Foi num dia de invulgar calor que o Dinheiro Vivo chegou à Quinta de S. Salvador da Torre, uma propriedade com 37 hectares, dos quais 30 são vinha, na região dos Vinhos Verde. Ali entre Viana do Castelo e Ponte de Lima, a quinta conta com quatro séculos de história e uma casa senhorial datada de 1685. Depois de passar por vários donos, ao longo dos anos, chegou agora às mãos da empresa liderada por Jorge Dias, que contou com a ajuda do arquiteto Luís Pedro Silva para recuperar o património arquitetónico da propriedade – o solar, recuperado, manteve grande parte da estrutura original, e foi possível também recuperar parte do mobiliário e salvar, por exemplo, o serviço de loiça centenária que ainda habitava a imponente cozinha, agora novamente funcional.“É mais uma aventura aquela que começamos agora. Já vivemos algumas”, começa por atirar, divertido, o CEO da Granvinhos. Conversa com os jornalistas à sombra de uma tília, a aproveitar a brisa suave que se faz sentir entre o sol do meio-dia. Ao seu lado tem Anselmo Mendes, o reconhecido enólogo da região de Vinhos Verdes, com quem tem uma parceria para a produção na Quinta de S. Salvador, e também José Manuel Sousa Soares, responsável pela enologia do grupo. “O que é importante é reinventarmo-nos a cada projeto”, continua Jorge Dias. “Este foi um desafio maior porque no Douro..enfim, nós somos do Douro. Já o conhecemos. Mas aqui, o Atlântico abriu-nos outrs fórmulas que gostaríamos que fossem absorvidas por todo o projeto”, refere.“E como cada cada projeto precisa de ser pago, fizemos os vinhos”, diz com nova gargalhada. As vinhas, plantadas em 2015 são “vinhas adultas”, como gosta Anselmo Mendes de lhes chamar. Aqui plantam-se as castas rainhas da região – Alvarinho e Loureiro – e são elas, num blend de 50%-50% quem dão vida à referência entrada de gama do novo projeto da Granvinhos. Um vinho verde vibrante, jovem, fresco, de que Anselmo Mendes gosta particularmente. A este, juntam-se dois outros: um Loureiro e um Loureiro de parcela única, da vinha dos Castanheiros. Mas é no quarto vinho, um Loureiro de 2023, que nos surpreendemos com o potencial de envelhecimento destas referências, que são espelho da experiência de Anselmo Mendes e da parceria que tem com Jorge Dias desde os tempos em que trabalharam juntos na Quinta da Gaivosa, propriedade de Alves de Sousa, nos idos anos 1990.“Nos vinhos, as relações são muito importantes”, salienta Anselmo Mendes enquanto explica que, na propriedade, 16 hectares pertencem a Alvarinho e os restantes 14 hectares à casta Loureiro.“Dentro da região de Vinho Verde, estamos no Vale do Lima que, juntamente com o vale de Menção e Melgaço, são os dois [vales] mais importantes. E este é o grande vale do Loureiro, com uma influência atlântica muito forte. A vinda de um grupo grande, com grande capacidade para investir nesta região, é sempre bem-vinda!”, referia, em 2023, Anselmo Mendes, questionado sobre a importânncia da chegada da Granvinhos ao Minho. “Há 35 anos que trabalho na região, e há 25 que trabalho com o meu projeto. Costumo dizer, meio a brincar, que andei 25 anos a fazer catequese, e a mostrar que a região tem potencial para fazer grandes vinhos brancos”, pelo que a entrada de empresas com o músculo necessário para investir são para Anselmo uma espécie de movimento natural. Até porque é algo que já acontece há uns anos do outro lado da fronteira, salienta o enólogo.A produção, de alguns milhares de garrafas, começa agora a chegar ao mercado. Não se sabe quantas será preciso vender para que a atividade se pague – até porque o valor da compra da propriedade não foi revelado – mas o que é certo é que terá, em breve, a ajuda do enoturismo. A empresa tinha, em 2024, estimado um investimento de 2 milhões de euros nos primeiros dois anos de presença na Quinta de S. Salvador da Torre, nos planos de recuperação da mesma.Ainda não é certo em que moldes a Quinta de S. Salvador vai receber os apreciadores de vinho – proporcionar alojamento não está nos planos de curto prazo – mas o que já se sabe é que o grupo quer envolver a região neste novo ciclo de atividade económica de uma propriedade que já foi profícua em produção animal e cereais.Através do projeto “Verdes Mil”, tem estabelecido parcerias com artesãos, artistas, profissionais de várias áreas de atividade da região do Minho, para dar a conhecer o que de melhor se faz no norte do país, o que tem impacto também no desnevolvimento económico da área. Entre os artistas que já têm representação na Quinta de S. Salvador da Torre estão Isa Viana, estucadora ou António Costa, papeludo, mas há também relações estabelecidas com os pescadores artesanais de Castelo de Neiva. Música, doçaria tradicional e gastronomia deverão ser presença assídua também na Quinta de S. Salvador da Torre.O antigo grupo Gran Cruz passa assim, com todas as aquisições realizadas, a comercializar Vinho Verde e Vinho de Lisboa, num total de mais de 4 milhões de garrafas por ano, nota a Granvinhos num comunicado enviado às redações aquando da aquisição da propriedade do Minho. Recorde-se que a empresa comprou também, às Caves Borlido, a marca Albergaria, criada em 1972, e que comercializa dois dos licores portugueses mais populares no mercado nacional: o Licor de Amêndoa Amarga e o Licor de Ginja, com vendas superiores a um milhão de garrafas por ano. No mesmo sentido, comprou em 2019 a maioria da Vicente Faria Vinhos, S.A., através da aquisição de 60% do capital social da sociedade – a segunda maior empresa exportadora de Vinho do Douro, e também já estendeu as asas até ao Porto Santo, onde, com a Justinos, está a produzir vinho de mesa.