Escola Digital rende 260 milhões aos cinco maiores fornecedores  

Programa lançado há dois anos para digitalizar as escolas portuguesas tem na Inforlândia, MEO, Informantem, Claranet e CTT os fornecedores com contratos mais elevados.
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Ainda será cedo para avaliar os efeitos da digitalização das escolas portuguesas na aprendizagem dos estudantes, mas se há coisa que Escola Digital tem feito - e isso já é verificável - é alavancar as receitas das empresas fornecedoras do material informático para os estabelecimentos do ensino público. Segundo o Portal Base, desde 2020, os contratos mais avultados foram fechados com a Inforlândia, Meo, Informantem, Claranet e CTT.

Só estas cinco empresas representam, pelo menos, 259,6 milhões de euros em contratos com o Estado, para distribuir mais de um milhão de computadores e hotspots (pontos de acesso à internet) à comunidade escolar.

Observando os valores, o maior fornecedor da Escola Digital é a Inforlândia. De acordo com o Portal Base, a empresa portuguesa tem, pelo menos, um total de 101 610 milhões de euros contratualizados com a Secretaria-Geral do Ministério da Educação e Ciência. No entanto, fonte oficial da empresa diz ao Dinheiro Vivo que o "total faturado [com o Estado] até agora é de 82 248 450 euros mais IVA".

Questionada sobre as entregas, a mesma fonte esclarece que a Inforlândia ficou responsável por entregar 362 172 kits, excluindo o material entregue à Multimac e JPIK (outros fornecedores da Escola Digital). "Os portáteis já foram todos entregues. Apenas falta entregar 7500 unidades mini-PC AiO [relativas a um contrato celebrado em meados de março]", esclarece.

No caso da Inforlândia, a Escola Digital não só representou um incremento de receitas, como também pode explicar o forte crescimento da quota da empresa no mercado de computadores. Em termos de vendas, antes a empresa passava despercebida entre as grandes marcas internacionais presentes em Portugal, mas, com a Escola Digital, as vendas subiram e a empresa fechou o ano de 2021 com uma quota de mercado de 19,5% (297 938 unidades vendidas em todo o ano), segundo dados da consultora IDC. Fechou 2021 como a terceira maior vendedora de computadores em Portugal, à frente de marcas como a Dell e a Asus.

Outro grande fornecedor das escolas é a Meo. Só em três contratos com o Estado, para aquisição e fornecimento de computadores, a empresa do grupo Altice soma mais de 56,66 milhões. Seguem-se a Informantem e a Claranet, cujos contratos com a Secretaria-Geral do Ministério da Educação e Ciência, também para fornecimento de computadores para o ensino básico e secundário, somam mais de 37,73 milhões e 36,91 milhões de euros, respetivamente. Nos mesmos moldes, dois contratos entre a tutela e os CTT Soluções Empresariais representam mais de 26,73 milhões para a empresa do grupo CTT.

Ainda que contactadas, Altice, Claranet e os CTT não responderam às questões sobre a participação no programa Escola Digital.

São milhares os contratos que se encontram no Portal Base relativos a serviços em matéria de Educação. Facto é que é notório o crescimento dos valores pelos serviços prestados, desde o arranque da Escola Digital, sobretudo nos anos letivos 2020/2021 e 2021/2022.

Nos últimos dois anos, também se encontram contratos do Estado com outras empresas para fornecer material ou serviços no âmbito da digitalização das escolas, mas por valores menores. São os casos da Multimac, NOS e Vodafone, por exemplo.

O programa do Governo de António Costa, aquando da eleição de 2019, previa que até 2023 todos os alunos do ensino básico e secundário das escolas públicas teriam um computador. Com a pandemia de covid-19 e o repentino encerramento das escolas, António Costa prometeu em abril de 2020 que, no ano letivo seguinte, todos os estudantes teriam um computador. A promessa não se concretizou, tendo em conta que só em fevereiro deste ano o Governo garantia que os kits (computadores e acessos à internet) previstos pela Escola Digital estavam praticamente todos entregues, noticiava a CNN Portugal no final desse mês. A entrega do material ainda decorria em março.

O Dinheiro Vivo contactou o Ministério da Educação para fazer o ponto da situação da Escola Digital, mas não obteve quaisquer respostas às questões enviadas.

Entretanto, no final de março, a agência Lusa dava conta que, já com os computadores nas escolas, o Ministério da Educação avançava com procedimentos para a concretização de um conjunto de outras medidas no âmbito da Escola Digital.

Segundo uma nota da tutela enviada às escolas, e citada pela agência, o Governo está a avançar com "melhorias" para a digitalização do ensino, no valor de 360 milhões de euros, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência.

Em causa estão investimentos de 184,5 milhões para a expansão da conectividade à internet da Rede Alargada da Educação e ampliação nas redes, que está já a ser preparada e que permitirá a utilização simultânea dos equipamentos e recursos digitais. Acresce a aquisição de recursos educativos digitais e outros meios para a desmaterialização de processos de avaliação, no valor de 115,6 milhões, bem como 33,2 milhões de euros para a compra de projetores e mais 7,4 milhões para a aquisição de 15 mil computadores para os serviços administrativos das escolas.

Também constava nessa nota a aposta na criação de 1300 Laboratórios de Educação Digital, no montante de 25,8 milhões.

Para esta nova fase do programa Escola Digital, já se encontram no Portal Base contratos da Secretaria-Geral do Ministério da Educação e Ciência e adjudicados às empresas Areal, Nautilus, BCN, Decunify e Databox, no valor global de 13,45 milhões de euros, para fornecimento e instalação de videoprojetores nas escolas públicas.

Segundo o Orçamento do Estado (OE) para 2021, o Governo alocou 400 milhões de euros para a Escola Digital, relativos à sua execução em 2020 e 2021. Para 2022, o OE que foi chumbado em outubro de 2021 previa mais 250 milhões de euros para a digitalização das escolas. A estes valores acrescem os 559 milhões previstos no Plano de Recuperação e Resiliência para a transição digital nas escolas.

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