Sendo uma região muito dinâmica, o Alto Minho contribuiu de forma positiva para a melhoria da economia nacional na última década. Antes da pandemia ter desacelerado o crescimento português, esta área fronteiriça do norte estava a evoluir favoravelmente, sobretudo no que à internacionalização do seu tecido empresarial diz respeito. "Não só porque criou empresas a um ritmo superior à média nacional, ficando 25% acima, como registou um incremento no investimento empresarial quase no dobro na média do país e um crescimento das exportações em mais de 75%, isto nos últimos dez anos", explicou António Ramalho, CEO do Novo Banco, na abertura da sessão Portugal que Faz, que aconteceu nesta semana na Escola Superior Agrária, em Ponte de Lima.
Esta foi a décima segunda conferência realizada ao abrigo da iniciativa que o Novo Banco está a realizar por todo o país, em parceria com o Global Media Group, e que pretende ouvir de perto as dificuldades sentidas pelos empresários para assim procurar soluções à medida. Segundo o balanço feito por António Ramalho, destas 12 edições do roadshow - que mesmo em confinamento se manteve no terreno - já envolveu cerca de 50 associações nacionais, que deram a conhecer ao país as principais assimetrias desta crise que não afetou da mesma forma todas as atividade e todas as regiões. No debate, moderado por António José Gouveia, editor executivo do Jornal de Notícias, participaram, além de António Ramalho e de Carlos Andrade, economista-chefe do banco, Luís Ceia, presidente da CEVAL - Confederação Empresarial do Alto Minho, Carlos Rodrigues, presidente do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Armando Fontainhas, presidente da Adega Cooperativa Regional de Monção e ainda Portela Rosa, fundador da Vianapesca-OP - Cooperativa de Produtores de Peixe de Viana do Castelo.
Apesar do breve retrato inicial feito pelo CEO do Novo Banco, Carlos Andrade fez a sua já habitual análise pormenorizada do Alto Minho. Esta é uma região com um peso de 1,7% no PIB nacional, e na qual a indústria transformadora - com um peso de 43% - e o comércio dominam claramente a economia regional. Na indústria destaca-se a metalomecânica e o setor alimentar e bebidas, sendo que o cluster automóvel se traduz numa maior intensidade exportadora. O comércio foi uma das atividades mais penalizadas pelas restrições da pandemia e nesta zona foi duplamente penalizado pela falta dos consumidores da Galiza. "Até à pandemia o turismo registava um desempenho extremamente positivo, embora 61% das dormidas ainda tenham origem no mercado nacional. Ou seja, há ainda um potencial de desenvolvimento grande do turismo na região aproveitando-se as novas tendências do turismo de natureza e de sustentabilidade", explica Carlos Andrade. Como principais desafios aponta a demografia adversa, sendo esta uma região com população mais envelhecida do que a média nacional, e onde se notam alguns problemas de escassez de mão de obra qualificada.
O debate iniciou-se com a intervenção de Luís Ceia, presidente da CEVAL, que entende que a região tem crescido favoravelmente nos últimos anos, mas que muito está ainda por fazer, nomeadamente ao nível do crescimento demográfico e do rejuvenescimento da população. "A região tem evoluído positivamente e a taxa de cobertura das exportações está nos 142%, o que representa um superavit na balança comercial de bens. Temos feito um caminho assinalável neste território, mas há ainda muitos desafios pela frente", afirma. Entre esses desafios está a falta de mão de obra qualificada. "A região, até há bem pouco tempo, tinha um desemprego residual, e havia muita falta de mão de obra qualificada. Estar na fronteira tem algumas vantagens e permitiu que algumas empresas absorvessem mão de obra qualificada do lado de Espanha", explica o responsável. Revela ainda que a região tem uma oferta de 25 espaços de acolhimento empresarial, o que equivale a uma área de 700 campos de futebol. "Se anteriormente as empresas se instalavam à procura de mão de obra mais barata, a atratividade do território agora já não passa por aí, mas por ter melhores condições e porque os trabalhadores são cada vez mais qualificados e com estabilidade", diz.
