Bancos do euro operam em “ambiente desafiante” por tensões políticas e comerciais, alerta BCE

"Manter a sua resiliência e capacidade de apoiar a economia real requer um quadro institucional sólido e avaliações de risco atentas ao futuro”, disse a presidente do Conselho de Supervisão do BCE.
Bancos do euro operam em “ambiente desafiante” por tensões políticas e comerciais, alerta BCE
D.R.
Publicado a

Os bancos da zona euro estão a operar num “ambiente desafiante” devido às tensões geopolíticas e comerciais, alertou esta segunda-feira o Banco Central Europeu (BCE), apontando que, num cenário mais adverso, o crédito malparado subiria para níveis de 2014.

“Os bancos europeus operam num ambiente desafiante. Manter a sua resiliência e capacidade de apoiar a economia real requer um quadro institucional sólido e avaliações de risco atentas ao futuro”, disse a presidente do Conselho de Supervisão do BCE, Claudia Buch.

Falando numa audição na comissão dos Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, em Bruxelas, a responsável deu conta dos recentes testes de stress no sistema bancário do euro e apontou que, perante um choque macroeconómico adverso, os bancos europeus teriam “uma melhor capacidade de absorver essas perdas em comparação com o teste de esforço anterior de 2023”.

Partindo de um pressuposto de agravamento das tensões geopolíticas e comerciais com tarifas mais elevadas – que levaria a maior incerteza, menor confiança do mercado e menor crescimento -, Claudia Buch apontou porém que, nesse cenário mais adverso, o rácio de crédito malparado “aumentaria para 5,8%, atingindo níveis observados pela última vez em 2014”.

“Atualmente, os créditos não produtivos situam-se em cerca de 2%. As perdas agregadas ascenderiam a 628 mil milhões de euros, o que representa mais 80 mil milhões de euros, ou 14% do que no teste de esforço anterior”, exemplificou. E apelou: “Estamos vigilantes e esperamos que os bancos tenham a mesma prudência”.

As principais razões para as tensões geopolíticas e comerciais atuais são a rivalidade entre grandes potências – Estados Unidos e China -, os conflitos armados na Ucrânia e no Médio Oriente, a disputa por recursos estratégicos e tecnologias críticas e a fragmentação das cadeias globais de valor.

De momento, a UE está a reformar o seu quadro de gestão de crises e de garantia de depósitos para reforçar a proteção dos depositantes e reduzir a necessidade de resgates com dinheiro dos países.

Claudia Buch defendeu que “instrumentos de resolução para um leque mais alargado de bancos e a garantia de financiamento suficiente para os bancos em processo de resolução reforçarão a estabilidade financeira, protegerão os depositantes e reduzirão a dependência dos fundos públicos”. “De um modo geral, um quadro de gestão de crises mais credível torna as crises potenciais menos prováveis e menos onerosas”, apontou.

Claudia Buch defendeu ser o momento para a UE se “preparar melhor para crises futuras”. “Os desafios atuais exigem mais Europa, não menos: a harmonização das regras nacionais melhoraria significativamente a integração, reforçaria a concorrência e aumentaria a eficiência”, elencou, referindo que “o enfraquecimento das normas […] colocaria em risco a confiança nos bancos europeus e reduziria a sua capacidade de responder aos desafios”.

O teste de esforço mencionado na audição abrangeu 96 bancos da área do euro (51 de grande dimensão e 45 de média dimensão) sob supervisão direta do BCE.

Revelou uma forte rentabilidade, que proporciona aos bancos uma reserva sólida contra as perdas ali estudadas, apesar de admitir eventuais impactos devido às “tensões geopolíticas elevadas”.

Bancos do euro operam em “ambiente desafiante” por tensões políticas e comerciais, alerta BCE
BCE aponta que principais empresas da zona euro observam crescimento "muito modesto" no 1.º trimestre

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt