Empresas vão gastar mais 10% no seguro de saúde dos trabalhadores

O acréscimo previsto para Portugal no próximo ano é idêntico à estimativa a nível global e será o valor mais alto do aumento desde 2015, de acordo com um estudo da Aon.
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No próximo ano, as empresas portuguesas que oferecem planos de saúde aos seus trabalhadores vão pagar mais 10%, em média, de acordo com uma estimativa da Aon, empresa de serviços nas áreas de risco, reforma, saúde e pessoas, no seu relatório anual sobre tendências das taxas médicas para 2024.

A subida prevista de 10% na taxa dos custos com planos de saúde Portugal compara com o aumento de 7% (média anual) registado em 2023. Também a nível global, a tendência será de aumento e deverá fixar-se nos 10,1%, face aos 9,2% deste ano, "sendo este o valor mais alto desde 2015", antecipa a consultora.

Entre as causas para a evolução esperada são apontados o contexto económico inflacionário atual, bem como fatores relacionados com a "crescente incapacidade de resposta" do Sistema Nacional de Saúde (SNS). Rita Silva, senior associate em HR Solutions da Aon Portugal, lembra o facto de, "nos últimos dois/três anos, muitos diagnósticos terem sido atrasados e resultarem agora na deteção de situações clínicas em estado mais avançado (implicando tratamentos mais prolongados e mais caros)", o que teve como consequência uma maior utilização do sistema de saúde privado.

Dá como exemplo o crescimento de custo associado à utilização da cobertura de parto, que tradicionalmente ocorria nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, que agora apresenta uma falta de resposta quase permanente. "Se no passado muitas pessoas que dispunham de planos de saúde privados continuavam a preferir fazer partos no público, o contexto atual - greves, serviços fechados, etc. - faz com que essa deixe de ser uma alternativa para a maioria das pessoas", afirma.

Da mesma forma, existe uma grande parte de custos destes planos relacionadas com Estomatologia e Oftalmologia que "sabemos serem áreas tradicionalmente com fraca cobertura por parte do SNS". Perante as limitações do setor público, as empresas sabem que oferecer planos de saúde aos seus funcionários é uma mais-valia. No entanto, como frisa Rita Silva, atualmente, estas "enfrentam um dilema entre a capacidade de continuar a acomodar aumentos consecutivos dos prémios dos planos de saúde e continuar a manter esses planos relevantes e úteis para os seus colaboradores".

Isto, porque reforçar coberturas e plafonds implica também um investimento extra por parte das organizações. Para os trabalhadores, esses seguros são o aspeto mais valorizado dos benefícios oferecidos pela entidade patronal, pelo que esta, além de tentar abranger o agregado familiar direto (cônjuge e filhos) na cobertura do plano, procura reforçar algumas áreas desses seguros, como valores disponíveis na cobertura de hospitalização/internamento e uma área que, a cada dia, se torna mais premente: a saúde mental.

Sobre esta última, Rita Silva lembra que já existem algumas seguradoras a criar packs reforçados de apoio específico "que colocam à disposição das empresas para upgrade ao plano de saúde.

A gestora destaca que quando existe a possibilidade incluir no seguro a saúde mental, muitos trabalhadores optam por fazer upgrade (ainda que a seu próprio custo) por forma a incluírem o agregado familiar direto. Já, para as empresas, ter essa oferta é "uma vantagem", uma vez que considera ser "um fator crucial, tanto para a atração como para a retenção de talento".

Por outro lado, se se olhar para o todo e avaliar "a atribuição de um benefício deste género versus o equivalente aumento em salário, o plano de saúde traz eficiência fiscal quer na ótica do colaborador quer da empresa: é win-win e, dá resposta a uma necessidade/despesa do dia-a-dia de qualquer pessoa", frisa Rita Silva. Sendo os planos de saúde um recurso para beneficiar os trabalhadores, as empresas têm de arranjar formas de reduzir os custos associados, sem deixar de apoiar os seus funcionários a este nível.

Diz Rita Silva que, para isso, existem algumas ferramentas "que estão a ser adotadas, por um lado, numa ótica de responsabilização pela utilização (através da atualização de franquias e copagamentos), por outro, procurando uma ótica partilhada de financiamento do plano, através da contribuição dos colaboradores para o custo do seguro".

Aqui, por exemplo, podem ser utilizados planos de benefícios flexíveis que, explica a responsável, é uma estratégia de mitigação cada vez mais utilizada a nível global, com cerca de 60% dos países a identificá-la como uma iniciativa de topo a considerar em 2024.

Começa igualmente a existir uma aposta - "com um longo caminho ainda pela frente" - das empresas em iniciativas de bem-estar e prevenção. "A prevenção é mais barata que a cura/tratamento e, com essa consciência, as empresas têm procurado investir em iniciativas que modelem o estilo de vida dos colaboradores, tornando-o mais saudável", diz Rita Silva, referindo que, assim, a médio/longo prazo a prevenção evitará custos associados ao plano de saúde.

Da parte das seguradoras, que precisam que as empresas continuem a adquirir planos de saúde, a aposta deverá ser em soluções que permitam trabalhar o ponto de partida, ou seja, na intervenção.

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