e atrativa”. Carlos garante que tem incentivado muitos dos seus funcionários a que voltem a estudar, designadamente em áreas ligadas à gestão hoteleira e de restauração, de modo a que possam progredir na carreira.
Com vários outros negócios em vista, designadamente mais a sul, o responsável da Blue Target assume que tem que ter “muita contenção”, precisamente pela falta de recursos humanos. O que acaba por limitar a expansão do grupo, mas também ter consequências para a economia nacional. “Sem uma boa oferta de restauração e de hotelaria e sem bons profissionais, não há um bom desempenho e isso afeta a competitividade da região e do país em termos turísticos”.