Sobre esta questão, Carlos Rodrigues, presidente do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, entende que "tem havido cada vez mais necessidade de mão de obra qualificada devido ao desenvolvimento empresarial. Procuramos saber quais necessidades das empresas e adaptar a formação a essas necessidades", diz. E dá um exemplo: no próximo ano letivo vão abrir duas formações que foram sugeridas pelas próprias empresas. Uma delas, de biotecnologia, vai produzir vacinas para a covid-19 e não tinha pessoal qualificado para laborar. Em conjunto, foi desenvolvido um curso de dois anos para dar resposta a esta necessidade urgente.
Já o setor das pescas sofre com o envelhecimento da sua força de trabalho. Portela Rosa, fundador da Organização de Produtores Vianapesca relembra que o setor das pescas está envelhecido, com uma média de idade a chegar aos 55 anos, e debate-se igualmente com falta de profissionais. "Atravessamos imensas dificuldades em termos de pessoal e temos notado uma falta de interesse por parte dos jovens", afirma, dizendo que estão a recorrer a trabalho imigrante, nomeadamente da Indonésia. Um dos aspetos que em nada contribui para atrair jovens a esta atividade é o facto de não haver ordenado mínimo para os pescadores, reivindicação que este responsável faz há anos. Com a pandemia, a atividade da Vianapesca registou uma quebra de 17%, com embarcações paradas e com quebra de vendas para os restaurantes.
Quanto às exportações nesta região, Armando Fontainhas dá uma ajuda com o crescimento das vendas da Adega Cooperativa Regional de Monção nos mercados externos, que representam ainda pouco mais de 20%. Apesar da quebra de 12% sentida na faturação da companhia, as exportações cresceram 4% em 2020, com a aposta em novos mercados, como o dos Estados Unidos e o do Canadá. Armando Fontainhas esclarece que os vinhos verdes de toda a região exportam cerca de metade da sua produção - a casta Alvarinho tem boa reputação internacional e tem de ser aproveitada - mas o setor está a sofrer com o fecho do canal Horeca (hotéis, restauração e cafés), que, no mercado interno, ainda tem um peso significativo.
Quando questionados sobre o que pensam sobre o Plano de Recuperação e Resiliência, entregue esta semana em Bruxelas, todos os intervenientes neste debate foram unânimes em afirmar que concordam com ele, embora surjam algumas desconfianças em relação à eficácia da sua execução. "Penso que o plano foi bem desenhado. Agora vamos ver é a execução, que é geralmente onde falhamos. Espero que o rigor que houve no planeamento também exista na execução", alerta Luís Ceia.
Também Armando Fontainhas afirma ser "cético em relação ao tempo de execução. O plano é bom, mas devia ter mais verbas afetas às empresas e menos ao Estado. Penso que deveria haver maior simplificação do Estado, menos burocracia e menos duplicação de trabalho", diz. Já Portela Rosa afirma a propósito que "a verba para as pescas é ridícula, de 21 milhões de euros. Não sei o que vamos fazer com isso, quando a necessidade de inovação é enorme. Temos de ter embarcações com motores que poluam menos, que consumam menos, necessitamos ali de um olhar diferente para este setor porque tem sido sempre deixado ao abandono".
Quanto à questão da saída das moratórias, que a todos preocupa, António Ramalho diz que deve ser preparada agora para não se perder o bom trabalho feito no início da pandemia. "É central olhar para as moratórias de forma integrada, olhar setor a setor, região a região, empresa a empresa e olhar para a partilha de risco que tem de ser assumida. O assunto é para resolver agora e não em setembro. Resolver agora porque a grande virtude da moratória foi deixar aos gestores a capacidade de continuarem a gerir o negócio sem se preocuparem com o pagamento dos créditos. O que conseguimos com isso há um ano não vamos estragar agora" remata o CEO do Novo Banco.