
Existe uma Inteligência Artificial que seja melhor a fazer pesquisas e interagir com o utilizador? A única resposta possível, à data de publicação deste artigo, é: depende. E depende de vários fatores: do que se quer fazer, do resultado a obter, do tipo de interação que se tem, etc... Por vezes, até da língua em que nos estamos a dirigir à IA.
Mesmo o tom do diálogo com a máquina pode alterar ligeiramente os resultados. Segundo um artigo publicado esta semana no site especializado TechRadar, ser bem-educado tem influência. Responder “obrigado” às respostas, ou pedir “por favor” - no fundo, ter uma interação ‘polida’ - “não apenas influencia o tom da IA, como pode realmente melhorar a qualidade da resposta. Não porque o ChatGPT o esteja a ajudar mais, porque [o utilizador] está a ser simpático com ele, mas, ao ser gentil, está, na verdade, a fornecer mais contexto - talvez sem sequer se aperceber de que o está a fazer”.
Isto porque, ao contrário do que acontece com uma simples pesquisa Google (ou noutro motor de busca), quando teclamos no Copilot, ou no Gemini, por exemplo, deveríamos mudar o nosso próprio chip de que nos dirigimos a um sistema feito para imitar as reações humanas e não apenas dar respostas, pelo que funcionará melhor se assim for utilizado.
É precisamente com o objetivo de aumentar a “humanidade” da interação que surge no mercado a startup Sesame AI. Trata-se de um modelo de voz que imita a conversação natural, com pausas e hesitações, de tal forma que rapidamente nos esquecemos de que estamos a falar com uma máquina (no fundo, tornar realidade o tipo de interação do filme Her: Uma História de Amor - ou, para os mais velhos, o já clássico, e em muitas coisas visionário, Electric Dreams, de 1981).
O Sesame está, no entanto, em fase embrionária. Os programadores podem adotá-lo e afiná-lo à sua medida nos seus projetos, mas não está ainda pronto para consumo geral (seja como for, pode ver um exemplo neste vídeo).
Já disponível, até em português de Portugal, está o Gemini Live, da Google, sem dúvida o melhor chatbot que já experimentámos para manter uma conversa contínua. É um facto que a voz sintética dificilmente nos faz esquecer de que estamos perante uma máquina, mas o tipo de respostas que fornece, o nível de curiosidade que demonstra e até a capacidade de ir buscar assuntos aparentemente paralelos permite uma interação muito satisfatória - quando se tem tempo para isso.
Nada disto é importante se a informação que a IA transmite é pouco relevante ou (pior!) errada. E nesse aspeto os resultados variam muito consoante o que se procura e qual o serviço escolhido.
O problema aqui reside nas fontes disponíveis e na sua exatidão - daí as respostas em inglês serem por norma melhores do que em português. Uma dica: nesta fase, sempre que possível, faça as suas pesquisas em inglês...
Um exemplo caricato: à simples pergunta “Quem é o primeiro-ministro de Portugal”, obtemos a seguinte resposta: Gemini (Google) gratuito e pago recusa-se a “ajudar com isso”, afirmando no primeiro caso que pode “cometer erros” e, no segundo (a correr a versão 2.0 Flash), que “não [pode] ajudar com respostas sobre eleições e personalidades políticas”.
O Copilot (Microsoft), que corre ChatGPT, na versão simples acerta tanto no nome como na data da tomada de posse. Estranho é, no entanto, que quando se ativa a função “Think deeper” - em que o sistema demora 30 segundos a processar, indo buscar o poder do ChatGPT 4o (que a OpenAI cobra aos utilizadores), a resposta é: “Atualmente, o primeiro-ministro de Portugal é António Costa. Ele está no cargo desde 26 de novembro de 2015 (...).”
Por fim o Perplexity - da startup com o mesmo nome, cujo serviço corre sobre o ChatGPT, mas modula as respostas de forma personalizada - não apenas acerta tanto no nome, como na data da tomada de posse (aqui, tal como o Copilot), mas acrescenta informação relevante: Montenegro “lidera [pouco preciso, mas demos de graça] a Aliança Democrática, uma coligação de centro-direita formada pelo Partido Social Democrata (PSD), Centro Democrático Social - Partido Popular (CDS-PP) e Partido Popular Monárquico (PPM)”. Esta é a única IA que refere que as eleições foram ganhas em coligação. E é esta capacidade de ir buscar pedaços de informação interessantes que distingue o Perplexity da concorrência - e faz com que seja, hoje, a IA generativa preferida de muitos jornalistas internacionais.
Na versão paga, além deste sistema utiliza ainda os dos Large Language Models em código aberto Claude 3.7, Grok-2, Llama 3 e o DeepSeek R1 de forma a encontrar as “melhores” respostas.
Em conclusão: de cada vez que tiver de procurar algo na internet, é de facto cada vez melhor usar uma IA generativa. Mas o melhor mesmo é cruzar os dados de várias, pelo sim, pelo não.
Pense assim: é a maneira de ter várias conversas com personalidades diferentes.