Portugal deve fechar este ano com um excedente orçamental equivalente a 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB), prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI) no novo estudo sobre o panorama económico mundial (World Economic Outlook), revelado esta terça-feira.É menos uma décima de ponto face ao excedente de 0,3% que o governo e o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, pretendem alcançar este ano.Relativamente a 2026, o FMI não incorporou a nova informação da proposta de Orçamento do Estado para 2026 (OE 2026), apresentada na semana passada (a 9 de outubro).Assim, o antigo credor da República prevê que num cenário de políticas invariantes ou inalteradas, isto é, sem mais medidas para conter o saldo orçamental, que permitam ao governo voltar a entregar um excedente no ano que vem (a previsão do OE 2026 aponta para 0,1%, o FMI indica que, sem mais, o excedente desaparece: fica em 0% do PIB.Nos anos seguintes, também sem medidas adicionais que reduzam a despesa e/ou impulsionem a receita, o FMI vê um regresso dos défices, algo que não acontece desde 2022. Em 2027, o défice será 0,2%, depois 0,5% (em 2028) e 0,7% em 2029, o último ano desta legislatura, se tudo correr como planeado.Mas o peso da dívida baixa muitoNa trajetória do rácio da dívida, o indicador principal do Pacto de Estabilidade europeu, o FMI também acredita numa dinâmica de descida no médio/longo prazo, ainda que o ponto de partida possa ser menos favorável este ano.No novo outlook económico, a instituição sediada em Washington estima que o peso da dívida soberana desça para 90,9% do PIB no final deste ano (Miranda Sarmento diz 90,2%); em 2026, o FMI é menos conservador do que as Finanças portuguesas e prevê 86,9% (o OE 2026 diz menos, 87,8% do PIB).O FMI explica que "as projeções para o ano em curso baseiam-se no orçamento aprovado pelas autoridades, ajustadas para refletir a previsão macroeconómica da equipa do FMI", que "as projeções posteriores baseiam-se na premissa de políticas inalteradas" e que as estimativas para 2025 "refletem a informação disponível na proposta orçamental de 2025".FMI mais conservador no crescimentoO crescimento da economia portuguesa vai ser mais forte em 2026 do que o antecipado há seis meses pelo Fundo Monetário Internacional, tendo beneficiado de uma revisão em alta bastante significativa.Assim, em vez de desacelerar, o ritmo da economia deve ganhar alguma força, afinal, estando a crescer quase duas vezes mais do que a média da Zona Euro.De acordo com o novo panorama económico mundial, Portugal deve crescer 1,9% este ano (em abril, o FMI previa 2%), mas para compensar esta ligeira revisão em baixa, o Fundo subiu a previsão do próximo ano, de 1,7% para 2,1%.A instituição liderada por Kristalina Georgieva é, em todo o caso, mais conservadora do que o Governo ou o Banco de Portugal na projeção do ano que vem.A proposta de Orçamento para 2026 assenta no pressuposto de que a economia portuguesa vai crescer 2,3% em termos reais no próximo ano.O Banco de Portugal disse, na semana passada, que a atividade deve crescer 2,2%.O FMI não analisa especificamente o caso de Portugal, mas considera que as economias mais abertas e exportadoras, como é a portuguesa, beneficiaram de uma primeira metade do ano melhor que o esperado, mais intensa em exportações, porque houve uma corrida contra o tempo por parte de muitas empresas na tentativa de evitar as tarifas comerciais muito e historicamente elevadas que foram sendo decretadas pelo governo de Donald Trump, dos Estados Unidos, sobre os bens estrangeiros.Irlanda cresce mais de 9% na corrida contra as tarifasO novo outlook do FMI mostra que, muito por causa disso, a Irlanda deve crescer uns expressivos 9,1% este ano, mas depois em 2026, o ímpeto esvazia-se e já só cresce 1,3%, menos que Portugal, aliás.Assim o FMI conclui que "olhando além da aparente resiliência resultante das distorções relacionadas com o comércio em alguns dos dados recebidos e das previsões de crescimento súbitas devido a oscilações bruscas nas políticas comerciais", sobretudo no primeiro semestre deste ano, a perspetiva mais global "aponta para cenários sombrios, tanto a curto como a longo prazo".Zona euro só deve avançar 1,1%A Zona Euro deve crescer 1,2% este ano, mais quatro décimas face à previsão de abril (outlook da primavera) e duas décimas melhor face à do outlook intercalar de julho.Mas em 2026, a área da moeda única europeia perde gás, devendo crescer apenas 1,1%.A maior economia europeia, a Alemanha, quase estagna este ano (0,2%), acompanhada de perto por Itália (0,5%) e França (0,7%), mas em 2026, a modéstia continua.Mesmo com grandes planos de investimento anunciados, sobretudo nas áreas militares, tecnológicas e nas infra-estruturas, a economia alemã crescerá cerca de 0,9% em 2026, França o mesmo, Itália não deve ir além de 0,8%.Espanha, o maior parceiro económico de Portugal no investimento e no comércio externo, cresce 2,9% este ano, mas no próximo abranda para 2%. Portugal cresce mais, até."A elevada incerteza em múltiplas frentes e o aumento das tarifas" são a marca de água das novas previsões do Fundo.Este refere que "a recuperação do consumo privado, com salários reais mais altos, e a flexibilização orçamental na Alemanha em 2026 [em prol do relançamento do investimento e de grandes projetos], compensam apenas de forma parcial" o panorama fraco e "sombrio" esperado em 2026.A taxa de referência do BCE (taxa de depósito), o principal indexante que os bancos comerciais usam para depois estipular as taxas finais nos contratos de crédito e nos depósitos (poupanças) de famílias e empresas, baixou para 2% em abril passado, o valor mais baixo desde o final de 2022, ano em que começou a guerra da Ucrânia.O FMI antecipa agora que o nível de juros ficará num planalto até ao final de 2029. São quatro anos e meio no patamar de 2%, assim a inflação do euro se mantenha ancorada em igual valor..FMI ataca "não-bancos", corretoras e negócio das criptos: "são um risco para a estabilidade financeira".FMI diz que o mundo entrou novamente numa fase de arrefecimento económico