Como avalia a primeira semana oficial de atividades do escritório da Apex em Lisboa?
Agora é para valer, né? Nós já estamos com um escritório aberto aqui, eu agradeço muito à municipalidade, à Câmara Municipal [de Lisboa], ao Governo português, pelo apoio que tivemos para ter uma presença da APEX Brasil aqui. Nesse escritório vai funcionar também uma representação que já está aqui da Fiocruz, da Embratur e do Sebrae, que são entidades públicas brasileiras. [A Fiocruz é a principal fundação pública brasileira na área de vacinas e medicamentos, a Embratur promove o turismo do Brasil no exterior e o Sebrae apoia os pequenos e médios empresários]. E a Apex junto com o Sebrae já fizemos o primeiro evento, com 20 empresas que trabalham com artesanato. Fizeram já rodada de negócios, fecharam muitos negócios nessa semana que passou, então mostra que foi muito acertada a ideia de ter um escritório aqui em Lisboa, de ter uma presença brasileira aqui em Portugal como forma de entrar e ficar mais presente na União Europeia. Foi uma decisão do Governo, do presidente Lula, e eu acho que agora a gente vai ter um espaço para aumentar o fluxo de comércio exterior entre os dois países, especialmente Portugal e Brasil, mas também na perspectiva de ter o acordo Mercosul-União Europeia e ampliar fortemente o fluxo de comércio do Mercosul, mas especialmente do Brasil com a União Europeia.
Era justamente essa a minha próxima pergunta. O presidente Lula acaba de assumir a presidência do Mercosul por seis meses. É uma boa janela de oportunidade para o acordo avançar?
Pois é, tem um calendário que é a agenda dos parlamentos. Eu estive em Bruxelas e estive aqui em Lisboa fazendo reunião dos setores comerciais, e fiz muitos contatos. Estou bastante otimista com o que ouvi, mas obviamente que tem um calendário a ser cumprido, um calendário legislativo de aprovação, mas é possível que, se não no final deste ano, no começo do próximo, tenhamos cumprido todas as etapas. O presidente Lula tem uma expectativa de que durante o mandato dele, que é de seis meses à frente do Mercosul, que ele assumiu exatamente no dia 03 de junho, isso possa acontecer.
Como vê a relevância do Brasil assumir o Mercosul pelos próximos meses?
Veja, o Brasil estava ausente do mundo. O Governo passado foi uma tragédia nesse aspecto e em outros termos também. O Brasil não tinha nenhuma boa reputação mais no multilateralismo, nas organizações multilaterais que tinha no mundo, e agora com o presidente Lula isso mudou radicalmente. O Brasil chefiou o G20 no ano passado, presidiu o BRICS, agora preside ao Mercosul, e o presidente é um ativista do multilateralismo. Eu acompanho em várias viagens pelo mundo. Neste mandato já fizemos encontros em 16 países com o presidente Lula. É impressionante como o Brasil resgatou sua reputação nesses dois meses e meio de governo, e eu acho que isso vai se refletir muito fortemente nos negócios. A presença de empresas brasileiras em todos os continentes do mundo tem sido algo extraordinária. É uma ação conjunta da diplomacia clássica, a diplomacia presidencial e a diplomacia comercial, e a APEX, a nossa agência brasileira responsável pela promoção do Brasil e a atração de investimentos, é quem mais se beneficia disso e quem mais acumula desafios de trabalhar ainda mais. Por isso que a gente está abrindo esse escritório aqui em Lisboa, abrimos também um em Nova Iorque, abrimos um outro agora na China, vamos para Singapura em breve. Enfim, estamos a tentar aproveitar da melhor maneira possível essa janela de oportunidades que o presidente Lula trouxe para o comércio exterior brasileiro.
E falando em brasilidade, o escritório aqui exala cultura brasileira em todos os sentidos. Quais são as expetativas?
Está só começando. A ideia é que seja uma espécie de Casa Brasil aqui, não é? É uma presença brasileira, por isso a gente já vem com quatro organizações importantes aqui, a Fiocruz, que é respeitadíssima de novo pelo trabalho que faz na área de saúde, produção de medicamentos, a gente quer trabalhar muito com a CPLP, os países de língua portuguesa.A Embratur, por exemplo, tem muita lição a tirar de Portugal, pelo caso de sucesso que Portugal é no Turismo e pelo potencial que o Brasil tem. O Sebrae é um grande parceiro nosso, porque é uma marca do mundo inteiro que trabalha comigo porque é uma empresa e a APEX se juntou ao Sebrae para a gente procurar internacionalizar as pessoas que queiram desenvolver o produto e pôr esse produto no mundo. Nós trabalhamos no ano passado com 21 mil empresas e esse ano o número deve ser ainda maior. Destas, mais de 50% são pequenas empresas. Estamos dando muito sentido para que o Norte e o Nordeste brasileiro possam estar cada vez mais presentes. Queremos ampliar a presença de todo o Brasil, manter e fazer crescer o Sul, o Sudeste e Centro-Oeste, mas ampliar a participação de regiões que têm um potencial enorme como o Nordeste e o Norte brasileiro. Nesta jornada exportadora que esteve em Lisboa, chamada de Brasil feito à mão, a região que mais tem participação nos negócios do artesanato é o Nordeste. O Nordeste é o grande espaço das empresas e nós estamos fazendo a internacionalização delas. Tenho certeza, estou muito animado, muito feliz de estarmos aqui e agora funcionar pra valer.
A última vez que o entrevistei, em abril, nós falávamos muito de como o novo Governo Trump está a agir na área económica. Como analisa a situação agora, passados alguns meses?
Eu acho que a tensão continua. Eu falava desde o início e acho que o Governo de Donald Trump teria muita dificuldade de implementar no próprio país as medidas. E já é o que está ocorrendo, tem muita tensão no mercado. A economia americana foi construída muito na base do livre comércio, do multilateralismo, dos acordos internacionais e agora agir na contramão de tudo que eles fizeram, certamente vai ser ruim para o mundo, mas vai ser ruim para eles também. Mas eu acredito que o mundo está sem fronteiras. O mundo tem que estar nesse ambiente de crise climática, nesse ambiente de crise demográfica, nesse ambiente de conflitos, de guerra, inclusive, nos empurra não para o individualismo, para o isolacionismo, mas para um mundo mais plural, de maior colaboração. E por isso que quando me perguntam, eu digo que não tem nada de bom nessas medidas que são anotadas nos Estados Unidos. Alguém diga, ‘ah, mas dá para tirar proveito’. Eu discordo, ninguém ganha com isso. O bom é um mundo de paz, é um mundo que possa ter mais colaboração. Por isso que eu aposto muito nesse acordo, Mercosul com a União Europeia Europeia, porque vamos criar o maior bloco econômico do mundo, com mais de 700 milhões de pessoas. Nós vamos dar o exemplo para o mundo. Um exemplo de que reúne o velho mundo, aqui da Europa, com um mundo cheio de potencial na área de transição energética, de produção de alimentos, na área de minerais críticos para a nova indústria que é o Brasil e os nossos vizinhos na América do Sul. A associação desses mundos é a que pode construir um mundo de paz é o melhor para todos.
amanda.lima@dn.pt