Viseu ambiciona tornar-se um polo estratégico na indústria da defesa nacional. E, para isso, promoveu esta sexta-feira, 4 de julho, a conferência Viseu Defense Tech 2025, um evento para criar pontes entre as capacidades locais e as oportunidades nacionais e internacionais no setor da defesa. A conferência culminou com a constituição do grupo de trabalho "Declaração de Viseu pela Indústria da Defesa".
O grupo vai centrar a sua ação na identificação de projetos piloto dual-use (civil e militar), na criação de canais de financiamento e atração de investimento, em propostas de políticas municipais que favoreçam a instalação da indústria de defesa em Viseu e na promoção internacional das capacidades industriais da região junto de parceiros da NATO e da União Europeia.
A Câmara Municipal de Viseu será responsável pela coordenação dos trabalhos, onde participarão o Exército Português, a idD Portugal Defence, representantes da indústria local, entidades do ensino superior e centros de investigação e consultores estratégicos do setor.
"As regiões já não são periféricas — são centrais" e Viseu tem os elementos necessários para se afirmar como um "corredor seguro de inovação", afirmou na conferência Michael Lim, CEO da Pulsar Development International. Segundo o consultor, a "descentralização da inovação e da prontidão militar está em curso na Europa", o que permite a regiões como Viseu tornarem-se "atores centrais nas cadeias de valor da defesa".
A União Europeia tem já fundos disponíveis que podem responder à ambição de Viseu. Como recordou Michael Lim, há instrumentos financeiros como o European Defence Fund, Horizon Europe, Portugal 2030 e o EIT Manufacturing para apoiar projetos de testbeds de defesa tecnológica, prototipagem dual-use e formação aplicada em cibersegurança e logística militar.
O consultor destacou que Viseu já possui talento técnico e académico, infraestruturas energéticas limpas, empresas como a Viatel, Visabeira, startups e o Regimento de Infantaria 14, que podem articular-se em projetos de ciberlogística, comunicações seguras, formação e produção.
Em Viseu, há empresas de metalomecânica de precisão, tecnologia de drones e sistemas autónomos, têxteis técnicos, eletrónica aplicada, comunicações seguras, armazenamento e energia, biotecnologia de aplicação militar, e engenharia de software, que apresentam potencial imediato para trabalhar para a indústria de defesa, diz fonte oficial do município. "Viseu tem já empresas com presença nestas áreas, muitas das quais estão prontas para se adaptar ou já produzem soluções com aplicação dual (civil e militar), quer para componentes, quer para sistemas completos", realça.
O tecido industrial tem um forte base de PME "com capacidade de personalização, resposta rápida e elevado grau de inovação aplicada", a que acresce "experiência exportadora, know-how técnico e vontade de crescer", sublinha ainda. Em simultâneo, a região tem um ecossistema académico que agrega instituições de ensino superior, com cursos nas áreas de engenharia, gestão e tecnologia, centros de formação, escolas profissionais orientadas para a indústria, e está próxima de polos universitários de maior dimensão.
"A indústria da defesa é um desafio nacional onde o interior também pode — e deve — liderar”, afirmou o presidente da Câmara de Viseu, Fernando Ruas, na sessão de abertura do Viseu Defense Tech. O autarca defendeu que "Portugal não pode deixar que apenas os grandes centros liderem os setores críticos".
Como sublinhou, "o país precisa de todo o seu território". Nas suas palavras, esta conferência é "o primeiro passo de um percurso com futuro: atrair empresas, fixar talento e colocar Viseu no mapa da inovação estratégica."
Em outubro, Viseu vai receber a Semana do Exército 2025, evento organizado pelo Exército Português.