A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, expressou esta terça-feira no Fórum Económico Mundial que decorrer em Davos a sua estranheza por ter de "falar de guerra" no fórum que reúne em Davos, na Suíça, as maiores empresas mundiais, dizendo que o "espírito" do encontro "é a antítese da guerra".
"Nos últimos anos procurámos formas inteligentes e sustentáveis de combater as alterações climáticas", destacou a presidente da Comissão, apontando também as estratégias para "moldar a globalização" ou "como tornar a digitalização uma força para o bem e mitigar riscos para as democracias".
"Davos tem tudo a ver com criar um futuro melhor em conjunto. É sobre isso que deveríamos estar a falar aqui hoje. Em vez disso, devemos abordar os custos e as consequências da guerra de escolha de Putin", afirmou Ursula von der Leyen.
A chefe do executivo comunitário insistiu que a "Ucrânia tem de ganhar esta guerra", e recuperou a ideia de que a "a agressão de Putin tem de representar um falhanço estratégico".
No seu discurso perante o fórum de Davos, Von der Leyen destacou o impacto das sanções europeias e dos parceiros internacionais sobre a economia russa. Sem nunca se referir ao embargo ao petróleo proveniente da Rússia, que consta da proposta de Bruxelas, a presidente da Comissão salientou a importância de reduzir a independência energética, uma vez que o Kremlin "usa a energia como arma".
A apontar para o período pós-guerra, Von der Leyen lembrou que propôs a criação de "uma plataforma de reconstrução a ser liderada pela Ucrânia e pela Comissão Europeia", que seguirá um modelo de investimento "combinado com reformas"
"A plataforma convida contribuições globais - de qualquer país que se preocupe com o futuro da Ucrânia, de instituições financeiras internacionais e do setor privado", afirmou, referindo-se à estratégia que já foi apelidada de "Plano Marshall para a Ucrânia", que pode passar pelo recurso a "ativos russos" para a reconstrução do país.
"Precisamos de todos a bordo. (...) E não devemos deixar pedra sobre pedra - incluindo, se possível, o uso de ativos russos. Mas não se trata apenas de desfazer os danos da fúria destrutiva de Putin. Trata-se também de construir o futuro que os ucranianos escolheram para si", frisou.
Em matéria de reformas, Von de Leyen destacou a "modernização da administração da Ucrânia, estabelecer firmemente o Estado de Direito e a independência do seu sistema judiciário; combater a corrupção; construir uma economia justa, sustentável e competitiva".
A chefe do executivo de Bruxelas acredita que assim estará a "apoiar firmemente a Ucrânia na prossecução do seu caminho europeu", reiterando que "a Ucrânia pertence à nossa família europeia".
Von der Leyen alertou ainda para as consequências da agressão russa à Ucrânia, a qual pode resultar numa "escassez" a nível alimentar em todo o mundo.
"Na Ucrânia ocupada pelos russos, o exército do Kremlin está a confiscar os stocks de grãos de cereais e maquinaria. Para alguns, isso trouxe de volta memórias de um passado sombrio - os tempos das apreensões de colheitas soviéticas e a fome devastadora da década de 1930", comparou.
"Hoje, a artilharia russa está a bombardear armazéns de cereais em toda a Ucrânia - deliberadamente. E os navios de guerra russos no Mar Negro estão a bloquear navios ucranianos cheios de trigo e sementes de girassol", afirmou, apontando para as consequências "desses atos vergonhosos que estão à vista de todos".
"Os preços globais do trigo estão a subir rapidamente. E são os países frágeis e as populações vulneráveis que mais sofrem", lamentou.
"O preço do pão no Líbano aumentou 70% e os embarques de alimentos de Odessa não puderam chegar à Somália. Além disso, a Rússia está agora a acumular as próprias exportações de alimentos como forma de chantagem, retendo os abastecimentos para aumentar os preços globais ou negociando trigo em troca de apoio político. Isto é: usar a fome e os cereais para exercer o poder", criticou.
Para a chefe do executivo comunitário, "a resposta é e deve ser mobilizar uma maior colaboração e apoio a nível europeu e global", salientando que "a Europa está a trabalhar no duro para levar cereais aos mercados globais".
"Atualmente, existem 20 milhões de toneladas de trigo presos na Ucrânia. A exportação habitual era de 5 milhões de toneladas de trigo por mês. Isso agora caiu para 200.000 a um milhão de toneladas", afirmou, convencida que a divulgação destes dados pode fornecer aos ucranianos e ao Programa Alimentar Mundial as receitas "muito necessárias e que ele tanto precisa".