Guijuelo, La Muela e Lemona. Se não conhece estes clubes, enterrados nos confins do terceiro escalão do futebol espanhol, é provável que até 2014 também jamais tivesse ouvido falar na Sociedad Deportiva Eibar, que os defrontava fim de semana sim, fim de semana não, no acanhadíssimo Estádio Ipurua, entalado nos vales do Rio Ego, onde, condenada ao anonimato, se situa a pequenina (27 mil habitantes) cidade de Eibar.
A partir de 2014, no entanto, deu-se um milagre no município basco - os Armaginãk, como são conhecidos os jogadores do clube, subiram à principal Liga espanhola para defrontar o Real Madrid, de Cristiano Ronaldo e companhia de craques, e o Barcelona, de Leo Messi e outros monstros do futebol.
Foi apenas o primeiro milagre. Depois, seguiram-se um, dois, três, quatro, até hoje. Como o clube da cidade mais pequenina a alguma vez jogar na exclusiva La Liga sobrevive? Como uma equipa cujo maior valor investido num jogador não superou os cinco milhões de euros se mantém competitiva?
Amaia Gorostiza, a carismática presidente do clube, é parte da resposta. Assim como José Luis Mendilibar, o treinador desde praticamente o dia um da aventura. O terceiro milagreiro é Fran Garagarza, o diretor desportivo que ano após ano tem de vender caro e comprar barato.
"O nosso segredo é se ganhamos cinco, gastamos quatro", disse em reportagem do The Guardian, jornal inglês que, como outras publicações, fez romaria a Eibar para se inteirar do milagre, assim como peregrinos invadem Fátima, Lourdes, Guadalupe, Aparecida ou Medjugorje todos os anos.
Da base de dados de 19 mil atletas, o Eibar escolhe aqueles que mais se adequam ao perfil (baixo) do clube - jogadores bascos, preferencialmente, ou de mercados desconhecidos. Ouve, como é natural, dezenas, centenas de nãos, porque os salários oferecidos não se equiparam aos dos rivais, mas transforma alguns em sins explicando que, pelo menos, neste clube esses salários não falham.
Os milagres são eternos enquanto duram: este ano, os Armagiñak estão em último, mais ameaçados de cair do que nunca. Mas, se caírem mesmo, terão bases sólidas para se levantarem: "as infraestruturas criadas, das camadas jovens ao centro de treinos, e o sentimento de pertença são o nosso legado", diz Garagarza. Para não se fiarem mais em milagres.