Empresários da indústria e do comércio preocupados com o emprego no arranque de 2025

Já na construção, as perspetivas para o número de pessoas ao serviço até fevereiro continuam a melhorar, indicam os inquéritos do INE, que auscultou quase cinco mil gestores do privado. No grande setor dos serviços, o sentimento está assim-assim.
Foto: Reinaldo Rodrigues
Foto: Reinaldo Rodrigues
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O emprego tem sido um dos indicadores mais positivos e promissores da economia portuguesa, batendo sucessivos máximos históricos a nível nacional, mas começam a surgir sinais de fadiga em alguns ramos de atividade, mostram dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Todos os meses o INE conduz os inquéritos de conjuntura às empresas e aos consumidores, auscultando, do lado empresarial, quase cinco mil gestores e responsáveis do setor privado.

Os gestores ligados à indústria transformadora e ao comércio estão mais descrentes quanto ao número de pessoas que poderão ter ao serviço nos próximos três meses, ou seja, até final de fevereiro que vem.

Para compensar, a aura ainda continua bastante positiva entre os empresários da construção.

Nos serviços, setor que representa mais de 70% do emprego total em Portugal, o sentimento sobre a evolução do emprego nos próximos meses está assim-assim.

No levantamento feito junto dos empresários entre os dias 1 e 22 de novembro, a maioria dos 1400 responsáveis da indústria transformadora revela estar bastante mais pessimista quanto à capacidade de criar emprego nos próximos três meses, isto é, antecipando já o que pode vir a acontecer no arranque do novo ano.

O indicador que sintetiza a opinião sobre o emprego futuro na indústria transformadora (o INE pergunta aos empresários se ao longo dos próximos três meses, a tendência para o número de trabalhadores nas respetivas empresas será de aumento, estabilização ou diminuição), caiu abruptamente em novembro face a outubro, apontando para uma situação de congelamento ao nível de postos de trabalho.

É preciso recuar ao início de 2020, tinha acabado de começar a pandemia, para encontrar um sentimento mais negativo do que o atual.

Este sentimento é consistente com o que está a acontecer no emprego de facto. Segundo o INE, o número de postos de trabalho na indústria transformadora caiu quase 1% no terceiro trimestre face a igual período de 2023.

Estamos a falar de um setor que emprega mais de 822 mil pessoas em Portugal, representando 16% do emprego nacional, de acordo com o inquérito trimestral do INE sobre o mercado de emprego.

No comércio, setor que emprega 770 mil pessoas, os ânimos também estão a esfriar, apontando para uma quase estagnação no número de pessoas ao serviço nos próximos três meses. Foram ouvidos quase 1300 empresários do ramo comercial.

Na atividade construção e obras públicas, o tom é o oposto, a confiança quanto ao emprego que aí vem está a crescer.

De acordo com o barómetro do INE, as perspetivas de emprego nos próximos três meses estão a subir na construção e no melhor nível desde setembro de 2023.

O INE trabalha com uma amostra de 650 empresários/gestores das obras, que emprega 360 mil pessoas em Portugal (7% do emprego total da economia).

Finalmente, os serviços, setor que representa mais de 70% do emprego, e onde constam as atividades mais ligadas ao turismo, como alojamento, restauração e imobiliárias. Aqui o sentimento está num ponto positivo, isto é, a maioria dos empresários ainda antecipa uma expansão do emprego até fevereiro, mas o indicador está a perder força.

Segundo o INE, no terceiro trimestre (portanto, o período que apanha o verão, julho a setembro), o emprego do segmento "alojamento e restauração" afundou mais de 9% em termos homólogos. Trabalham nestas atividades quase 320 mil pessoas (6% do total nacional).

Para Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, "o mercado de trabalho continua robusto, com aumentos do emprego e dos salários reais, a par da manutenção de um desemprego historicamente baixo".

No entanto, o crescimento da economia, que deve cotar-se num ritmo acima dos 2% nos próximos dois anos, não será tão bem acompanhado pelo emprego que, em todo o caso, pode continuar a bater recordes.

A criação de emprego terá atingido 1,3% este ano, mas deve abrandar para 0,8% em 2025 e 0,7% em 2026, segundo o banco central, no mais recente boletim económico. 0,7% é cerca de metade do ritmo atual.

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