De cada vez que Miguel Coimbra e Joana van Zeller recebiam amigos em casa para jantar eram confrontados com a mesma pergunta. "Onde compraram o sofá?" O realizador de publicidade, de 40 anos, desenhou e mandou fazer o sofá da sala porque não conseguia encontrar um que os satisfizesse. . "Isto aconteceu uma, cinco, dez vezes e achámos que havia potencial de negócio para explorar. As pessoas iam sempre às mesmas lojas, não encontravam o sofá que queriam para a sua casa e a partir daí começámos a pensar no conceito e a criar a Zer02", conta Joana. . A ideia foi criar uma empresa que pudesse vender sofás a metro, sem abdicar dos bons tecidos, esponjas, estruturas de madeira, design especializado e boa construção. "O mais difícil de tudo foi criar o próprio sofá, porque criar um sofá exige experimentar todos os materiais e a sua conjugação. Um protótipo demora sempre imenso tempo porque exige tirar espuma, pôr espuma, pôr madeira, tirar madeira, experimentar várias densidades de espuma, acabamentos, tecidos - para ver se conjugam bem ou não com o tipo de sofá em causa. Este processo demorou cerca de seis meses até conseguirmos o sofá que considerávamos bom para ir para o mercado", conta Joana, 36 anos. . A marca foi criada oficialmente em 2006, mas a Zer02 nasceu na cabeça dos fundadores quatro anos antes. Daí o nome. Zer02. "Pensámos sobretudo em fazer uma marca original. E um bocado pela nossa formação, publicidade e design, por estarmos habituados a trabalhar com marcas, queríamos fazer uma coisa bem feita. Daí a nossa base line, um trabalho de produção cuidado. Em vez de ser aquele supermercado, onde há fábricas que cospem 300 ou 400 sofás por dia, preferimos pegar em artesãos - pessoas que sabem trabalhar a madeira para fazer estruturas, por exemplo, de uma maneira mais consistente - e juntar duas coisas que normalmente são opostas: criatividade e manufatura." . O primeiro modelo para venda ainda foi desenhado por Miguel. "Começámos com a prata da casa para reduzir custos. Foi um modelo mainstream", diz o realizador. Entretanto, Miguel e Joana já investiram cerca de 100 mil euros e a estratégia foi mudando. "Estamos neste momento a fazer outra coisa que queríamos: ter mais criatividade portuguesa a trabalhar connosco. Achamos que temos um produto final com mais qualidade. . Queremos ser uma marca que pode ser feita à medida do cliente. Se um cliente for comprar um sofá a uma marca qualquer e disser que precisa de menos 20 centímetros de sofá, eles não estão habilitados a fazer isso. Nós conseguimos. É uma conjugação de design com manufatura que permite fazer isso. E isso é uma essência", esclarece Miguel. . A marca tem crescido "lentamente" mas "superado as expectativas" e está à venda online, por encomenda e na Design Store, no Príncipe Real, em Lisboa. Os preços rondam os 1500 euros e a Zero2 já vendeu sofás para Inglaterra e França. . "Já não é a primeira vez que turistas entram no showroom no Chiado e perguntam se temos loja em Paris ou em Londres. Portanto, há aqui uma coisa que nos faz bem ao ego que é sentir que há pessoas que vêm de outros mercados mais evoluídos que gostavam de ver esta marca lá fora", diz Miguel. Joana acrescenta expectativas. "Temos esperança de que este pássaro voe ainda mais alto. Este mercado está a crescer, as pessoas gostam de ver coisas diferentes e já não querem ter a casa igual à do vizinho. E a Zero2 é isso. Fazemos sofás à medida, trabalhamos com arquitetos que pensaram um sofá para um projeto específico e criamo-lo de acordo com essas necessidades do arquiteto." . O sofá Serpentine, desenhado por Hugo da Silva, é exemplo de como o cliente pode chegar e pedir "metros de sofá". Outro é o modelo de esferovite. "Acho que é com estas peças mais diferentes que marcamos a originalidade da marca. Temos modelos e medidas estabelecidos. Mas conseguimos alterá-los.