Educar por projetos

Nuno Crato e Joana Rodrigues Rato debateram as vantagens e desvantagens de se utilizar o ensino por projetos. Um modelo que deve assentar no estabelecimento de metas bem definidas e na mediação do professor.
Nuno Crato e Joana Rodrigues Rato. Foto: Global Imagens
Nuno Crato e Joana Rodrigues Rato. Foto: Global Imagens
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O ensino por projetos é “uma alternativa para podermos colocar os alunos a pensar, a resolver problemas, a resolver situações e aplicar o conhecimento”, defende Nuno Crato, presidente da Iniciativa Educação. E se nos alunos mais adultos, com um conhecimento técnico suficiente, esse método possibilita a sua progressão para situações mais concretas, o mesmo não ocorre (ou é mais difícil de ocorrer) nos alunos mais jovens.

O tema do ensino por projetos esteve em análise no Educar tem Ciência, uma ação da Iniciativa Educação em parceria com a TSF e o Dinheiro Vivo.

“Acho que o grande problema está na designação project-based learning”, afirma Nuno Crato, que acrescenta que a interpretação é que o ensino deve estar baseado em projetos, em problemas. E o ensino deve estar baseado em projetos, mas também em aulas expositivas e em aulas de discussão lideradas pelo professor. Caso contrário, é uma “receita para o falhanço completo das aulas”, afirma, referindo estar em desacordo com o ensino ser só projetos ou ser predominantemente projetos.

O presidente da Iniciativa Educação defende que se façam projetos e se ensine com problemas, desde que isso seja feito em simultâneo com o ensino dirigido pelo professor.
Para Joana Rodrigues Rato, professora de Neuropsicologia da Universidade Católica Portuguesa, o problema é pensar-se que as aulas expositivas são inimigas daquilo que pode ser um ensino por projetos. Porque o ensino explícito “pode perfeitamente incluir este modo de trabalhar, de ensino por projetos”, afirma a professora que lembra que “aprendemos quando tentamos fazer esta ponte entre o que sabemos, o tal conhecimento prévio, com uma nova aprendizagem, no qual precisamos então de ensino, e aqui ensino explícito, que não precisa ser a questão de transmissão, mas sim, orientado com objetivos escolares”.

Responder a perguntas como: o que é que sabemos? Para onde é que queremos ir? E o que é que estamos a adicionar de novo? Para depois continuar com o como é que eu aplico? Joana Rodrigues Rato acredita que é na parte da aplicação que surge o desafio e onde o ensino por projetos pode ajudar, “desde que também seja claro e que possa haver uma mediação, porque se deixarmos muito ao abandono os alunos, se eles não estiverem efetivamente preparados para isso, não vão conseguir corresponder àquilo que é o objetivo do que estão a aprender”.

É por isso que a professora considera que é no contexto universitário que se pode verificar algum sucesso. Nessa altura, os alunos já têm algum domínio sobre o assunto, o que “permite haver alguma preparação para essa exploração mais autónoma”.

A isto Nuno Crato acrescenta que o projeto tem de ser bem pensado e tem de levar os alunos a definir um problema e, depois, a encarar esse mesmo problema. Assim como definir as ferramentas que se vão utilizar para o resolver, e depois sintetizar as conclusões e apresentá-las. 

“Tudo isto é uma coisa que é difícil, mas é muito bom que se faça”, constata, acrescentando que “os projetos devem ser tanto mais desafiantes, tanto mais exigentes, quanto mais se tenha progredido no conhecimento das matérias”. Sendo que “isso implica da parte do professor uma grande sensibilidade para perceber em que ponto é que os alunos estão em cada momento”. 

Mas o papel do professor vai mais longe. Desde logo, aponta Nuno Crato, na seleção do projeto. “O professor deve, logo de início, com a sua experiência, tentar que o aluno vá aprender o máximo no projeto, porque esse é que é o grande problema. Os projetos, quando são feitos, são feitos para aprender”, afirma. Ao que Joana Rodrigues Rato acrescenta que o ensino de projetos pode ser uma boa ferramenta, mas tem que também ser usada de forma estratégica.

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