
Há uma grave escassez de casas no país e os preços estão em níveis proibitivos para a grande maioria dos portugueses. O problema está mais do que diagnosticado, mas continua a agravar-se. No fim do primeiro semestre do ano, a Re/Max deparou-se com uma redução de 8% no stock disponível no mercado face ao mesmo período de 2024, avança Manuel Alvarez, presidente da rede imobiliária líder no país. E frisa: "Em determinadas zonas onde a procura é mais intensa, a redução do stock habitacional tem sido, naturalmente, maior." Menos casas e mais caras. Como estima Carlos Santos, CEO da Zome, "o preço terá avançado cerca de 12 % no primeiro semestre".
O presidente executivo da Zome, dá nota que, no fecho do primeiro semestre, estavam anunciadas em Portugal cerca de 89.600 habitações usadas para venda, número cerca de 4% inferior ao registado há um ano. Sublinhe-se que as casas existentes são o motor do mercado, valem cerca de 80% das transações anuais. E esta contração na oferta neste segmento foi também sentida na Era. A marca imobiliária angariou no período em análise quase 18 mil casas usadas, um recuo homólogo de 8%. Já a Keller Williams "manteve um stock estável em linha com o mesmo período de 2024", diz Marco Tairum, CEO da rede. No entanto, adianta, "esta estabilidade contrasta com o mercado nacional, onde se verificou uma ligeira redução estimada entre 3% e 5% no stock de usados".
Marco Tairum revela que, em termos regionais, a KW assistiu reduções de stock da ordem dos 10% em Lisboa, 5% no Porto e 18% no Grande Porto, sinal de "maior rotatividade e menos permanência em carteira" das habitações nos grandes centros urbanos. É um reflexo da "escassez de oferta", afirma. Uma análise mais fina da Zome permite detectar uma quebra de 10% na oferta de habitações usadas em Lisboa no primeiro semestre deste ano, de 12% na Grande Lisboa e de 5% em Setúbal. Em sentido contrário, o stock no Porto cresceu 34%, no Grande Porto aumentou apenas 1% e em Braga cresceu 7%, contabiliza Carlos Santos.
Já o mercado de casas novas apresentou outros números. Segundo Carlos Santos, no fecho do primeiro semestre, estavam anunciadas em Portugal cerca de 33.100 habitações novas para venda no país e 847 anúncios de empreendimentos completos, o que traduz um aumento de 32 % face ao semestre homólogo. A KW observou um aumento de 27% no stock. É um crescimento "particularmente relevante num contexto em que muitos promotores mantiveram uma estratégia mais cautelosa devido às condições macroeconómicas e regulatórias", frisa Marco Tairum.
A Era também registou-se uma evolução positiva neste segmento da oferta, com um aumento de 7%. Para Rui Torgal, CEO da marca, esta evolução "evidencia o reforço da oferta de construção nova, impulsionado sobretudo por projetos localizados em zonas urbanas". Ainda assim, longe de responder à demanda. As estatísticas de Carlos Santos mostram que Lisboa viu crescer em 7% a oferta de de habitações novas à venda, mas a Grande Lisboa apresentou uma quebra de 12%. No Porto, o stock aumentou 28%, o que compara com o crescimento residual de 1% no território do Grande Porto. Em Braga, verificou-se uma quebra de 15% e em Setúbal de 5%.
Este quadro de escassez de oferta reflete-se no valor das casas. Nos primeiros três meses do ano, a Era observou um aumento homólogo de 18% no ticket médio nacional, para 220.478 euros. Nos três meses seguintes, o valor médio de transação subiu já para 228.680 euros, a que corresponde um crescimento face ao mesmo período de 13%. A falta de casas no mercado, o aumento da procura em segmentos médios-altos e o maior peso relativo de imóveis de maior valor determinaram esta valorização, justifica Rui Torgal. Já na KW, o custo médio por operação de venda aumentou 8%. Como adianta Marca Tairum, nos imóveis usados a subida foi de 7% e nos novos de 13%.
Embora ainda não existam dados oficiais da variação do preço das casas no segundo trimestre, o índice mensal dos portais imobiliários a operar em Portugal apontam para um aumento entre 7 % e 8 %. Em abril, terá subido 7,4%, e em maio terá registado um incremento da mesma dimensão. Já em junho, o crescimento terá sido de 8%. Com base nestes registos, Carlos Santos admite que o preço da habitação em Portugal terá avançado cerca de 12 % no primeiro semestre, com as casas usadas a encarecerem 13 % e 10% as novas.