Consumo. Parece ser esta a principal fonte da recuperação económica na Europa (a par das exportações), pelo menos é para aí que apontam todas as mais recentes previsões económicas. E no final de março, foram muitas as análises - incluindo de instituições oficiais - que reforçaram este argumento de um regresso em força do consumo, depois de um ano de poupança "forçada" pelo encerramento das atividades.
Numa nota publicada no final de março, a consultora britânica Oxford Economics defende que os consumidores europeus estão "ansiosos" por começar a gastar depois da reabertura da economia, em especial nas lojas e nos restaurantes.
Para chegar a esta conclusão, os analistas da consultora avaliaram os primeiros dados da mobilidade dos cidadãos da zona euro referentes ao início deste ano, os gastos com cartões bancários e a confiança dos consumidores que, neste segundo confinamento, não acompanhou o nível de restrições como na primavera do ano passado.
"Tal como no caso da mobilidade, a restrição voluntária de gastos foi mais forte no início da pandemia, quando o consumo sofreu a queda mais acentuada", explicam os analistas, adiantando que a falta de lojas abertas foi compensada, em parte, pelo comércio online.
Esta transição "indica que, sem restrições, as famílias estão dispostas a retomar os gastos, o que é consistente com os dados que mostram um afastamento entre o indicador do sentimento económico e a severidade do segundo confinamento, além disso, a confiança está muito melhor agora do que no primeiro semestre de 2020", conclui a consultora, acreditando que estão reunidas as condições para uma retoma "vigorosa" do consumo.
Os analistas da Oxford Economics rejeitam as previsões mais pessimistas que apontam para uma retoma bastante mais modesta do consumo. Mas a avaliação da consultora vai na direção contrária, uma vez que as restrições em vigor forçam a uma retração "involuntária" do consumo.
"As nossas estimativas sugerem que os consumidores vão responder rapidamente - numa questão de semanas - ao alívio das restrições", apontam, acrescentando que este comportamento seguiria "o padrão do terceiro trimestre de 2020 quando se registou uma recuperação parcial do consumo nos meses de verão depois de levantadas as medidas de contenção".
A avaliação às maiores economias do euro - Alemanha, França, Itália e Espanha - apontam para uma recuperação do consumo na segunda metade do ano e esta evolução também arrasta o PIB português, tendo em conta que é nestes países que se concentram cerca de metade das exportações.
Mas, mesmo com as famílias disponíveis para "abrir os cordões à bolsa", ainda é muito incerto o comportamento nos próximos meses que vai depender do ritmo e eficácia da vacinação. A Oxford Economics aponta duas questões "cruciais": "se haverá diferenças ente setores de atividade" e "em que medida as famílias vão aproveitar o "excedente" de stock de poupança acumulada durante o período de confinamento".
Para o primeiro caso, a consultora tem uma resposta mais certeira: a recuperação vai ser muito diferente entre os setores de atividade com uma retoma mais rápida na restauração e serviços de transporte e mais lenta na hotelaria e entretenimento.
Em relação à poupança, a consultora britânica indica que rapidamente retomará as habituais taxas, apesar de identificar "nuances", dependendo dos rendimentos dos agregados (as famílias mais ricas conseguiram poupar mais). "Os dados de alta frequência sugerem que as taxas de poupança podem normalizar rapidamente à medida que o consumo recupera graças ao progresso de vacinação", refere. Estes dados são consistentes com as previsões do Banco de Portugal e do Banco Central Europeu.