O preço da eletricidade no mercado grossista (onde os comercializadores compram a energia) continua a atingir valores recorde e ditou um segundo aumento extraordinário para as 933 mil famílias que estão no mercado regulado, já a partir de outubro. Contudo, os 5,4 milhões de clientes que estão no mercado livre não terão quaisquer alterações nos preços este ano, pelo menos para os que têm conta na EDP Comercial, Galp, Endesa e Iberdrola que, juntas, representam 93,3% dos clientes nesse mercado.
"A EDP Comercial continua a acompanhar com atenção a subida dos preços no mercado grossista, mas mantém que não vai alterar os preços para os clientes domésticos ao longo de 2021, quer para os clientes atuais, quer para novos que queiram aderir à empresa", disse fonte oficial da energética ao Dinheiro Vivo.
Uma posição muito semelhante à da Galp que diz que "tem vindo a garantir nos últimos meses que o aumento do custo de energia não é refletido nos clientes domésticos. A tabela de preços da Galp tem vindo a manter-se". É ainda a posição da Iberdrola, que "segue uma estratégia de aprovisionamento que protege os clientes durante o período contratual", e também da Endesa, que assegura que "este movimento que está a ocorrer agora não vai ter qualquer impacto", porque "há contratos e compromissos", disse o presidente da empresa em Portugal, Nuno Ribeiro da Silva.
São, aliás, estes contratos que permitem manter as tarifas, porque a eletricidade que estão agora a vender aos consumidores foi comprada há mais tempo, quando os preços estavam mais baixos no mercado grossista. Algo que o Comercializador de Último Recurso (CUR), ou seja, a EDP Serviço Universal ou SU Eletricidade, não pode fazer na totalidade. É que o CUR é obrigado a comprar cerca de metade da eletricidade em leilões e o resto no mercado diário, o tal onde os preços estão a bater recordes. Caso contrário, o impacto nos consumidores não seria de um ou dois euros por mês como foi anunciado anteontem, seria muito superior.
Aumentos em 2022?
Os preços não aumentam agora no mercado livre, mas para o ano pode não ser bem assim. "A manter-se este cenário de elevada pressão nos preços grossistas, teremos de refletir, na menor medida possível, ajustes mediante uma revisão de valores", disse fonte da Iberdrola, acrescentando que há formas de atenuar a situação. "Seria desejável que se materializassem as intenções do Executivo de redução da parte não-energia da fatura, indo ao encontro das necessidades dos consumidores".
Ou seja, o que se pretende é que, quando o regulador apresentar as tarifas para 2022, a 15 de outubro, seja repercutidas algumas atenuantes, para que, a haver aumentos, eles não sejam tão expressivos. O Governo já disse que havia "almofadas" para isso, mas só mesmo daqui a cerca de um mês é que se saberá.
O problema é que, com almofadas ou sem elas, o atual contexto não está favorável. "Não sabemos como vão evoluir os preços do gás e das emissões de CO2 [que é o que está a provocar os recordes no mercado grossista] e não sabemos se haverá alterações nas tarifas de acesso às redes", diz Ribeiro da Silva. Por isso é que tanto a Galp como a EDP são cautelosas e dizem estar à espera da decisão do regulador (ERSE) em outubro. Mas, a EDP faz uma ressalva: "A estratégia tarifária dependerá sempre da evolução dos preços no mercado grossista".