A pandemia atingiu em cheio os casinos portugueses. Serão dois anos de quebras históricas nas receitas do jogo. Depois de em 2020 terem registado uma queda de 50% nos proveitos face a 2019, para um total de 157,9 milhões de euros, o setor prepara-se para uma hecatombe ainda maior. Nestes primeiros sete meses de 2021, só trabalharam uma média de 65 dias. O resultado é uma receita bruta de jogo de 44 milhões de euros, uma descida de 49,5% quando comparado com os 87,1 milhões gerados no mesmo período de 2020. Já face ao acumulado de janeiro a julho de 2019, período pré-pandémico em que contabilizaram receitas de 178,2 milhões, o decréscimo é de 75,3%.
"Neste ano de 2021, a situação conseguiu ainda piorar um pouco", diz fonte oficial da Associação Portuguesa de Casinos (APC). À obrigatoriedade de fecharem as portas em meados de janeiro e até final de abril, dentro das medidas restritivas implementadas pelo governo para controlar a pandemia, somaram-se períodos de encerramento determinados pelos níveis de risco dos municípios e os horários de funcionamento foram sofrendo várias alterações e restrições.
Como realça o porta-voz da APC, verificaram-se uma série de mudanças à medida que foram saindo os sucessivos decretos e regulamentações, "com horas de fecho às 22 horas, depois às 23, depois à 1h, depois às 22h30". E "a abrir numas semanas para fechar noutras". Estas intermitências na operação, com os clientes a deixarem de saber se os casinos estavam abertos e a que horas estavam a funcionar, "veio causar uma diminuição abrupta das visitas, e as receitas voltaram a registar uma quebra significativa", justifica.
Neste contexto, as expectativas para o exercício deste ano são pouco animadoras, apesar de todos os casinos portugueses se encontrarem em funcionamento desde 24 de julho, sem quaisquer condicionantes derivadas de classificações de risco dos concelhos onde se situam. Como outras atividades de turismo e lazer, o acesso dos clientes está condicionado à exibição do certificado de vacinação ou de teste com resultado negativo. Já no início deste mês, foi também permitida a abertura de portas às 14 horas e o fecho às duas da manhã, em moldes próximos da normalidade.
Mas, no entretanto, "dois terços do ano já passaram e já não é minimamente possível, nos quatro meses e meio que faltam até ao fim do ano, evoluir para um nível de receitas equivalente ao de 2020", sublinha a APC. Nas contas da associação, mesmo sem novos encerramentos ou limitações de horário, as receitas de 2021 deverão ficar entre os 95 e os 110 milhões de euros, previsão que, a confirmar-se, traduz uma quebra de 30 a 40% face a 2020, e de 65 a 70% abaixo do registado em 2019.
Para reduzir o impacto da crise sanitária na atividade dos casinos, o governo decidiu isentar os casinos portugueses do pagamento das contrapartidas anuais sobre as receitas de jogo até 2022. Em maio, em resposta ao DN/Dinheiro Vivo, o Ministério da Economia adiantou que estava a ser criado, em articulação com a associação do setor, "o quadro apropriado para gerir o impacto da pandemia e das restrições ao funcionamento dos casinos neste ano e no próximo, que tornam inexigíveis as contrapartidas existentes nos contratos e que comprometem a solvabilidade das empresas".
Também devido à covid-19, as concessões das zonas de jogo do Estoril/Lisboa e da Figueira da Foz, que terminavam a 31 de dezembro de 2020, foram prorrogadas por mais um ano, sem que houvesse lugar ao pagamento de contrapartidas por esse prolongamento.