TAP: Tripulantes assumem “declaração de guerra" e imputam responsabilidades ao diretor financeiro

Sindicato acusa empresa de querer cortar custos à conta da degradação das condições dos trabalhadores e aponta o dedo ao CFO Gonçalo Pires.
TAP: Tripulantes assumem “declaração de guerra" e imputam responsabilidades ao diretor financeiro
Foto: Paulo Alexandrino
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A privatização da TAP está à porta e, em véspera de o Governo publicar o decreto-lei que dará o pontapé de saída para a venda da empresa pública, os ânimos entre os trabalhadores e a administração voltam a escalar. Os tripulantes de cabine anunciaram ontem o “fim unilateral da paz social” face à decisão da transportadora aérea de cortar nas ajudas de custo pagas ao pessoal navegante. “É uma declaração de guerra, de certa forma, mas a guerra não foi iniciada por nós, mas sim pela TAP”, assume ao DN/Dinheiro Vivo o presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC).

Ricardo Penarroias acusa a TAP de querer mitigar os gastos resultantes dos novos Acordos de Empresa (AE) - que entraram em vigor no ano passado e que resultaram num peso acrescido dos custos da companhia com salários - com a degradação das condições laborais dos tripulantes.

O representante destes trabalhadores refere que a empresa liderada por Luís Rodrigues está a mexer nas rubricas que não carecem de acordo com o sindicato para poupar dinheiro. No caso das ajudas de custo, que respeitam ao montante diário atribuído aos tripulantes para cobrir as despesas, por exemplo, com a alimentação quando estão em serviço, a TAP decidiu reduzir o valor pago em determinados destinos.

“É completamente descabido. Estamos a falar de um corte em países onde a inflação subiu, como é o caso dos Estados Unidos. Na Europa, o corte é aplicado em França, Itália ou Alemanha onde o custo de vida também aumentou. Outro exemplo é o Brasil, onde a taxa de câmbio é muito volátil”, enumera Ricardo Penarroias.

O dirigente sindical diz-se “estupefacto” com a decisão, numa altura em que, defende, a companhia deveria reforçar esta variável tendo em conta a atual conjuntura económica. “O valor apresentado pela TAP nem sequer dá para pagar, em muitos casos, uma refeição no hotel. O tripulante não pode andar a comer McDonald’s todos os dias, tem de estar em condições físicas e psicológicas”, diz.

Outra das críticas respeita ao alojamento onde os tripulantes pernoitam. Penarroias atesta que a TAP tem escolhido os locais sem a concordância do SNPVAC. “Estamos a falar de hotéis que nos suscitam muitas dúvidas quanto à sua qualidade e que não nos dão as condições de descanso adequadas para fazermos os voos de regresso”, indica.

O atual cenário de tensão começou há alguns meses e Penarroias imputa a responsabilidade ao administrador financeiro da companhia. “Coincidência ou não, estas decisões começaram na altura em que o CFO Gonçalo Pires ficou com o pelouro das Relações Laborais. A partir desse momento houve uma mudança. São decisões feitas com base numa folha de Excel e que não respeitam a cultura e os valores da TAP”, assegura.

Para já, o SNPVAC irá avançar com quatro medidas que visam diversas matérias laborais, como a questão da flexibilização de horários ou o complemento em situação de acidente de trabalho, gravidez e licenças parentais, que o dirigente considera “fraturantes” e que “poderão ter mais impacto do que aquilo que a empresa está a tentar poupar”.

Uma eventual paralisação também não está excluída. “A possibilidade de ir para a greve está sempre em cima da mesa. Quem decide são os associados”, avisa.

O presidente do SNPVAC recorda as negociações do Acordo de Empresa (AE), que se estenderam durante largos meses. “A TAP teve maior operacionalidade, maior produtividade e mais flexibilidade. Em troca, houve aumentos salariais. Em nenhum momento nessa negociação se falou em precariedade e em degradação das nossas condições”, lamenta.

O DV/DN contactou a TAP, mas não obteve resposta até ao fecho da edição.

TAP: Tripulantes assumem “declaração de guerra" e imputam responsabilidades ao diretor financeiro
Tripulantes da TAP declaram "o fim da paz social" face a cortes nas ajudas de custo

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