
No acumulado de janeiro a novembro, Portugal exportou 328,9 milhões de litros de vinho por 899 milhões de euros, o que representa um crescimento de quase 10% em quantidade e de 4,3% em valor. Uma diferença que faz cair o preço médio, que passou de 2,88 euros no período homólogo para 2,73 euros este ano. Em termos de mercados, a grande novidade é que os Estados Unidos são já o maior cliente dos vinhos portugueses, em valor, tendo ultrapassado a França. O setor do vinho estima que deverá fechar o ano a crescer 5% para cerca de 974 milhões de euros.
A troca no pódio dos maiores compradores tem a ver com a forma como os americanos valorizam os vinhos nacionais, comparativamente aos franceses. É que o preço médio pago em França está nos 3,07 euros por litro, e até cresceu face a 2023, mas nos EUA é de 4,32 euros o litro, 2% acima do ano passado.
Em valor, a tabela é liderada pelos EUA, com compras de 94,8 milhões de euros, seguidos da França (93,5 milhões), Brasil (80,3 milhões), Reino Unido (79,3 milhões) e Países Baixos e Canadá, ambos com cerca de 47,3 milhões de euros. A Alemanha surge em sétimo lugar, com 44,2 milhões de euros e uma quebra de quase 4% e Angola em oitavo com 40,8 milhões de euros e um decréscimo de 2%.
Mas atenção que, em volume, Angola lidera a tabela. Foi o maior comprador de vinhos nacionais, com quase 34 milhões de litros, mas só paga 1,2 euros por litro importado, ainda menos do que no ano anterior.
O presidente da ViniPortugal, o organismo interprofissional que gere a promoção dos vinhos portugueses no mundo, mostra-se satisfeito com os resultados obtido. Apesar de apreensivo com as quebras em alguns mercados estratégicos, como Alemanha, Angola, Bélgica, Suíça, França e Reino Unido, neste último caso muito penalizado pelo decréscimo de vendas de vinho do Porto, Frederico Falcão considera que a ascensão dos EUA a principal mercado externo dos vinhos nacionais é um “ótimo sinal”, ou não fora esse o maior mercado consumidor de vinho no mundo.
Decidido está já reforçar a promoção no país, com eventos em cinco cidades, em vez das três habitualmente visitadas. Serão elas Boston, Nova Iorque, Los Angeles, Austin e Atlanta, numa tentativa de “intensificar a presença” de vinhos portugueses em estados como o Texas ou a Florida. Em Nova Iorque, “uma zona onde os vinhos portugueses já têm uma presença mais consolidada”, está em preparação, em conjunto com o Turismo de Portugal, um grande evento de promoção, em setembro, direcionado ao público em geral. Será um evento de dois dias e o objetivo é conseguir juntar mais de mil consumidores a provar vinhos portugueses.
Questionado sobre as ameaças de Donald Trump em agravar as tarifas a produtos importados, Frederico Falcão lembra que, no primeiro mandato, Trump já o fez, mas no âmbito de uma guerra comercial entre a Boeing e a Airbus, tendo visado alguns países. Na altura Portugal foi poupado. “Agora não sabemos se o agravamento de tarifas vai existir ou não, se serão transversais para todos os produtos ou se serão cirúrgicas, é cedo para estarmos a falar de algo que é uma total incerteza neste momento. Não podemos é esquecer que os EUA são o maior consumidor mundial de vinho e com um imenso potencial para explorar. Não é um, mas 50 países. Tem muitos estados que consomem vinhos e onde Portugal não tem presença, e, ainda que possamos vir a perder algum mercado nos estados onde já estamos por efeito das tarifas, isto não quer dizer que não possamos ganhar quota de mercado conquistando outros estados”, sustenta.
Mais complicado é lidar com os ataques do lobby anti-álcool. Esta semana foi noticiado que um conceituado médico norte-americano veio defender a necessidade dos rótulos das bebidas alcoólicas alertarem para o risco de cancro, algo que a autoridade de saúde dos EUA parece apoiar. O presidente da ViniPortugal admite que situações como esta causam “óbvio dano” ao setor e aponta o dedo à Organização Mundial de Saúde, uma “entidade política e não técnica, que insiste em frases bombásticas como o “no safe level” [ significa, à letra, que não há nenhum nível de consumo de álcool seguro para a saúde]”. E acrescenta: “Isso é um erro cientifico da OMS. Todos os estudos falam dos malefícios do consumo abusivo e nos benefícios do consumo moderado, mas como a OMS tem dificuldade, não sabe ou não quer, explicar o que é um consumo moderado, optaram por uma linguagem simplista dizendo que qualquer tipo de consumo é errado e prejudicial à saúde. O que é vergonhoso”.
Nos Estados Unidos, há já reações enérgicas em artigos de opinião contestando a proposta de rótulos bombásticos.