Fazer previsões no atual contexto é muito difícil, mas o tecido empresarial exportador está bem preparado para procurar oportunidades. É nisso que acredita Pedro Magalhães, que lidera o Comércio Internacional na Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP). "Portugal goza de uma imagem internacional em termos turísticos, empresariais e de credibilidade como há muitos anos não víamos e o investimento estrangeiro aqui, até à pandemia, atingiu valores recorde, pelo que temos todas as condições para uma recuperação rápida e sustentada. Mas vai ser preciso manter o foco na internacionalização e nas exportações (fazendo crescer a sua importância no PIB nacional) e captar o investimento estrangeiro e o capital de que precisamos, num quadro de concorrência internacional a que o nosso vice-presidente, Paulo Portas, ainda recentemente se referiu como muito exigente.".De resto, neste ano, há "claramente uma procura maior em todos os serviços de apoio à internacionalização, nomeadamente pela transição para o digital - webinars, formação e agendamento de reuniões online / missões virtuais". E se há vontade das empresas de fazer missões presenciais, é difícil concretizá-las com as restrições de entrada nos países - quarentenas, confinamentos, teletrabalho obrigatório das empresas locais... "Nestes casos passamos a missão para virtual e asseguramos que as empresas têm as reuniões previstas.".Apesar de reconhecer que "o contacto pessoal é sempre diferente, gerador de confiança e empatia e garantia de que se conhece em maior detalhe a realidade de cada empresa envolvida", a atividade da CCIP soube digitalizar-se a fundo no último ano. "Fomos muito bem recebidos nas deslocações que fizemos em 2020 - realizámos quatro missões presenciais, num ambiente de total segurança e com algumas das empresas a conseguirem ordens de encomenda nas semanas que se seguiram à missão, o que é extraordinário nesta fase." E mesmo online fez-se a diferença.."Não há feiras, as deslocações estão limitadas, mas a procura de bens e serviços continua, e as empresas mais dinâmicas vão sempre procurar caminho para manterem os níveis de faturação que causem o menor impacto nos seus negócios", lembra Pedro Magalhães. .O responsável sublinha que há oportunidades no mundo inteiro e decidir um negócio novo dependerá "do produto ou serviço que temos, da sua inovação, do que aportará de valor a esse mercado". É missão da CCIP ajudar nesses passos. "O que temos feito, e porque não podemos abarcar todo o mundo num ano, é construir planos de ação de internacionalização anuais a mercados onde tenhamos mais procura por parte dos empresários portugueses e onde tenhamos consultores locais que confirmem interesse pelos produtos e serviços das empresas nacionais." .Hoje, há procura sobretudo "nos mercados no sudeste asiático e na África Ocidental, mas também na Eurásia e na América Latina", diz Magalhães, quando há cinco anos a maioria estava ainda à procura de apoio para os PALOP ou países europeus. "É uma mudança muito positiva e necessária, que nos trará benefícios a longo prazo." .Depois de um 2020 "muito complexo para as exportadoras", com muitas adaptações e novos desafios, agora é ainda mais determinante "esclarecer, apoiar e ajudar as empresas" a chegar a novos mercados de forma a minimizar o impacto negativo da pandemia. "Temos um plano bastante flexível, com mais de 80 ações de apoio à internacionalização ao longo do ano, num misto de 45 missões presenciais e virtuais a mais de 35 mercados, webinars e eventos sobre internacionalização 100% online, formação em diferentes temáticas ligadas ao comércio internacional, missões inversas de importadores, distribuidores e compradores internacionais e também o lançamento do estudo insight, que que nos permitirá aferir as respostas de mais de mil PME nos seus processos de exportação e adequar estratégias para o futuro", elenca o responsável..E que medidas do governo podiam ajudar a atingir essa maior força das exportações e de captação de IDE? Pedro Magalhães aponta caminhos a vários ritmos. Numa primeira fase, as empresas precisam de acesso ao dinheiro. "Não há como dar a volta - precisam de mais fundos para continuarem os planos de internacionalização e abordagem a novos mercados, para qualificarem os RH e as unidades produtivas e para apostarem cada vez mais na inovação, na digitalização e na flexibilidade e eficiência dos seus produtos e serviços." Agilidade e robustez das linhas de apoio, mas também prioridades bem definidas para os fundos europeus, portanto, garantindo que chegam a projetos capazes de alavancar as exportações de forma exponencial. .O responsável pela pasta da internacionalização da CCIP considera ainda essencial "uma maior capacidade de lobby internacional fora do âmbito do Turismo". E realça uma necessidade que tem sido "comentada por muitas empresas que são clientes da Câmara de Comércio e Indústria": de capacitar as nossas Embaixadas e Consulados de mais quadros dedicados a este trabalho de diplomacia económica. "Todo o investimento que se fizer nesta sede servirá para aumentar - ainda mais - os bons resultados que temos conseguido", acredita Pedro Magalhães.