
As exportações de vinhos portugueses estão a crescer, mas sobretudo à custa do volume e não tanto de valor. Entre janeiro e agosto deste ano, os operadores venderam ao exterior 234 milhões de litros no valor de 618,7 milhões de euros, o que representa um crescimento de 9,2% em volume e de 2,8% em valor. O que significa que estamos a vender mais barato e, por isso, o preço médio por litro de vinho exportado caiu quase 6%, para 2,64 euros. Espanha é a principal surpresa: as exportações de vinho para o país vizinho mais do que triplicaram este ano, mas a preços muito baixos.
Para Espanha foram até agosto 20,3 milhões de litros de vinho, contra os 6,6 milhões do período homólogo. É um crescimento de 206,6%. Por este vinho, os operadores espanhóis pagaram 19,5 milhões de euros, mais 29,3% do que no mesmo período de 2023. Corresponde, grosso modo, a mais 5,5 milhões de euros. A questão é que o preço médio a que foi vendido este vinho, maioritariamente a granel, foi 55% abaixo do pago no ano passado. Ou seja, em média, o preço médio de venda para Espanha foi de 96 cêntimos por litro, contra os 2,12 euros de 2023.
E com isto Espanha subiu, este ano, ao top 3 dos maiores compradores de vinho português, ultrapassada apenas por França, para onde foram 22,5 milhões de litros e por Angola que, apesar de estar a comprar menos este ano, mantém o primeiro lugar do pódio em volume, com 24,2 milhões de litros. Mas até Angola paga melhor o vinho nacional, com um preço médio de 1,11 euros versus os 1,21 euros praticados no ano passado.
Refira-se que Espanha é o terceiro maior produtor mundial de vinho, a seguir a França e a Itália, mas a produção em 2023 foi a mais baixa dos últimos 20 anos. Mas Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, o organismo responsável pela promoção deste produto além-fronteiras, duvida que uma coisa esteja ligada à outra. “Espanha enfrenta os mesmos problemas que nós em termos de stocks. Há várias regiões espanholas com grandes problemas de excedentes”, refere.
Uma coisa é certa, do lado português alguém conseguiu vender grandes volumes e libertar espaço na adega, numa altura em que o excesso de vinho ameaçava a colheita deste ano. Nas regiões do Douro, Lisboa e Alentejo houve mesmo produtores que deixaram as uvas por colher na vinha, por não terem a quem vender o vinho.
Frederico Falcão reconhece que os tempos são de “turbulência” no setor, mas assegura que, do ponto de vista qualitativo, se espera que seja uma das melhores vindimas de que há memória. “Foi pena terem ficado uvas na vinha”, admite.
Já quanto aos dados globais das exportações, este responsável destaca que, retirado o efeito desta venda extraordinária para Espanha e retirados os dados das exportações de vinho do Porto, que estão em queda e cuja promoção não passa pela ViniPortugal, os números são “muito positivos”, na medida em que crescem 4,9% em volume e 5,8% em valor, para um total de 182,6 milhões de litros de vinho a 429,9 milhões de euros. Neste caso, o preço médio sobe ligeiramente face ao ano passado, com um acréscimo de dois cêntimos para 2,35 euros o litro. “Olhados os dados assim, a fotografia acaba por ser um bocadinho diferente”, sublinha.
Pela positiva, Frederico Falcão destaca a performance do mercado brasileiro, que cresce tanto em valor como em volume, e se assume já como o terceiro maior comprador de vinhos portugueses (o primeiro, sem considerar o vinho do Porto). “O Brasil está já a uma distância considerável do Reino Unido [58,7 milhões versus 44,6 milhões de euros] e ganha cada vez mais importância como mercado estratégico para Portugal”, frisa.
Positiva é, também, a inversão da Alemanha, que estava em queda e este ano volta a crescer tanto em volume e valor. Pela negativa, o comportamento do mercado britânico, que este ano cai a dois dígito, refletindo o efeito da antecipação de compras que os operadores ingleses fizeram no ano passado, antes da entrada em vigor de novos impostos sobre o álcool em agosto de 2023.