Maioria das empresas nacionais não tem noção de transparência salarial

Diretiva europeia sobre o assunto vai ser transposta para a lei nacional em junho do ano que vem. Perceção de justiça salarial no nosso país é 18% inferior à média europeia, revela a Mercer.
Maioria das empresas nacionais não tem noção de transparência salarial
Foto: Reinaldo Rodrigues
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A percentagem de empresas nacionais a trabalhar em prol da transparência salarial aumentou de 59% em 2024 para 72% em 2025, diz um estudo da Mercer Portugal revelado esta terça-feira, 7 de outubro. Uma evolução que parece indicar que a transparência salarial deixa de ser apenas uma obrigação regulatória e passa a ser uma ferramenta estratégica para as organizações.

No entanto, ainda é cedo para tirar conclusões. Isto porque a verdade é que a partir de junho de 2026 a diretiva europeia sobre transparência salarial vai ser transposta para a lei nacional, o que obriga as empresas a cumprir determinados critérios, queiram ou não. E isso mesmo admitem as organizações ouvidas pela Mercer: "A diretiva da União Europeia sobre transparência salarial, cuja transposição para a lei nacional está prevista para junho de 2026, constitui o principal catalisador para 86% das empresas que já abordam o tema", lê-se nas conclusões do relatório Readiness Assessment – Transparência Salarial. Um estudo que tenta entender, sobretudo, como estão as empresas a trabalhar para garantir que os salários não são impactados por fatores como a diferença de género.

Outro dado relevante que é salientado nesta publicação é o facto de a perceção de justiça salarial em Portugal ser consideravelmente mais baixa - 18% - do que no resto da União Europeia. Sobretudo tendo em conta que "a justiça salarial é a segunda razão mais importante para que um colaborador permaneça numa organização", de acordo com outro estudo da Mercer, o Global Talent Trends. "No entanto, em Portugal, a perceção de justiça salarial é 18% inferior à média europeia. A transparência na comunicação dos programas de compensação pode reforçar a confiança e contribuir para colmatar esta lacuna", escreve a Mercer Portugal em comunicado enviado às redações.

"Apesar do progresso alcançado, o estudo identifica vários desafios. A falta de conhecimento é um dos principais: quatro em cada dez organizações admitem ter apenas uma noção básica de transparência salarial, o que afeta tanto as que já trabalham o tema como as que ainda não o fazem. Das empresas que já trabalham a transparência salarial, a maioria (52%) possui ainda uma familiaridade “moderada” com o tema, sendo que, entre as que ainda não o abordam, a maioria (54%) tem apenas uma noção básica sobre o assunto.", lê-se ainda nas conclusões.

“O estudo demonstra que a transparência salarial está a ganhar terreno em Portugal, com as organizações a reconhecerem a sua importância para o futuro do trabalho. No entanto, é essencial que as empresas invistam em conhecimento, comunicação e ação, de modo a prepararem-se para a nova legislação e, sobretudo, a promover ambientes de trabalho mais justos, equitativos e competitivos”

João Pacheco, Pay Equity and Transparency Expert da Mercer Portugal,

Mais preocupante, "a maioria das organizações assume que não está totalmente preparada para a nova diretiva" e "cerca de 61% das empresas indicam necessitar de efetuar ajustes moderados a significativos na sua gestão de compensação".

E adianta ainda a Mercer Portugal: "nenhuma empresa com mais de 100 colaboradores refere dispor de uma estrutura adequada para cumprir os requisitos mínimos da diretiva europeia".

Atualmente, apenas 10% das organizações realizam análises sobre equidade salarial, sendo que destas, apenas 3 em cada 10 têm ferramentas para corrigir as disparidades entre géneros. Dados que evidenciam "a urgência de agir por parte das empresas que pretendem atrair e reter, sobretudo, a Geração Z, um grupo que tem demonstrado maior envolvimento e interesse no que diz respeito a temas relacionados com compensação e benefícios", escreve a consultora.

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