Embaixador chinês defende Huawei em Portugal e rejeita “mentalidade de Guerra Fria”

Em setembro de 2023, a Comissão Europeia disse caber aos Estados-membros da União Europeia (UE) decidir que fabricantes excluir do desenvolvimento das redes móveis de quinta geração (5G).
O Embaixador da China em Portugal, Zhao Bentang
O Embaixador da China em Portugal, Zhao BentangArtur Machado / Global Imagens
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O Embaixador da China em Portugal, Zhao Bentang, defendeu o papel da chinesa Huawei, considerada pelas autoridades como de alto risco para desenvolvimento das telecomunicações 5G, na tecnologia portuguesa e rejeitou uma “mentalidade de Guerra Fria” na questão.

Em entrevista à agência Lusa, o diplomata disse que o 5G da Huawei começou em 2003 e com a empresa Altice houve uma “cooperação importante”, resultando em que Portugal disponha dessa tecnologia.

E “nunca correu perigo, nunca teve problemas de confidencialidade”, frisou o diplomata.

“Tal como em outras áreas, a cooperação de tecnologia ajudou ao desenvolvimento de Portugal e também beneficia a parte chinesa. São projetos muito evidentes de benefício mútuo”, afirmou Zhao Bentang.

“Tratar estes temas com uma mentalidade de Guerra Fria ou intervir de uma maneira forçosa é como uma violação de regras internacionais, uma violação de benefício de outros”, sublinhou.

“Não acredito que beneficie Portugal ou a China. Estamos totalmente contra e opomo-nos a isso. Sempre quisemos comunicar e coordenar para que as cooperações corram bem”, concluiu o embaixador à Lusa, na resposta a dúvidas levantadas sobre tecnologia chinesa.

Em setembro de 2023, a Comissão Europeia disse caber aos Estados-membros da União Europeia (UE) decidir que fabricantes excluir do desenvolvimento das redes móveis de quinta geração (5G).

“Desde o primeiro dia, em que pusemos em prática a chamada ‘caixa de ferramentas’ sobre o 5G, obviamente não mencionámos nenhuma empresa, mas mencionámos o risco que qualquer país deve evitar ao selecionar ou ter as suas empresas a selecionar os fornecedores e, claro, a decisão foi tomada por eles [Portugal]”, declarou o comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton.

O comissário disse que “a Huawei tem algumas partes de equipamento que não têm qualquer problema, mas outras podem ter algum problema e cabe aos Estados-membros decidir”.

Dias antes das declarações do comissário europeu, a Huawei tinha confirmado a apresentação de uma “ação administrativa no Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa contra a deliberação 1/2023 e documentos relacionados relativos aos equipamentos 5G, emitidos pela Comissão de Avaliação de Segurança (CAS)".

Em maio, a CAS, no âmbito do Conselho Superior de Segurança do Ciberespaço, divulgou uma deliberação sobre o “alto risco” para a segurança das redes e de serviços 5G do uso de equipamentos de fornecedores que, entre outros critérios, sejam de fora da UE, NATO ou OCDE e que “o ordenamento jurídico do país em que está domiciliado” ou ligado “permita que o Governo exerça controlo, interferência ou pressão sobre as suas atividades a operar em países terceiros”.

Assumida como uma prioridade europeia, a aposta no 5G já motivou também preocupações com a cibersegurança, com a Huawei a estar no centro de polémica por alegada espionagem em equipamentos 5G, o que a tecnológica tem vindo a rejeitar, reiterando a falta de provas.

À Lusa, o embaixador chinês em Portugal indicou como a “China advoga por uma globalização económica de benefícios mútuos e mais inclusiva e a cooperação tecnológica ajuda e beneficia as duas partes”.

Quando se comemoram 45 anos das relações diplomáticas entre os dois países, o diplomata destacou também como as empresas chinesas entraram em Portugal depois da crise financeira, “num momento muito difícil”, sempre com tónica na cooperação e para “ajudar a sair da crise”.

“Os líderes portugueses sempre lembram esta história” com a cooperação inicialmente a basear-se, sobretudo, em setores tradicionais como “finanças, bancários, energias”, frisou.

Mas o foco mudou para “novas áreas de tecnologia, da inovação, de educação e de recursos renováveis” como carros elétricos, baterias de lítio, e “também se está a estudar construir um centro de investigação conjunta de saúde”, adiantou.

“Já com novos conceitos desse desenvolvimento económico, temos novas áreas de cooperação”, resumiu.

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