
Num mundo dominado pelo digital o papel dos media encontra-se em plena transformação. A transição digital, assim como tecnologias como a inteligência artificial colocam novos desafios aos órgãos de comunicação social. Não só em termos da produção e distribuição de notícias, mas, principalmente no que concerne ao modelo de negócio. O Dinheiro Vivo conversou com Bernardo Correia, country director Portugal da Google, que participou esta quinta-feira no evento "Convergência entre Media e Tecnologia, organizado pelo Aveiro Media Competente Center (AMCC), no Parque de Ciência e Inovação, sobre o futuro dos media, a sua relação com a tecnologia e o papel da Google neste cenário.
Qual a visão da Google sobre o futuro dos media?
A internet mudou o ecossistema de notícias, incluindo a forma como os leitores leem as notícias, a forma como as notícias podem ser produzidas e distribuídas (e por quem) e a forma como os editores ganham dinheiro. Estas mudanças baseiam-se nas dos últimos 100 anos, quando os então novos formatos de media, como a rádio, a televisão e o cabo, criaram uma competição adicional pela atenção dos leitores. A Internet deu continuidade a esta dinâmica, ao mesmo tempo que abriu espaço para novas perspetivas e vozes diversas de comunidades historicamente desfavorecidas.
Hoje, a inteligência artificial cria novas oportunidades de inovação e impulso económico. Só em Portugal, a IA generativa pode valer até 8% do PIB em 10 anos, algo entre 18 a 22 mil milhões de euros. Para capturar esse valor, Portugal terá de apostar na formação de talentos em IA e na pesquisa e desenvolvimento para potenciar a inovação, transversalmente a todos os setores. Com os media será o mesmo: a formação e a inovação com base em IA serão fundamentais.
É por isso que a Google, para além de enviar mais de 8 mil milhões de cliques por mês para editores de notícias europeus, apoia o jornalismo através de formações para a indústria de notícias, como a pós graduação em jornalismo do ISCTE, e de programas de inovação, como Megafone do Publico ou a Agenda Global da Media Livre.
A inovação e a experimentação estão em ascensão, e as vozes dos especialistas estão a incentivar novas abordagens, desde modelos de assinatura e sem fins lucrativos até a novas estruturas organizacionais. Um número crescente de casos de sucesso proporciona otimismo sobre o futuro.
Por exemplo, ferramentas específicas da indústria, como o Subscreva com a Google e o News Consumer Insights (NCI), são utilizadas por alguns editores para gerar fluxos de receitas sustentáveis. Também pagamos regularmente para licenciar conteúdos noticiosos para produtos novos e inovadores, como o nosso trabalho com o Google News Showcase (Destaques Jornalísticos no Google).
Qual o papel da tecnologia e do Google nesse futuro?
A missão da Google é tornar a informação do mundo universalmente acessível e útil. Ligar os utilizadores às notícias que lhes interessam e apoiar o jornalismo são elementos importantes desta missão.
Há mais de 20 anos que a Google trabalha em colaboração com a indústria de notícias e disponibilizou milhares de milhões de euros para apoiar o jornalismo na era digital. Através dos nossos serviços e financiamento, a Google é um dos maiores apoiantes financeiros do jornalismo, incluindo em Portugal.
As pessoas recorrem à Google para encontrar notícias de diversas fontes. A Pesquisa Google e o Google Notícias ligam as pessoas na Europa aos websites dos editores mais de 8 mil milhões de vezes por mês. O tráfego que enviamos para os sites de notícias ajuda os editores a aumentar o número de leitores, a construir a confiança dos leitores e a ganhar dinheiro.
O Subscreva com o Google (SwG), que desenvolvemos com os editores de notícias, ajuda-os a alcançarem novos subscritores e a envolver os leitores existentes. O SwG gerou mais de 400.000 novos subscritores pagos para os nossos parceiros de notícias.
Em Portugal, contribuímos para o ecossistema dos media com os nossos produtos, serviços e financiamento direto a organizações de notícias. Ao longo dos anos, temos desenvolvido parcerias e programas com diversas organizações portuguesas, incluindo editores, associações de jornalistas e universidades, para: ajudar os editores a desenvolver e inovar na era digital; apoiar a formação e a melhor as competências dos jornalistas, incluindo formação em IA; ajudar os editores a aumentar a receita; aumentar a literacia mediática e combater a desinformação.
Através dos nossos produtos, serviços e do financiamento direto de organizações de notícias, a Google é um dos maiores apoiantes do jornalismo no mundo.
Os nossos apoios assentam essencialmente em quatro pilares: inovação, licenciamento, formação e combate à desinformação. Ficam aqui um exemplo de cada um desses pilares:
No apoio à inovação: aqui em Portugal apoiámos múltiplos projetos de inovação através do Google News Initiative, financiando projetos como o Megafone do Público ou a Agenda Global da MediaLivre. A Google financiou também a criação do Aveiro Media Competence Center, centro de inovação europeu para o jornalismo, focado principalmente nos media locais e regionais.
No licenciamento de conteúdos, em 2021, lançámos o Google News Showcase em Portugal sob o nome de Destaques Jornalísticos no Google, a nossa experiência de notícias online e programa de licenciamento para editores de notícias. Com o News Showcase (Destaques Jornalísticos), os editores podem aprofundar a sua relação com os leitores e ganhar maior controlo, ajudando-os a ficarem mais visíveis tanto para os seus leitores dedicados como àqueles que estão apenas a descobri-los pela primeira vez.
Na formação, em 2023, a Google e a Fundación Luca de Tena assinaram um acordo de colaboração com o Google News Initiative (GNI) para proporcionar formação a 100 jornalistas em Portugal na utilização de ferramentas de verificação, big data, visualização de dados, novos formatos e outras ferramentas digitais úteis de forma a poderem desenvolver o seu trabalho informativo.
No combate à desinformação contribuímos com 25 milhões de euros para lançar o Fundo Europeu para os Media e Informação, criado pelo European University Institute e pela Fundação Calouste Gulbenkian, sob a supervisão do European Digital Media Observatory, para reforçar a verificação de factos, a literacia mediática e a investigação sobre a desinformação. O projeto financiou iniciativas em Portugal, incluindo o SHAZAAM, que visa fortalecer a capacidade dos jovens de pensar criticamente e avaliar a fiabilidade da informação.
É necessário alterar a regulação? Em que sentido?
Desde 2019, a Diretiva Europeia dos Direitos de Autor (EUCD) permite que os motores de busca criem links e utilizem livremente “pequenos excertos” do conteúdo dos editores de notícias e cria novos direitos indefinidos para os editores quando são utilizados excertos mais longos. O nosso programa de conformidade licencia conteúdos de editores europeus para os nossos produtos - Pesquisa Google e Google Notícias. Até ao momento, fechamos acordos comerciais que abrangem mais de 4.000 publicações de todas as dimensões em 20 países da UE e continuamos a trabalhar noutros.