A falta de dinheiro está a levar um maior número de famílias a optar por funerais mais baratos e a recorrer ao pagamento a prestações, cortando em extras como o anúncio no jornal, a música ou as flores.
"Temos reparado que as pessoas ponderam com mais cuidado as suas decisões. Há mais cuidado sobre o que vão gastar no funeral. No entanto, não descuram a cerimónia, sabendo que se trata de uma última homenagem que se faz ao ente querido e que é irrepetível", afirmou Paulo Carreira, diretor comercial da Servilusa, a maior agência funerária em Portugal.
Para os clientes que consideram "preponderante o fator preço", a empresa investiu há três anos nos funerais de baixo custo ('low cost').
O funeral 'low cost' "é um funeral tradicional, onde alguns dos serviços complementares - que numa situação económica normal a pessoa poderia escolher - não são requeridos, porque entende que não são o principal, face ao contexto em que vive".
Exemplos do que pode ficar de fora para um funeral mais económico são as flores, o anúncio no jornal, a lápide no cemitério, o conforto de quem participa no velório, o 'minibus' para levar os familiares até ao cemitério, ou a música durante a cerimónia.
"Nós temos tido mais serviços de baixo custo. Não acontece em detrimento dos outros tipos de funeral, mas, como temos esta solução, temos tido mais clientes que a procuram", salientou.
Paulo Carreira destacou que não têm ficado mais funerais por pagar, mas, por outro lado, "agora existem mais pessoas a pedir facilidades de pagamento" a prestações.
Carlos Almeida, presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL), que representa funerárias mais pequenas, também nota que as pessoas estão a escolher cerimónias mais baratas do que aquelas que, noutras circunstâncias económicas, gostariam de dar ao ente querido.
"É sempre uma despesa que aparece inesperada. Somando isto à dificuldade em que vive a generalidade das pessoas, há com certeza um problema maior", referiu, destacando que não é nestas famílias que está o problema, mas "naquelas que fazem engalanamento da cerimónia e só no fim dizem que não conseguem pagar".
Carlos Almeida frisou que "há planos de pagamento de funerais dos mais variados possíveis", desde as funerárias que facilitam e esperam até que o cliente possa pagar a cerimónia com as prestações sociais a que tem direito até ao recurso a empréstimos junto de bancos e de entidades financeiras.
Carlos Almeida já havia admitido na semana passada que era impossível traçar uma média de preços de um funeral devido à disparidade de taxas cobradas pelos munícipios e nos alugueres dos espaços das igrejas, tendo dado, no entanto, um exemplo.
"Num funeral de alguém que tenha morrido na Amadora e que venha ser cremado a Lisboa, a taxa de cremação vai quase aos 400 euros, contra uma taxa de 120 euros que essa mesma câmara cobra a um residente. Se somarmos a esses 400 euros, 300 e algo da utilização da capela os custos são logo de cerca de 700 euros", afirmou.
O presidente da ANEL criticou então a diminuição do subsídio de morte m 2013 para os 1.200 euros, considerando que o valor vai impedir muitas famílias de realizar um funeral "habitual".
O único preço tabelado pelas funerárias - e obrigatório em todos os preçários das agências - é o funeral social, que, por cerca de 390 euros, pretende dar uma cerimónia minimamente digna aos entes queridos de quem não pode pagar um enterro.
Na quinta-feira será a última vez, até 2018, que se realiza em dia feriado a romaria aos cemitérios com que é assinalado o Dia de Todos os Santos.
A data é um dos dois feriados religiosos que desaparecem do calendário português, pelo menos durante cinco anos, na sequência do acordo entre o Governo e a Santa Sé, depois de ter sido subscrito na Concertação Social entre o Governo, associações patronais e a UGT, uma das duas centrais sindicais. O executivo admite rever a suspensão em 2018.