Já lá vão 70 anos desde que as origens do laboratório Edol se esboçaram numa farmácia em Lisboa e, no entanto, as gerações que o têm liderado mantiveram-se fiéis à sua génese, com o fabrico de produtos oftálmicos e dermatológicos, preparando-se para inaugurar, neste ano, a segunda unidade produtiva, sempre com a inovação à perna, até para uma parceria improvável com a Delta Cafés.
Tudo começou em 1952, quando a família Bairrão fundou a Edol-Empresa de Oftalmologia e Dermatologia de Lisboa, no âmbito da farmácia que detinha sob a designação do apelido familiar. Na época, eram as farmácias que preparavam os medicamentos e as chamadas substâncias medicamentosas.
A expansão do negócio determinou a construção da primeira unidade fabril dez anos depois, em 1962, em Linda-a-Velha, onde ainda hoje opera. Sem surpresas, o decurso do tempo obrigou a melhorias sucessivas, quer do edifício quer das tecnologias, até a necessidade de potenciar o negócio no exterior exigir novas capacidades produtivas.
É nesse contexto que a empresa, hoje designada por Edol-Produtos Farmacêuticos, SA, anuncia o investimento de 25 milhões de euros (comparticipados pelo programa Portugal 2020) em novas instalações, em Carnaxide, a inaugurar neste ano, e para onde tenciona recrutar 50 novos profissionais.
Identidade dentro e fora de portas
Em Linda-a-Velha vai manter-se o fabrico dos produtos de dermatologia e dermocosméticos, devendo, mesmo assim, ser alvo de modernização - promete a empresa. A oftalmologia será transferida para Carnaxide.
Mas, porquê estas áreas? Mafalda Pimpão, diretora de Marketing, explica que "não existem muitos fabricantes destas especialidades farmacêuticas, dado serem processos de fabrico extremamente caros, com preços de venda extremamente baratos".
Sendo agora uma sociedade anónima familiar, liderada por Carlos Setra, como CEO e presidente do conselho de administração, está acompanhado por quatro membros da família para fazer crescer o negócio, a nível interno e internacional.
De momento, a empresa tem um volume de negócios na ordem dos 18 milhões de euros e emprega 196 pessoas em Portugal. Lá fora, está em mais de 40 países que asseguram uma faturação de quatro milhões de euros.
A internacionalização iniciou-se em 2005, através de parcerias locais, sobretudo, nos países africanos de expressão portuguesa e francesa, mas também no Médio Oriente e na Europa, sobretudo com produtos oftálmicos.
Moçambique é um caso especial, uma vez que o Edol decidiu, em 2017, ter uma estrutura própria, a Farmacêutica Austral, com um armazém onde emprega 20 pessoas, na zona de Matola, em Maputo, para venda e distribuição dos produtos do laboratório e de outras marcas das quais tem a representação.
No futuro, França, Espanha, Itália, Reino Unido e Irlanda, mas também Vietname, Filipinas, Ucrânia, Mali, Senegal e Cazaquistão figuram como os mercados prioritários para a expansão.
Na lista das tarefas para os próximos cinco anos sobressai a intenção de produzir um medicamento único para a oftalmologia que seja aceite em vários países europeus; desenvolver, submeter e posteriormente fabricar medicamentos oftalmológicos para o Canadá (Itália, França, Espanha e Alemanha são outras hipóteses); inovar ainda mais nessa área e reforçar a oferta dos produtos já existentes (oftálmicos, dermatológicos e pediátricos), tirando partido dos 30 novos em desenvolvimento.
Parcerias dentro e fora da caixa
Crescer vai implicar o recurso a protocolos e parcerias já existentes com instituições de variado espetro, como a Faculdade de Farmácia de Lisboa, a de Medicina de Coimbra, sociedades médicas, a Apifarma, a PharmaPortugal, o Health Cluster Portugal para a área farmacêutica, bem como a AIBILI-Agência de Inovação Associação para a Investigação Biomédica e Inovação em Luz e Imagem.
Mas também há parcerias "fora da caixa", como a que a Edol estabeleceu recentemente com a Delta Cafés, para "o desenvolvimento de formulações únicas para cafés funcionais", isto é, cafés "aditivados com substâncias com propriedades reconhecidas, como o ginseng para o aQtive Minde, ou a vitamina C para o aQtive Immunity", já comercializados.
O Edol apresenta-se como "líder no segmento da oftalmologia em Portugal" e como "uma empresa de referência na dermatologia". Mas, com o crescimento do negócio, Mafalda Pimpão destaca que os produtos para a área da otorrinolaringologia também fazem parte da oferta, bem como a linha direcionada para patologias pediátricas. No entanto, assegura que a grande aposta na oftalmologia prende-se com o facto de a empresa ter "o portefólio mais alargado do mercado nesta área" e ser a sua principal área de negócio.