Empresas de transportes multiplicam operações para responder à procura

Investimentos em instalações, na aquisição de viaturas, em recursos humanos e em aquisições e parcerias denotam um setor com ambições de expansão em várias frentes.
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Com a pandemia muitos foram os portugueses que "descobriram" o comércio eletrónico. Não porque desconhecessem o modelo, mas porque não tinham ainda tido necessidade específica de a ele recorrer. O confinamento mudou tudo e, em 2020, o e-commerce cresceu 46% em Portugal, alcançando um valor total na ordem dos 4,4 mil milhões de euros. Em 2021, a tendência manteve-se, beneficiando as empresas de transportes. Em quadra natalícia, as solicitações aumentam.

DPD Portugal. Entrega são domicílio triplicaram
Na DPD Portugal, os serviços de home delivery quase triplicaram - desde março de de 2020, este segmento de negócio cresceu 188% -, à boleia das mudanças de comportamento dos consumidores que passaram a privilegiar mais o comércio eletrónico em vez da compra presencial. E para melhorar a experiência do cliente, "proporcionando-lhe maior autonomia e conveniência", a DPD Portugal tem também apostado no reforço da sua oferta de lojas pick-up e lockers, dispondo já de quase mil pontos de levantamento em todo o país.

Sobre a época natalícia, a empresa estima entregar 2,8 milhões de encomendas, mais 20% face aos 2,3 milhões do ano passado e que, já por si, representavam um crescimento de 26% comparativamente a 2019. "De forma a dar resposta ao expectável aumento do número de pedidos no período de 24 de novembro a 24 de dezembro, a DPD reforçou a sua operação com a criação de duas estações temporárias em Alfena e Sintra e a contratação de mais de 600 colaboradores, de forma a conseguirmos manter a qualidade dos nossos serviços", explica Olivier Establet, CEO da DPD Portugal.

O responsável sublinha que está a ser construído um novo hub, num investimento de 24 milhões de euros, com o intuito de "aumentar a capacidade de processamento de encomendas na área da Grande Lisboa, e cujo início do funcionamento está previsto para 2023".

Luís Simões. "2022 será ainda um ano duro"
Outra empresa que cresceu substancialmente em pandemia foi o grupo Luís Simões, cujas operações de e-commerce triplicaram, em Portugal, em 2020. Só no primeiro confinamento, a atividade cresceu 123%, chegando a alcançar uma média diária de 11 mil envios. Já 2021 foi um ano "duro", mas "muito interessante", com um "crescimento significativo" do negócio, diz Vítor Enes, diretor-geral de Desenvolvimento de Negócios do grupo. E a campanha de Natal já regista uma "atividade semelhante" à da época pré-covid.

Vítor Enes reconhece que há "muita instabilidade" na operação, "com dias completamente díspares" em termos de atividade. A maior dificuldade prende-se com a "instabilidade de fluxos", havendo "problemas ao nível dos inventários dos clientes" e "aumentos de custos inerentes à atividade".

Sobre as perspetivas para 2022, o gestor é claro: "Ainda esperamos um 2022 duro, devido às incertezas geradas pela pandemia, os consequentes efeitos nas cadeias logísticas mundiais e os respetivos aumentos de custos". Mas o grupo está preparado para "continuar a crescer".

Paulo Duarte. "Já não se suporta os custos do gasóleo"
O ano foi de expansão para a Transportes Paulo Duarte. O bom desempenho das exportações nacionais levou a empresa a aumentar a sua frota, adquirindo 180 novas unidades, que não só permitem um aumento da carga útil transportada, como reduzem o consumo de combustível na ordem dos 8%.

Além disso, comprou duas empresas em Espanha, mais especificamente em Alicante, negócio que lhe permitirá "reforçar a sua posição no mercado", aumentando a capacidade de resposta com uma frota própria com 1367 viaturas. "No ano em que celebramos 75 anos de vida somos uma das maiores e mais respeitadas empresas de transporte a operar no mercado ibérico", sublinha Gustavo Paulo Duarte, diretor-geral da empresa de Torres Vedras.

A transportadora ambiciona ser "a mais ágil e mais rentável" empresa de transportes a atuar no âmbito nacional e internacional nas áreas do alimentar e mercadorias perigosas, tendo previsto investir cerca de 10 milhões de euros, nos próximos cinco anos, na sua estratégia de expansão. E que resultará, espera, numa duplicação do volume de negócios.

Já este ano reforçou os seus quadros com 100 novas contratações, totalizando mais de 1300 trabalhadores, uma tendência que se manterá nos próximos anos, com o reforço internacional, que acarreta acréscimo de atividade administrativa em Portugal.

