EUA já são o maior mercado dos vinhos portugueses em valor

Dos 899 milhões de euros de vinho exportado nos primeiros 11 meses de 2024, os Estados Unidos compraram quase 95 milhões, destronando os franceses. ViniPortugal e Turismo de Portugal preparam grande evento de promoção, em Setembro, em Nova Iorque.
Em volume, Angola é o país que mais garrafas nacionais absorve.
Em volume, Angola é o país que mais garrafas nacionais absorve.Maria João gala/Global Imagens
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No acumulado de janeiro a novembro, Portugal exportou 328,9 milhões de litros de vinho por 899 milhões de euros, o que representa um crescimento de quase 10% em quantidade e de 4,3% em valor. Uma diferença que faz cair o preço médio, que passou de 2,88 euros no período homólogo para 2,73 euros este ano. Em termos de mercados, a grande novidade é que os Estados Unidos são já o maior cliente dos vinhos portugueses, em valor, tendo ultrapassado a França. O setor do vinho estima que deverá fechar o ano a crescer 5% para cerca de 974 milhões de euros.

A troca no pódio dos maiores compradores tem a ver com a forma como os americanos valorizam os vinhos nacionais, comparativamente aos franceses. É que o preço médio pago em França está nos 3,07 euros por litro, e até cresceu face a 2023, mas nos EUA é de 4,32 euros o litro, 2% acima do ano passado.

Em valor, a tabela é liderada pelos EUA, com compras de 94,8 milhões de euros, seguidos da França (93,5 milhões), Brasil (80,3 milhões), Reino Unido (79,3 milhões) e Países Baixos e Canadá, ambos com cerca de 47,3 milhões de euros. A Alemanha surge em sétimo lugar, com 44,2 milhões de euros e uma quebra de quase 4% e Angola em oitavo com 40,8 milhões de euros e um decréscimo de 2%.

Mas atenção que, em volume, Angola lidera a tabela. Foi o maior comprador de vinhos nacionais, com quase 34 milhões de litros, mas só paga 1,2 euros por litro importado, ainda menos do que no ano anterior.

O presidente da ViniPortugal, o organismo interprofissional que gere a promoção dos vinhos portugueses no mundo, mostra-se satisfeito com os resultados obtido. Apesar de apreensivo com as quebras em alguns mercados estratégicos, como Alemanha, Angola, Bélgica, Suíça, França e Reino Unido, neste último caso muito penalizado pelo decréscimo de vendas de vinho do Porto, Frederico Falcão considera que a ascensão dos EUA a principal mercado externo dos vinhos nacionais é um “ótimo sinal”, ou não fora esse o maior mercado consumidor de vinho no mundo.

Decidido está já reforçar a promoção no país, com eventos em cinco cidades, em vez das três habitualmente visitadas. Serão elas Boston, Nova Iorque, Los Angeles, Austin e Atlanta, numa tentativa de “intensificar a presença” de vinhos portugueses em estados como o Texas ou a Florida. Em Nova Iorque, “uma zona onde os vinhos portugueses já têm uma presença mais consolidada”, está em preparação, em conjunto com o Turismo de Portugal, um grande evento de promoção, em setembro, direcionado ao público em geral. Será um evento de dois dias e o objetivo é conseguir juntar mais de mil consumidores a provar vinhos portugueses.

Questionado sobre as ameaças de Donald Trump em agravar as tarifas a produtos importados, Frederico Falcão lembra que, no primeiro mandato, Trump já o fez, mas no âmbito de uma guerra comercial entre a Boeing e a Airbus, tendo visado alguns países. Na altura Portugal foi poupado. “Agora não sabemos se o agravamento de tarifas vai existir ou não, se serão transversais para todos os produtos ou se serão cirúrgicas, é cedo para estarmos a falar de algo que é uma total incerteza neste momento. Não podemos é esquecer que os EUA são o maior consumidor mundial de vinho e com um imenso potencial para explorar. Não é um, mas 50 países. Tem muitos estados que consomem vinhos e onde Portugal não tem presença, e, ainda que possamos vir a perder algum mercado nos estados onde já estamos por efeito das tarifas, isto não quer dizer que não possamos ganhar quota de mercado conquistando outros estados”, sustenta.

Mais complicado é lidar com os ataques do lobby anti-álcool. Esta semana foi noticiado que um conceituado médico norte-americano veio defender a necessidade dos rótulos das bebidas alcoólicas alertarem para o risco de cancro, algo que a autoridade de saúde dos EUA parece apoiar. O presidente da ViniPortugal admite que situações como esta causam “óbvio dano” ao setor e aponta o dedo à Organização Mundial de Saúde, uma “entidade política e não técnica, que insiste em frases bombásticas como o “no safe level” [ significa, à letra, que não há nenhum nível de consumo de álcool seguro para a saúde]”. E acrescenta: “Isso é um erro cientifico da OMS. Todos os estudos falam dos malefícios do consumo abusivo e nos benefícios do consumo moderado, mas como a OMS tem dificuldade, não sabe ou não quer, explicar o que é um consumo moderado, optaram por uma linguagem simplista dizendo que qualquer tipo de consumo é errado e prejudicial à saúde. O que é vergonhoso”.

Nos Estados Unidos, há já reações enérgicas em artigos de opinião contestando a proposta de rótulos bombásticos.

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