Fábrica de Unicórnios. Startups brasileiras com porta aberta para a Europa

Programa “Scaleup: do Brasil para a Europa” tem como objetivo ampliar pontes e aproveitar conhecimento brasileiro nas áreas de inteligência artificial, saúde, educação e setor alimentar.
Gil Azevedo, diretor executivo da Unicorn Factory Lisboa. Fonte: Paulo Alexandrino / Global Imagens
Gil Azevedo, diretor executivo da Unicorn Factory Lisboa. Fonte: Paulo Alexandrino / Global Imagens
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A Unicorn Factory Lisboa, popularizada desde a sua criação como Fábrica de Unicórnios, está a desenvolver uma iniciativa que pretende trazer para a capital startups brasileiras e abrir-lhes as portas do Velho Continente.

A “Scaleup: do Brasil para a Europa” é uma competição vocacionada para empresas tecnológicas em fase de crescimento com operação no Brasil. Apelidadas de scaleups, estas empresas costumam caracterizar-se por ter receitas a crescer 20% ao ano, no mínimo, durante três anos consecutivos. As inscrições estão abertas até 15 de setembro para as scaleups em estágio pós-seed até série B. Além do crescimento da faturação, as scaleups têm de demonstrar que o negócio desenvolvido tem potencial para uma expansão europeia, estando ainda entre os critérios de seleção a qualidade e estrutura da equipa e a qualidade do pitch deck (apresentação da ideia de negócios).

A empresa vencedora terá acesso a um stand na edição portuguesa de 2024 da Web Summit, com uma viagem de ida e volta para uma pessoa incluída, e entrada no programa de “Scaling Up” da Fábrica de Unicórnios, avaliado em mais de 125 mil reais (cerca de 20 mil euros). O programa inclui mentoria e acesso a uma rede de investidores e parceiros de negócios da Unicorn Factory, que podem apoiar a internacionalização da empresa.

Os segundos e terceiros lugares contarão com acesso ao programa “Launch in Lisbon”, que possibilita uma período de integração no ecossistema empresarial de Lisboa, para compreender o mercado e criar conexões estratégicas, e ainda um bilhete de acesso à Web Summit.

Ao Dinheiro Vivo, o diretor executivo da Unicorn Factory, Gil Azevedo, explica que a competição procura “conectar scaleups brasileiras ao ecossistema de inovação de Lisboa e da Europa”. “O programa alinha-se com a nossa visão de alargar o ecossistema empreendedor português, estabelecendo canais de cooperação com outros países e atraindo empresas internacionais de elevado potencial, que se poderão expandir em Lisboa”.

“Este programa direcionado a scaleups brasileiras oferece uma porta de entrada no mercado europeu a partir de Lisboa, e com isto iremos dinamizar o ecossistema nacional em áreas de elevado crescimento, como a inteligência artificial, saúde, educação e setor alimentar, áreas em que o Brasil se destaca a nível internacional com projetos inovadores”, acrescenta Gil Azevedo.

“Queremos reforçar a posição de Lisboa como um dos centros líderes de inovação para a Europa, e este tipo de iniciativas vêm oferecer mais visibilidade ao mercado português, com o crescente interesse de várias empresas que querem integrar os nossos programas”, refere ainda o responsável da Fábrica de Unicórnios.

Gil Azevedo sublinha que há “muitas empresas portuguesas com operação no Brasil”, beneficiando da “proximidade” histórica que existe entre os dois países. Ora, “ampliar essa ponte” para atrair empresas brasileiras para Lisboa pode ser uma vantagem competitiva para o ecossistema de inovação nacional, uma vez que a “cultura similar é uma grande vantagem que Portugal oferece a estas organizações, mas há ainda outros aspetos que tornam a cidade atrativa para empresas em crescimento, como o caso da mão-de-obra altamente qualificada, a segurança, a qualidade de vida e a forte aposta na transição digital”.

Modelo lisboeta chega aos EUA e é procurado por franceses, espanhóis e finlandeses

O Brasil é o foco desta iniciativa, mas há interesse em estabelecer pontes com outras geografias. "O trabalho que temos vindo a desenvolver permite que outros mercados comecem a percecionar o centro de inovação que está a ganhar escala em Lisboa e, por isso, temos como objetivo expandir a outras geografias", afirma o diretor executivo da Fábrica de Unicórnios.

"Neste momento, temos interesse de vários países que querem replicar o nosso modelo de atuação. A título de exemplo desta aposta de sinergias com vários países, a Unicorn Factory Lisboa organizou um evento em São Francisco, nos EUA, em março de 2024, para ligar os dois ecossistemas e está agora a desenvolver um programa de aceleração para startups na área da sustentabilidade e das cidades inteligentes, em conjunto com três outras cidades europeias: Marselha [França], Helsínquia [Finlândia] e San Sebastián [Espanha]", adianta.

Gil Azevedo enfatiza: "O ano de 2024 tem sido muito positivo no que diz respeito ao impacto das iniciativas lançadas e ao nosso crescente reconhecimento internacional através dos vários programasque desenvolvemos".

Doze "unicórnios" em dois anos

A Fábrica de Unicórnios, de acordo com os números mencionados peço gestor especialista no ecossistema de inovação nacional, já apoiou este ano 250 novas startups, sendo que metade são internacionais, "cinco vezes mais do que há apenas dois anos", quando a Unicorn Factory abriu portas.

O foco continua a ser a "incubação de startups numa fase inicial, apoio a scaleups em fase de expansão internacional, empreendedorismo jovem, parcerias internacionais e os hubs de inovação. Neste momento, além da iniciativa "Scaleup: do Brasil para a Europa", já foram lançadas duas novas edições do programa "Scaling Up", "com dezasseis novas scaleups que se juntaram às 24 empresas que participaram em edições anteriores, e que levantaram no total 309 milhões de euros em financiamento".

Gil Azevedo destaca também o prémio de inovação social "Lisboa Innovation for All", que serve para encontrar soluções nas áreas da saúde, educação e integração de migrantes, cujo prémio de 360 mil euros "é um dos maiores prémios europeus nestas áreas, bem como outras iniciativas "relacionadas com o empreendedorismo jovem, em que se alcançou mais de mil jovens"

.O raio de ação da Fábrica de Unicórnios inclui, ainda, o GamingHub e o Web3Hub e, no âmbito dos hubs de inovação, Gil Azevedo assegura que será integrado até ao final do ano o Hub de Inteligência Artificial e um outro hub "a anunciar em breve". Ambos "irão ser muito importantes na atração de inovação, talento,investimento e startups", defende o diretor-executivo da Fábrica de Unicórnios. O objetivo também passa por "criar comunidades verticais com escala internacional, que permitam desenvolver empresas de maior dimensão".

Quanto ao Beato Innovation District (antigo Hub Criativo do Beato), onde se localiza a Fábrica de Unicórnios, o gestor nota que desde 2022, ano em que abriu o ambicioso empreendimento, "foram criados mais de mil postos de trabalho". "E estamos a trabalhar no sentido de receber mais parceiros paraimpulsionar o espaço", comenta.

O país "tem tido uma notoriedade crescente na área do empreendedorismo e inovação" e isso tem gerado "um crescimento de empresas internacionais que procuram o país para estabelecer as suas operações". O responsável argumenta que, "nos últimos dois anos, Lisboa atraiu 12 unicórnios [startups avaliadas em mil milhões de dólares, no mínimo] que anunciaram mais de 14 mil postos de trabalho".

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