A EDP Renováveis entrou com 25 milhões de euros na oferta pública inicial (IPO) que permitirá à francesa Lhyfe aumentar o capital acionista em mais de 110 milhões de euros e ser admitida no mercado de capitais da Euronext em Paris. Em troca, a empresa de Nantes, que pretende tornar-se num dos principais produtores de hidrogénio verde na Europa, firmou com a energética portuguesa um acordo industrial para "identificar, desenvolver, construir e gerir em conjunto projetos" na área do hidrogénio.
Em causa está um "um acordo de colaboração para desenvolver projetos de produção de hidrogénio verde", selado a 6 de maio, entre o quarto maior produtor de energia eólica do mundo e uma empresa pioneira na produção de hidrogénio verde, na Europa. No entanto, só esta terça-feira o acordo está a ser comunicado em Portugal pelas duas empresas.
Por um lado, o grupo EDP, através da subsidiária EDP Renováveis, dá mais um passo numa área que, por estes dias, é uma clara tendência no setor energético. Por outro, a Lhyfe, criada apenas há cinco anos, ganha um parceiro de peso e a possibilidade de vir a desenvolver projetos de hidrogénio não só em Portugal, como em outros 19 países como EUA, Espanha ou Brasil. A energética portuguesa tem hoje uma capacidade total de energia renovável instalada de cerca de 14 gigawatts (GW) em 26 mercados. Já a empresa francesa desenvolve mais de 90 projetos em dez países da Europa: França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Noruega, Espanha e Portugal.
"Ao abrigo deste acordo, a EDP Renováveis vai fornecer eletricidade renovável aos projetos de geração de hidrogénio da Lhyfe", revela ao DV Matthieu Guesné, fundador e CEO da Lhyfe, que graças ao investimento da empresa portuguesa entrará no mercado bolsista francês. Além disso, as duas empresas "vão identificar oportunidades para o co-desenvolvimento de projetos", sendo que a participação da EDP Renováveis em cada um desses projetos "atinge potencialmente até 50% do capital".
"As empresas também vão trabalhar juntas em atividades de I&D [investigação e desenvolvimento] em novos projetos e aquisição de equipamentos", refere o gestor.
"Este acordo pretende gerar valor aproveitando sinergias entre as competências e as capacidades complementares das duas empresas, impulsionando o crescimento do portefólio da EDP Renováveis, especialmente em França, e contribuindo para o desenvolvimento dos projetos da Lhyfe em todo o mundo", acrescenta. O acordo firmado também permitirá às duas empresas "alcançar maior expertise operacional e comercial em projetos de hidrogénio renovável".
"Estamos muito orgulhosos de concluir este acordo com um dos maiores produtores mundiais de energia renovável. A confiança que a EDP Renováveis deposita em nós permite-nos ter confiança no desenvolvimento de hidrogénio renovável a nível mundial e em larga escala", sublinha Matthieu Guesné.
Questionado sobre a relevância de Portugal para a Lhyfe, no âmbito deste acordo, o fundador e CEO da Lhyfe responde: "Portugal tem um grande plano para o desenvolvimento do hidrogénio, pelo que é um alvo importante". A Lhyfe tem atividade em Portugal, desde o verão de 2021, quando entrou no projeto Torres Vedras Living Lab Green Hydrogen. Trata-se de um "pacto" entre 28 entidades com o objetivo de incentivar o desenvolvimento de projetos de hidrogénio na Comunidade Intermunicipal do Oeste.
O CEO da Lhyfe, contudo, não deslinda planos futuros sobre eventuais investimentos no país, em conjunto com a EDP ou por iniciativa própria.
Por sua vez, o CEO da EDP e da EDP Renováveis, Miguel Stilwell d'Andrade, considera que o acordo com a Lhyfe também é "importante" para o grupo que lidera, explicando que a energética procura "promover a descarbonização de todos os setores, incluindo os de difícil eletrificação". O gestor acredita que o hidrogénio poderá "complementar a eletrificação direta como a melhor forma para reduzir as emissões de dióxido de carbono e alcançar a descarbonização da economia".
"Com este acordo, reforçamos o nosso compromisso com a aceleração da transição energética, ao mesmo tempo em que damos um passo para a conquista dos nossos planos de crescimento", realça.
O acordo com a EDP surgiu na sequência do IPO da francesa Lhyfe, que pretende entrar na Euronext de Paris para encontrar fontes de financiamento para os projetos em curso. A empresa que tem sede na cidade de Nantes pretende recorrer ao mercado bolsista para alavancar operações. Para isso já conta à partida com o compromisso da EDP Renováveis (o maior investidor na IPO), que vai investir logo de início 25 milhões de euros. Se no final do IPO, a verba investida pela EDP Renováveis traduzir-se em 20% (ou mais) do capital da Lhyfe, a energética portuguesa passará a deter um representante no conselho de administração da empresa francesa.
A Lhyfe tem um portefólio com uma capacidade instalada total superior a 4,8 GW,, distribuídos por 93 projetos em desenvolvimento na Europa, dos quais 20 já estão em fase avançada de desenvolvimento e deverão entrar em operação até 2026. O plano da empresa passa por instalar mais 3 GW até 2030. Acresce que, desde setembro de 2021, a Lhyfe tem uma unidade industrial diretamente ligada a um parque eólico e a um abastecimento de água, conseguindo fazer já o processo de eletrólise. Por isso, já está a fornecer hidrogénio verde a partir da região de Vendée, no Golfo de Biscaia.
Criada em 2017 por Matthieu Guesné, a Lhyfe defende ser caso único no mundo e "um dos maiores e mais avançados players mundiais no mercado do hidrogênio verde", dada a maturidade dos projetos. Emprega hoje 80 pessoas, globalmente, e tem planos para fechar 2022 com mais de 160 trabalhadores, um crescimento que leva já em conta a parceria com a EDP Renováveis.
O grupo liderado por Miguel Stilwell d'Andrade já fez saber que pretende introduzir 1,5 GW de capacidade de produção de hidrogénio verde até 2030. Criou, entretanto, o H2BU, a unidade de negócios dedicada a projetos de hidrogénio renovável e de outros "setores promissores", tendo em conta que se prevê que a procura por hidrogénio cresça seis vezes até 2050, para as 530 toneladas por ano. Nessa altura, estima-se que o hidrogénio verde deverá representar já 60% de toda a procura por hidrogénio.