Farm Akademy. A semente que cultiva os agricultores do futuro

A Farm Akademy nasce com o propósito de combater o decréscimo de agricultores em Portugal, investindo em programas que despertem nos jovens o interesse pela agricultura, uma atividade cada vez mais votada ao abandono.
Sofia Oliveira (à direita), com os dois mentores do projeto, Rajarshi Saha e Bárbara Barros. Foto: D.R.
Sofia Oliveira (à direita), com os dois mentores do projeto, Rajarshi Saha e Bárbara Barros. Foto: D.R.
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Através de atividades práticas e jogos educativos, a startup procura formar a próxima geração de agricultores e gestores agrícolas, com foco em inovação e sustentabilidade.

Sofia Oliveira, uma das mentoras da iniciativa, partilha a origem do projeto com fervor: "Terminei o doutoramento em Ensino e Divulgação das Ciências em 2021, na Universidade de Porto, e foi durante o doutoramento que eu comecei a fazer este tipo de atividades mais práticas com alunos”. 

Ao observar o entusiasmo das crianças em atividades educativas sobre temas como a qualidade do solo, Sofia Oliveira e os dois outros mentores viram a oportunidade de criar algo maior. "Pensámos que, se calhar, isto é mesmo aquilo que falta para ajudar a resolver o problema que enfrentamos em Portugal, que é o grande decréscimo do número de agricultores," explica.

Assim nasceu a Farm Akademy, que aposta em atividades dinâmicas para cativar jovens estudantes. Um dos projetos mais destacados por Sofia Oliveira é um jogo de tabuleiro inspirado no Monopólio, com foco na gestão de quintas. "Queremos criar uma versão inspirada no Monopólio para ensinar os miúdos a gerir quintas e a explorar fontes de rendimento alternativas, como os créditos de carbono," explica. Outra atividade, o Mistério Agrícola, inspirada no jogo Cluedo, incentiva os jovens a identificar causas que podem arruinar uma cultura agrícola, estimulando o pensamento crítico e a resolução de problemas.

A Farm Akademy oferece um leque diversificado de atividades, desde projetos práticos a jogos e desafios. Entre eles, destacam-se a Escola de Drones e Agro-Bots, onde os alunos aprendem a aplicar tecnologia na agricultura, e jogos como o Agropólis - Império Agrícola, que ensina gestão agrícola de forma interativa. Além disso, a aprendizagem baseada em projetos, como o TikTok Challenge e o Laboratório de Inovação Agrícola, incentiva os alunos a desenvolver soluções criativas para problemas reais na agricultura. Atividades como "O teu solo é de qualidade?" e o "Consultório Agrícola" promovem a investigação e análise crítica entre os jovens.

A adesão às iniciativas da startup é feita através da escolha de diferentes modalidades, como a subscrição anual ou a escolha de atividades avulsas. No plano anual, as atividades curriculares ocorrem uma vez por mês, e as extracurriculares, duas vezes por mês. Já as atividades avulsas permitem a seleção de atividades específicas, consoante as suas necessidades. Há também a possibilidade de marcar reuniões para personalizar a implementação das atividades.

O problema da redução do número de agricultores em Portugal é destacado pela startup, que sublinha no seu site que "nos últimos 30 anos, o número de agricultores em Portugal decreceu 42%”. Uma mensagem em jeito de apelo urgente para destacar a importância de iniciativas como a Farm Akademy. E, para conseguir aliciar os mais jovens - e embora ainda seja uma empresa recente - a Farm Akademy já tem um plano estruturado para impactar alunos desde o primeiro até o décimo segundo ano, começando pelos estudantes do terceiro ao sétimo ano. "A nossa visão é, idealmente, visitar todas as turmas das escolas rurais uma vez por mês," afirma a responsável, sublinhando a importância do acompanhamento contínuo, por forma a manter os mais novos interessados.

A startup tem recebido um feedback muito positivo, com várias empresas interessadas em patrocinar o projeto. "Estamos em contactos com parceiros pedagógicos para apoio no desenvolvimento técnico da parte agrícola," revela Sofia Oliveira, sublinhando a relevância de contar com parceiros especializados para enriquecer a experiência educativa. A startup tem também participado em concursos de empreendedorismo, destacando-se no Arrisca C, da Universidade de Coimbra, onde conquistou o segundo lugar na categoria de inovação social.

Os desafios são muitos, mas Sofia Oliveira e a sua equipa, composta pelo marido que é o responsável pela gestão de operações, e por uma estudante na área de educação, estão determinados a superar todos os obstáculos. "Estou no Bora Mulheres e são muito interessantes as partilhas porque todas nós temos negócios querem causar impacto. Um dos problemas que estamos a ter é na definição de preço. Queremos todas vender barato demais porque queremos é ter impacto. Então, esse é o principal problema que nós temos a ter na Farm Akademy", admite a gestora, explicando que é imperativo um ajuste de preços. “Porque um negócio tem de ser rentável para ser negócio. Mas é um problema nosso e de muitas das minhas colegas. Queremos ter impacto, mas o dinheiro nunca pode ser esquecido”.

Para o futuro, Sofia Oliveira antecipa a expansão da Farm Akademy por todo o país e até para Espanha: "Cinco anos após o piloto, espero estar de norte a sul de Portugal e, quem sabe, a começar em Espanha", ambiciona, dizendo que um dos vários projetos que pensa levar a cabo pode passar por ter “uma pequena escola Farm Akademy em cada distrito, para dar apoio, por exemplo, às escolas locais”.

Com uma abordagem inovadora e um foco no ensino prático, a Farm Akademy promete cultivar mais do que plantas – promete cultivar futuros agricultores.

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