Estudo. Confinamentos de janeiro tornaram a pandemia seis a sete vezes menos grave

Estudo. Se nada fosse feito, e tudo continuasse como até ao Natal, Portugal teria "cerca de 20.000 casos por dia na semana que termina a 15 de fevereiro". Média foi 3.000.
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A intensidade da pandemia de covid-19, medida em número de novos casos, teria sido seis ou sete vezes pior se não tivessem sido decretados os dois confinamentos sequenciais: o primeiro, mais suave, que entrou em vigor a 15 de janeiro, e o seguinte (reforço do primeiro), mais duro, com fecho de escolas e proibição de vendas ao postigo nos cafés e restaurantes, por exemplo, e que começou a 21 do mês passado.

Ou seja, em vez de 3.000 novos infetados por dia em meados de fevereiro, podíamos estar perante uns calamitosos novos 20.000 casos novos por dia (no pior dos cenários), refere um novo estudo. Se nada tivesse sido feito para fechar mais a economia, a vaga infecciosa seria seis a sete vezes pior, infere-se dos resultados deste artigo.

De acordo com um documento de trabalho publicado esta segunda-feira pelo Conselho das Finanças Públicas (CFP), "o aumento do número de casos covid-19 em Portugal após o Natal foi empiricamente estimado usando uma equação de crescimento exponencial não linear".

Desses cálculos saiu um outro valor hipotético crucial para medir o efeito dos confinamentos em termos de saúde pública. Se nada fosse feito, e tudo continuasse como até ao Natal, Portugal teria "cerca de 20.000 casos por dia na semana que termina a 15 de fevereiro".

Recorde-se que o governo, primeiro-ministro António Costa incluído, admitiu que a abertura temporária do Natal pode ter sido um erro grave.

"Se tivéssemos conhecimento do quadro da variante inglesa, teríamos definido regras mais apertadas no Natal. Na altura não tínhamos esse conhecimento. Toda a gente concordava com as regras do Natal, tínhamos empresários da restauração à porta da Assembleia da República", concordou Costa, numa entrevista na TVI24.

O artigo do CFP titulado "Uma abordagem de "cinto e suspensórios" - o efeito dos confinamentos suaves e duros contra a covid-19 em Portugal", da autoria de Miguel St. Aubyn, "o confinamento 'suave', implementado a 15 de janeiro, induz um ponto de inflexão inicial a partir do qual os casos diminuem, e o subsequente confinamento 'duro' a partir do dia 22 de janeiro reforça esta tendência de queda".

"Não tomar medidas teria levado a cerca de 20.000 casos por dia na semana que termina a 15 de fevereiro. O efeito do confinamento suave, reforçado pelo fecho das escolas e um confinamento mais duro, evitou este cenário, e reduziu o número de novos casos diários para menos de 3.000 na semana terminada a 15 de fevereiro."

"Estima-se que sem a adoção do fecho das escolas e das medidas de confinamento mais duras, os casos estimados em Portugal seriam de aproximadamente 9.700 por dia", conclui o professor de Economia do ISEG, neste novo estudo.

Saint Aubyn defende que "apesar das óbvias desvantagens que o encerramento de escolas acarreta e de todos os custos adicionais que daí advêm, certamente não vale a pena manter as escolas abertas se o custo for o preço muito elevado de mais doença, destruição de empregos e vidas perdidas, isto para além de congestionar o serviço nacional de saúde [SNS]".

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