Escobar: depois de sinónimo de droga agora é marca de roupa. Proibida na Colômbia

Publicado a

A ligação de mensagens pacifistas à imagem de um dos maiores narcotraficantes da história está a deixar os colombianos de cabelos em pé. A ideia foi do filho de Pablo Escobar, Juan Pablo Escobar Henao, que decidiu criar uma linha de T-shirts e jeans com imagens do pai e dos seus documentos (cartão de crédito, bilhete de identidade, etc.) e frases como "O que andas a fazer? Pensa bem!" ou "Os privilégios que tens são fruto dos teus erros?".

Abatido há 20 anos, o narcotraficante Escobar assassinou ou mandou matar centenas de pessoas nos anos 80 e 90. Atos que mereceram um muito bem recebido pedido de desculpas do filho, que se assume como um pacifista nato no documentário Os Pecados do Meu Pai(2012). Bem menos popular foi a marca de roupa que Juan Pablo lançou no ano passado - a Escobar Henao -, sob o pseudónimo Sebastián Marroquín. Não demorou muito a que identificassem o filho de Escobar como autor da marca de roupa - nem que a Colômbia proibisse os seus produtos e os mandasse retirar do mercado por respeito às vítimas do narcotraficante.

Juan Pablo, arquiteto, 36 anos, não entende - garante que as suas intenções eram as melhores. "Não estou a homenagear o meu pai, pelo contrário", garantiu ao El País. Claro que eu conheci um lado dele diferente do que as vítimas conheceram. Eu podia ter-me transformado num Escobar 2.0, mas a minha atitude é de paz, de procurar a paz. Sou o primeiro a dizer que os passos do meu pai são um exemplo do que ninguém deve fazer."

Mostrar as duas faces da moeda e assim levar os jovens a afastar-se do crime foi a ideia que o levou a criar aquilo a que chama a sua "pequena coluna de opinião sobre o que aprendi na guerra da Colômbia contra as drogas". Mas Escobar ainda está demasiadamente entranhado nas vidas dos colombianos para assegurar o afastamento necessário para ver um lado bom numa marca com a sua imagem.

O mesmo não aconteceu no México - onde a marca é um sucesso -, nos Estados Unidos, na Guatemala, no Chile e até na Europa (Bégica), outros países onde a linha de roupa do arquiteto é vendida sem problemas.

Mas há outra questão - decorrente desta - que está a opor Juan Pablo e a Colômbia: a quem devem pertencer, afinal os direitos do nome do narcotraficante, enquanto marca? Enquanto o filho de Escobar acusa o país de usar o nome do pai à revelia da família, o Estado colombiano recusa que haja lugar a reconhecimento de direitos pelos atos cruéis do capo no século passado. Quem tem razão?

O tema promete fazer correr ainda muita tinta.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt