"As empresas são feitas de homens e mulheres, de um espírito de equipa e de um ambiente social que, na Ramirez, é único", diz Manuel Ramirez, a quarta geração à frente da mais antiga empresa de conservas do mundo em laboração.
Como única é a creche que a Ramirez ainda hoje mantém, consciente da importância do apoio familiar numa empresa onde a esmagadora maioria da força de trabalho são mulheres.
José Vieira é bem mais jovem, embora seja, também, a quarta geração na Viarco, e partilha dessa preocupação. E que se traduz no facto de, embora com graves dificuldades financeiras, jamais ter despedido um trabalhador.
"As empresas não são meros instrumentos de acumulação de riqueza. São instrumentos de desenvolvimento social", defende. E, por isso, quando em 2011 ficou proprietário a 100% da Viarco, assumindo a posição dos tios e primos, mas a braços com uma empresa em graves dificuldades financeiras e sem dinheiro sequer, para comprar matérias-primas, valeu-lhe as excelentes relações que tinha estabelecido.
"Se não tivéssemos tido uns fornecedores brutais, que nos adiantavam as matérias-primas, e uns clientes fantásticos que nos adiantavam o pagamento, jamais teríamos tido a capacidade de dar a volta. Não havia crédito, se dependessemos da banca, tínhamos morrido na hora", sublinha.
A fábrica centenária, no centro de São João da Madeira, é algo que muitos não teriam hesitado em transformar numa mais-valia imobiliária. José Vieira defende que um "património único" não pode ser desbaratado. "A vantagem de trabalharmos numa empresa com 100 anos é que isso nos dá a noção plena que estamos aqui de passagem", frisa.
Aquiles Brito, bisneto do fundador da Ach. Brito, tem consciência disso. "O maior orgulho que posso ter é um dia saber que a marca está bem implementada por esse mundo fora. Será o meu legado. E se daqui por 20 anos a empresa estiver cá, e tiver feito o seu percurso, mesmo que eu não faça parte dela, terei cumprido com a minha obrigação que é dar-lhe as condições para que ela cresça e continue o seu percurso".
Isto porque o capital da Ach. Brito já não é detido a 100% pela família. A entrada da sociedade de capital de risco Menlo Capital, com uma posição que se supõe maioritária (a empresa não dá pormenores do negócio), levou a que a presidência executiva seja agora ocupada por Ricardo Cunha Vaz. Mas crédito foi coisa que nunca faltou à Ach. Brito. "A banca sempre esteve comigo, mesmo nas alturas mais difíceis", garante Aquiles Brito.
Também a Cifial já não é propriedade exclusiva da família Marques. A dura crise a que foi sujeita a partir de 2008 obrigou à entrada da ECS Capital, que tem 90%. Mas a liderança continua a ser de Luísa Marques Rola, a terceira geração na empresa. Sente-a menos familiar, menos sua, pela presença da ECS quisemos saber? "Quando se está num projeto a 100%, essas questões não se colocam. Estamos muito focados no trabalho e nos resultados", diz.
Desistir é coisa que já passou pela ideia de todos ou quase todos. Que o diga Luísa Marques: "Claro que a tentação aparece, ocasionalmente. Mas quando se esfria a cabeça, rapidamente passa. Não se deixa cair um património social e industrial como este. Seria completamente irresponsável. E, por isso, mesmo com todos os danos pessoais e familiares, sabemos que não podia ter sido de outra forma", sublinha Luísa Marques Rola.
E se é verdade que Luísa teve que dar a cara pela Cifial no seu período mais difícil, não lhe faltou o apoio do seu pai, Ludgero Marques: "Pude sempre contar com o conforto, a segurança e o conhecimento dele para qualquer decisão que tivesse que tomar".
Tentação de fechar Manuel Ramirez nunca teve, mas teve de resistir às sugestões de dois governantes que, na década de 80, lhe sugeriam que deslocalizasse as fábricas para o Extremo Oriente. Ofertas de compras "graças a Deus" teve muitas. Porque não vendeu? "E depois ia fazer o quê? Esta é a nossa vida! Além do mais, não ia desperdiçar toda a preparação que dei aos meus filhos e que eles estão a dar aos deles", sublinha.
"Temos resistido a tudo o que são tentações de ir fazer no estrangeiro. Temos sido desafiados para isso, mas não queremos", diz Rosário Pinto Correia, a gestora que a família Ferreira Marques foi buscar para gerir a Topázio.
A estrutura acionista da Lello também tem sofrido uma série de alterações ao longo destes 134 anos. A mais recente marca a entrada de Pedro Pinto, empresário portuense e administrador executivo do Centro Empresarial da Lionesa no capital da Livraria Lello, SA.
Um dos exemplos da transformação da cidade do Porto na última década. "A Lello já surgia nos guias turísticos da década de 60. E lembro-me que tínhamos turistas há 25 e 30 anos a visitarem-nos. Mas foi a globalização e o crescimento do turismo no Porto que nos colocaram onde estamos".
Já a Real Companhia Velha tem a sua estrutura acionista estável desde a década de 90, quando da Casa do Douro comprou 40% da empresa (hoje são só 30,5%). O seu grande desafio, diz Pedro Silva Reis, "é sobreviver à mutação dos tempos". A crise mais recente "beliscou" a empresa, reconhece o gestor, mas foi superada.
Embora as incertezas sejam constantes. "Vivemos um excelente momento enológico e temos a casa arrumada, equilibrada. Vendemos para mais de 40 países, mas há sete que sustentam a empresa, entre eles Angola e o Brasil. E quem podia prever que a crise em que ambos se encontram?", diz.