Para a época natalícia, a empresa espera um crescimento na procura na ordem dos 25% no segmento de e-commerce. Mas é no transporte de líquidos alimentares, em especial no vinho e azeite, que o acréscimo da procura é mais significativo, na ordem dos 39%. O aumento do preço dos combustíveis é uma preocupação.

"As empresas já não conseguem suportar a subida dos custos do gasóleo e quando o começarem a refletir nos custos do frete, quem vai sofrer são os portugueses, que vão sentir diretamente no bolso o aumento dos bens essenciais", diz Gustavo Paulo Duarte. O também vice-presidente da ANTRAM não tem dúvidas: "É essencial uma medida de choque nos impostos aplicados ao gasóleo para as transportadoras".

Papiro. Renovação da frota e rebranding da marca
A atuar numa área de negócio um pouco diferente está a Papiro, que este ano celebra 20 anos e lançou novas marcas, como a Papiro Expresso, que abarca todos os serviços de estafetagem. 2020 foi um "ano de consolidação", quando "a diminuição de receitas com a área de estafetas internos nas empresas, consequência redução da presença dos colaboradores nos escritórios, foi compensada com um aumento dos serviços de entregas seguras e personalizadas de documentos e outros volumes, nomeadamente entregas a colaboradores em teletrabalho".

Luís Bravo, CEO da empresa, mostra-se "otimista" quanto ao próximo ano. "A cedência de estafetas internos, em regime de tempo parcial ou completo, integrados nas equipas de mailroom externo da Papiro, são a grande aposta para o próximo ano, até porque se perspetiva um retorno gradual dos colaboradores aos escritórios. A integração de vários serviços e as sinergias decorrentes dessa integração são uma das mais-valias das soluções Papiro Expresso", sublinha.

O maior constrangimento na atividade da empresa tem sido o agravamento dos custos com os combustíveis. "Até ao momento, temos acomodado esses aumentos, pese embora o seu reflexo nos resultados operacionais da empresa. O nosso nível de serviço, fator com que nos procuramos diferenciar, mantém-se e continuamos a apostar num serviço rápido, personalizado e seguro", frisa.

Dos 1,5 milhões de euros que a empresa vai investir entre este e o próximo ano, designadamente nas suas instalações a norte, destaque para a aposta na renovação da sua frota e no rebranding da marca, em que aplicou 30 mil euros.

DB Schenker. Cadeias de abastecimento perturbadas
A DB Schenker, um operador de transporte e logística ao nível internacional, admite que a Ómicron vai perturbar o transporte de bens e receia que, no próximo ano, a disrupção das cadeias de fornecimento pode não estar ultrapassada.

"Com o agravamento da pandemia verificado nas últimas semanas é inevitável que o nível de pessoas infetadas na cadeia volte a aumentar e a prolongar esta disrupção nos próximos meses. É, por isso, expectável que, pelo menos, até final de 2022 não se consiga voltar a uma situação mais estável nas cadeias de abastecimento", antevê António Paulo, diretor-geral da DB Schenker em Portugal.

A empresa diz ter conseguido "reduzir esse impacto nas cadeias de valor dos clientes", socorrendo-se de meios alternativos ao transporte tradicional, "tirando partido da eficácia" da sua "rede de transporte terrestre rodoviário e ferroviário a nível mundial, assim como através do transporte aéreo, quando a urgência" dos "clientes é mais crítica".

A DB Schenker, questionada sobre quais as mercadorias com mais dificuldades em fazer chegar a Portugal, aponta que "algumas empresas mais dependentes das importações do mercado asiático têm vindo a sofrer particularmente".

"O backlog [atraso] nos principais portos internacionais continua a ser elevado, não sendo atualmente capaz de dar resposta à elevada procura que se verifica desde que a economia global voltou a reagir, depois do período de lockdown em 2020. Este constrangimento tem provocado uma escassez de matéria-prima que está a afetar vários setores da indústria, da construção, a produção automóvel, mas também nas diversas áreas do retalho", assume ainda.

A subida dos preços de transporte reflete também a falta de recursos humanos em algumas áreas. O responsável da DB Schenker admite que a " escassez de mão-de-obra qualificada no setor da logística e transportes não é um problema novo e tem vindo a acentuar-se nos últimos anos".

No próximo ano, António Paulo assegura que a DB Schenker "vai continuar o seu percurso de desenvolvimento, não só em Portugal como a nível global, expandindo o seu posicionamento por forma a estar cada vez mais próxima dos seus clientes". "Nesta expansão estão previstos novos terminais e também estão a ser avaliadas algumas aquisições/novas parcerias", acrescenta.

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