Ex-ministro das Finanças Braga de Macedo despede-se do ensino

Jorge Braga de Macedo, professor Catedrático da Universidade Nova, deu hoje a sua última aula. Diagrama de Krugman-Macedo, com já algum tempo, adapta-se, também, aos dias de hoje.
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A última aula do professor Jorge Braga de Macedo, ex-ministro das Finanças, decorreu na Reitoria da Universidade Nova, em Lisboa. Mais do que uma aula, a sessão traduziu-se num recordar de eventos da sua carreira, a sua influência em personalidades como Miguel Faria e Castro, do Federal Reserve Bank of St. Louis ou Estela Barbot, International Senior Advisor na Roland Berger, e, inclusive, numa aula de história, onde se avaliou a evolução da situação portuguesa e a relação entre globalização e governação.

Nada melhor para avaliar o impacto da carreira de um economista do que analisar um dos seus modelos mais impactantes: o diagrama Krugman-Macedo. Foi o que Miguel Lebre de Freitas, da Nova SBE, e Miguel Faria e Castro fizeram. A especialização dos estudos no Estado Novo permitiu que Miguel Lebre de Freitas classificasse o desenvolvimento nacional durante esse período como "mitigado". "Foi uma experiência nos estreitos limites do possível". Isto porque o país atravessou um choque laboral que foi acompanhado por um choque de produtividade. Depois das políticas protecionistas o país passou para a abertura da economia, com o correspondente crescimento e convergência para valores "europeus". Aliás, como refere Miguel Lebre de Freitas, nos anos 80/90, Portugal tinha valores do PIB muito semelhante ao de outros países europeus.

No entanto, verifica-se que, com a entrada da CEE (mais tarde União Europeia) o país parou de convergir. Feitas as contas, o salário médio real em 1984 era muito mais baixo do que o salário médio real de 1964.

"Houve, de facto, um processo de convergência bastante acentuado até 1973, que foi interrompido até meados da década de 80, foi recuperado, num período curto, na década de 90, e, a partir dessa altura o país tem-se recusado a convergir", explica Miguel Lebre de Freitas.

Situação que levou a uma outra questão, abordada por Miguel Faria e Castro, tendo em conta a análise dos anos seguintes, com a presença da recessão e, inclusive, da troika: as vantagens e desvantagens de ter um salário fixado por decreto. Para Faria e Castro, a história (e o diagrama criado por Krugman-Macedo) provam que "não se pode estar a fixar salários por decreto, estes têm de acompanhar a produtividade". O economista afirma mesmo que "se aumentarmos os salários para além do que é sustentável pela produtividade temos de desvalorizar a marca".

Hoje fala-se muito de globalização. Mas, segundo Braga de Macedo, não só a globalização é diferente da industrialização, como, no século XVI houve uma globalização técnica. O professor também lembrou que, entre 1500 e 1800, o comércio externo representava apenas entre 2 a 10% do PIB mundial. Só quando, no final do século XIX, quando se deu a revolução industrial no Norte da Europa, é que o valor quase duplicou. As duas guerras mundiais travaram o crescimento. Hoje são os países emergentes quem mais sofre com a pandemia, as alterações climáticas e a guerra.

E depois há que analisar a relação entre governação e democracia. Para o professor, há uma relação positiva entre a democracia e a convergência. Braga de Macedo apontou ainda o trabalho sobre a qualidade da política económica através da complementaridade, feito por Joaquim Oliveira Martins. Trabalho que prova que as reformas contribuem para a boa governação. "A boa governação é tão boa quanto mais complementares forem as reformas", constata Braga de Macedo.

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